sábado, 14 de abril de 2012

Elegia

Elegia

Caetano Veloso

Composição: Augusto de Campos / Péricles Cavalcanti
Deixa que minha mão errante adentre
atrás, na frente, em cima, em baixo, entre


Minha América, minha terra à vista
Reino de paz se um homem só a conquista


Minha mina preciosa, meu império
Feliz de quem penetre o teu mistério


Liberto-me ficando teu escravo
Onde cai minha mão, meu selo gravo


Nudez total: todo prazer provém do corpo
(Como a alma sem corpo) sem vestes


Como encadernação vistosa
Feita para iletrados, a mulher se enfeita


Mas ela é um livro místico e somente
A alguns a que tal graça se consente
É dado lê-la

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Êxtase no Pantanal

 
Êxtase no Pantanal


O Pantanal é a porta do prazer
Lá há sexualidade é livre
Bicho do chão entrelaçam-se nos
Troncos das árvores
Com movimentos lentos de pura sedução
A enxurrada adentra na terra seca e
Essa penetração rápida
Faz a terra sorrir e florescer
Os bois sentem o aroma da libido das vacas
Elas fazem charme
Mas aos poucos entregam-se na pureza do ato
As araras gritam quando nutrem
As suas necessidades
Os tuiuiús excitam-se no gozo do vôo
A onça pintada lambuza-se no mato
E toda molhada satisfaz o seu instinto de fêmea
O Pantanal vive em êxtase!
Êxtase! Êxtase! Êxtase!


Poetisa de Gaia

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Tua Presença Morena


A Tua Presença Morena

Caetano Veloso

A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e atualiza a minha presença
A tua presença
Envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
A tua presença
É negra, negra, negra
Negra, negra, negra
Negra, negra, negra
A tua presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença
Se espalha no campo derrubando as cercas
A tua presença
É tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença
Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza
A tua presença
Mantém sempre teso o arco da promessa
A tua presença
Morena, morena, morena
Morena, morena, morena
Morena

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Explicação do coração

Explicação do coração


O que eu sinto por você
Confesso não sei explicar
Penso em você assim que acordo
Sinto não tê-lo ao me deitar

É apenas uma paixão de momento?
Ou um amor que entra sem pedir licença?
Pergunto então ao coração
Mas ele também não sabe a diferença

Insisto para ter uma explicação
Mas o coração não quer me antecipar
Diz que vai usar comparações
Eu é que terei que “me virar”!

Da paixão sabe apenas o notório:
É passageiro como o fogo de álcool
É do sentimento maior o acessório
Funciona bem embaixo do lençol
Mas no dia-a-dia não é satisfatório

Diz ser o amor um fogo à lenha
Desse sentimento é um defensor
O fogo que não se apaga ou diminui com a ventania
Pode levar o tempo que for

Analisando o que diz o coração
Que buscou com primor os sentimentos comparar
O que mais posso dizer?
Não há mais o que explicar!

Confirmo o que o coração concluiu
Agora eu finalmente posso crer
Não é o fogo de álcool que eu sinto
É fogo à lenha que sinto por você.


Clivia Filgueiras

terça-feira, 10 de abril de 2012

Soneto do Amor na Maturidade

Soneto do Amor na Maturidade

Rodolfo Pamplona Filho

Sorte da pessoa,
que encontra, na boa,
a incrível oportunidade
de um amor na maturidade.

Não é qualquer ser
que pode se orgulhar
de finalmente conhecer
a alegria no compartilhar

sonhos, a mesa,
a cama e o afeto!
É mais do que certo:

é a linda certeza
de que, em qualquer idade,
se encontra a felicidade.

Salvador, 14 de agosto de 2011.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Diamante

Diamante

Raro, negro, sujo de terra
Grande, bruto, sem forma
Encontro de uma mão
Brilhante
Espanto
Transformação...
Raro, negro cintilante
Grande, ofuscante
Lapidado
Mas o homem
Não vende
É dele a jóia.

Jácy Laranjeira

domingo, 8 de abril de 2012

Orgasmo!

Orgasmo!

Teca Poetisa de Gaia

Fico sentada admirando você comendo tomate
Até o seu paladar é excêntrico
Esse tomate perfeitamente vermelho!
Seus lábios abrem lentamente, 
Sua língua lambe o tomate como se fosse um corpo 
Sem forma perfeita, mais um corpo de sedução
Fico arrepiada
Seu olhar procura a minha boca
Permaneço estática
Morde o tomate como se mordesse minha nuca
Solto um gemido de prazer
Você sorri, com a certeza do meu êxtase
Lambe cada vez mais o que resta dessa fruta
E cada lambida, fico mais excitada
Meus olhos observam cada movimento da sua boca vermelha
Estou vibrando, não consigo ficar sentada quieta
Suavemente sinto que estou mais perto do que esperava
Meus gemidos estão mais acelerados
Lambe os dedos e não consigo me conter
Um grito suave ecoa 
Atinjo o orgasmo
O gozo é pleno
A sedução é louca!
Escrito em 2006. Baseado no filme um Copo de Cólera