Fardo
Malu Casado

Depois de tantos anos,
ainda ouço as palavras:
enfado, saco, porre...
Gritando em meus ouvidos
como tambores.
Transfiro a tristeza, a raiva
para o meu corpo,
que me corta, engorda...
Não me olha:
delira...
Acha que verá um monstro!

Tenho palavras.
Nada é mais rico,
mais triste,
mais forte,
mais bonito,
e irritante,
que as palavras...
E eu as temo
mas teimo e tolero
com tédio...
Eu, meu próprio fardo!

É urgente uma reação!
Uma posição de vítima
não combina mais
e, como sei,
aparece o incômodo
e a impaciência...
O corpo e a mente pedem
providência.

Eu?
Impaciento-me com a covardia,
com a paralisia...
Queria, ao menos, não ser
fardo, não pesar...