terça-feira, 31 de julho de 2012

Sensação de Anonimato

Sensação de Anonimato

Rodolfo Pamplona Filho

Ficar sozinho na multidão,
sem ser reconhecido,
como apenas mais um peão
no tabuleiro vivido,
apenas observando
o que se passa na confusão,
em silêncio,
arrebatado pela admiração,
como se as palavras
fossem completamente inúteis
para transmitir
o estranho sentimento
de total isolamento,
em que viver o momento
é mero passatempo,
ansiando por um contato
que possa gerar, de fato,
alguma forma de conforto
em um espirito já morno,
cujo único retrato
é a sensação de anonimato.

Salvador, 11 de outubro de 2011.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sobre Ele

Uma pulseira de pérolas de água doce para adornar os seus braços de sereia(um moço me disse).
Sua pele é de mel e sol, cheira a canela e resguarda alvuras(me cantou um outro)
Quero a curva do seu queixo, a elegancia do pescoço,  repousar as mãos cansadas no topo de seus ombros macios(um deles me pediu).
Me morde com os seus dentes brancos, me cala a boca com o serpentear de sua lingua, nunca sorria para mim, porque eu não consigo ver o seu sorriso e seguir sob a terra(um outro me ordenou um dia).
Seus quadris são fruta madura, balançam como o vento no mar, hipinotizam a rua(disse um, um dia, envolvendo minha bunda com mãos decididas).
Mas se para Ele eu não sou bonita, quebro o espelho, raspo a cabeça, cego de chorar e ensurdeço, para nunca mais ouvir.


Beatriz A.M

domingo, 29 de julho de 2012

Resiliência

Resiliência

Rodolfo Pamplona Filho

É preciso
Gentileza
Nobreza
Compreensão
Atenção

É preciso
Amor incomensurável
Carinho inesgotável
Gratidão inestimável
Dedicação interminável

É preciso
Receber o porvir
Resistir
Reagir
Reconstruir

É preciso
Decência
Obediência
Paciência
Insistência

É preciso
Resiliência

Salvador, 11 de outubro de 2011.

sábado, 28 de julho de 2012

Irmandade

Irmandade
Octavio Paz
Homenagem a Claudio Ptolomeo

Sou homem: duro pouco
E é enorme a noite.
Mas olho para cima:
As estrelas escrevem.
Sem entender, compreendo:
Também fui escrito
E neste mesmo instante
Alguém me soletra.

Capturado em http://www.releituras.com/opaz_menu.asp, no dia 08/09/11.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Soneto da Compreensão

Soneto da Compreensão

Rodolfo Pamplona Filho

O que custa, sinceramente,
olhar com os olhos dos outros,
sentir a apreensão alheia
e dividir as dores vividas?

Custa o inestimável preço
da coragem de sair do casulo,
descobrir um novo mundo,
saber existir algo oculto.

Eu quero beleza do riso inesperado,
da lágrima e choro compartilhado,
da solidariedade sem explicação.

Viver de verdade é não ser algoz:
nada é de pedra entre nós,
salvo a indestrutível compreensão.

Salvador, 11 de outubro de 2011.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Esquece...

 
Esquece...

Esquece
de tudo,
desses jornais de ontem,
do mofo das palavras
embriagadas
em botequins noturnos
e descobre,
em tua completa ida,
que de pascácio és pouco
quando se sonha
e quando se tem
os outros.
 
Esquece
e descobre
que o azul
deste marcéu,
a passear tuas vistas,
é a doce alma da vida
a te solicitar sorrisos...


Germano Viana Xavier,nascido na Chapada Diamantina, publicado na obra Clube de CArteado-2006.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sobre o Ato de Cultuar

Sobre o Ato de Cultuar

Rodolfo Pamplona Filho

Será que há uma mínima pista
do mistério que envolve os seus
seguidores fiéis de um artista,
de um político ou um Deus?

A idolatria ou fascinação
é de tamanha proporção
que não faz diferença
qual é o motivo da crença:

o encantamento estético,
um projeto técnico ou ético
ou a esperança da salvação,
na busca visceral por redenção.

Embora em qualquer lugar
se possa exercitar o louvar,
há sempre um lugar para tal ato,
seja um templo, palácio ou teatro.

Somente as suas canções
merecem ser entoadas,
como se outras versões
devessem ser rejeitadas...

E suas palavras impõem respeito,
proporcionando ordens ou prazer,
seja "Aleluia", "Eu Prometo",
"Toca Raul" ou "Bota pra fuder"...

Mas, ao contrário do que se pensa,
cultuar não é um problema,
desde que se saiba o que se avença,
para não cair em um velho esquema

de ser mera bucha de canhão,
vitima inocente de manipulação,
por quem quer apenas dominar
o que você tem a lhe dar:

sua vida, sua alma ou seu dinheiro,
doando-se por inteiro,
não, infelizmente, para seu bem,
mas para o deleite de alguém

que nem acredita no que você crê,
mas faz questão de parecer
que está além do que se vê,
sonhando pelo que ainda há de ser...

