segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sofre, poeta!


Ricardo Albuquerque

Oh poeta, que a inexpugnável força de Elohim continue sendo a sustentação do teu verso, mesmo que em oceano bravio estejas imerso...

Sofre, poeta!

Por entre as grades da masmorra, que detém-te, sopra palavras ao vento, poesias em celeste vôo, aptas a pacificar corações...

Sofre, poeta!

Suporta as sombras do teu claustro, feito um beneditino, resignado à sina que lhe foi oferecida, ou, sem que ele saiba, imposta. Talvez a resignação do beneditino seja uma pena imposta, celeste, que ele mesmo julga ter sido dele a escolha, mas a imposição vem do alto: Faça-te em verso e prosa no teu claustro...

Sofre, poeta!

Lança o teu pão sobre as águas, e, depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete ou setecentos, a sua poesia, que será como o cesto de pães e de peixes, no milagre da multiplicação, sempre haverá pão ao alcance das tuas mãos, e peixe na altura do teu coração, então, pão e peixe far-se-ão poesia em ti. Não a deixe...

Sofre, poeta!

A poesia alada, produzida pela sua alma, parturiente, e que se faz elixir medicamentoso a todos os que te ouvem ou te lêem, esta mesma poesia, será o teu pão, o teu chão, regressando a ti, curando-te, então, fazendo-te são...

Sofre, poeta!

És o vaso de alabastro. O emplastro que sara dores, de um mundo, já, tão senil. Sê juvenil. Carrega o teu cântaro. O cântaro das suas inspirações. Suporta o peso. Jamais te verás ileso: de dor e nem de amor. És poeta. Reparte...

Sofre, poeta

2 comentários:

  1. Sabes, Poeta?
    Que há outra poesia?
    A que espalha,
    além do pão, a alegria
    A que acalenta a luta
    A que desperta
    A que eleva o verso
    contra a força bruta
    A que liberta

    Sabes poeta para que serve a Poesia?
    Para tudo, e com paixão
    Mas, desculpa, para emplastro, não!

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