Por isso, pratique o seu culto,
da forma que lhe soar normal,
não cedendo ao interesse oculto
de pouco valer seu gosto pessoal...

... e seja feliz...

Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2011.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Despedida do TREMA

Despedida do TREMA

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüentas anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disse que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.
Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, "Kkk" pra cá, "www" pra lá.
Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Che ga de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...
Nós nos veremos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.
Adeus,
Trema.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sobre um aprazível por do sol

Sobre um aprazível por do sol

Rodolfo Pamplona Filho

Qual é o sentido de parar
para simplesmente admirar
o instante perfeito do por do sol?
Ver o que todos vêm e não percebem
Guardar o que nem todos captam
Entender o que ninguém apreende

O por do sol
é mais do que
um horário de crepúsculo:
é a intensidade de um momento,
é o cessar de todo lamento,
é a força de um movimento..

Há muitas formas
e diversos ângulos
de se ver um por do sol:
tentando descrever o indizível,
testemunhando o incrível,
descobrindo o aprazível...

É preciso sentir a luz,
compreender o que seduz
e descobrir o que induz
a treinar um novo olhar,
acelerar o raciocinar
e viver para fotografar...

Rio de Janeiro, no Restaurante “Aprazível”, 09 de outubro de 2011.

domingo, 22 de julho de 2012

Proposta de Amor Eterno

Proposta de Amor Eterno

Rodolfo Pamplona Filho

Quero fazer uma promessa
de encontrar a felicidade,
registrando-a na pele
como uma linda tatuagem,
marcada a ferro e fogo,
em carne viva e pulsante,
como nunca feito antes.

É a proposta definitiva
de um amor fortíssimo,
eterno e entregue,
que não vai deixar você
nunca mais se sentir
sem o arrebatamento
que faz a vida valer a pena.

Desejo poder levar você
aonde ninguém mais levou...
Quero ensinar o poder
do mais puro e sincero amor...
Você vai aprender a ser amado
com uma força tão intensa,
como ninguém amou até então!

Preciso fazer você entender
o quanto é lindo, fisicamente
(porque a beleza da sua alma,
você já conhece definitivamente).
Quero ser a amiga, a companheira,
a amante gostosa, fogosa parceira,
doida de tesão por seu cheiro...

Serei a mulher, a aluna, a inspiração que só dá amor, prazer, emoção.
Eu quero ser a cura efetiva
para os males do seu coração,
o aconchego da sua atávica solidão, seu divertimento, sua leveza,
sua sina, sua única certeza.

Porque é isso que você merece ter...
E é o que eu tenho para dar...
Esta é uma proposta para valer,
sem prazo para expirar...
Por isso, depois de tudo discorrer,
somente me cabe perguntar:
você me aceita assim?

New York, 15 de setembro de 2011.

sábado, 21 de julho de 2012

O Papel na Peça da Vida

O Papel na Peça da Vida

Rodolfo Pamplona Filho

Shakespeare disse que
todo o mundo é um palco
e que todos os seres humanos
são atores desta peça...

Só que nem todos querem ser
e atuar como protagonista,
porque a cena exige coadjuvantes
e até mesmo alguns figurantes,

já que o hoje não cede espaço
para amadores e principiantes,
e o universo não conspira o bem, como se pensava antes.

Mas isso não deve reprimir
o que cada um carrega em si
como manifestação de sua arte,
a mostrar em todo parte

que o script não precisa ser assim
e é possível sempre dar uma mexida,
já que você é ator principal, sim,
pelo menos, da peça de sua vida!

Brasília, 14 de outubro de 2011.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Aos Presentes e Futuros Amigos

Aos Presentes e Futuros Amigos 
A amizade não é coisa pueril, de criança
Ela Permite a troca de experiências e esperanças.
Belos gestos e palavras, quando vindos do coração
Só podem trazer, nos amigos, fortes emoções.
 
É coisa divina, abençoada.
Por isto deve ser cultivada.
Manter ou fazer um amigo, é ouro
A ser guardado no coração, igual tesouro.
 
A qualquer momento podemos precisar
Sabendo, de antemão, que ele lá vai estar
Sempre pronto a ajudar, a dar um alento.
 
Para se manter e fazer amizades
Devemos empenhar talento.
O que tento, com criatividade.
 
 
(Paulo Basílio - 20/07/2011)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Saiu numa edição do Financial Times

Saiu numa edição do Financial Times (maior jornal sobre economia
do mundo).
Uma jovem mulher escreveu um email para o jornal pedindo dicas sobre
"como arranjar um marido rico".
Contudo, mais inacreditável que o "pedido" da moça, foi a resposta
do editor do jornal que, muito inspirado, respondeu à mensagem, de
forma muito
bem fundamentada. E-mail da moça :
"Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos.
Sou bem articulada e tenho classe. Estou querendo me casar com alguém
que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem
que ganhe 500 mil ou mais neste jornal, ou alguma mulher casada com
alguém que ganhe isso e que possa me dar algumas dicas?
Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil,
mas não consigo passar disso. E 250 mil por ano não vão me fazer
morar em Central Park West.
Conheço uma mulher (da minha aula de ioga) que casou com um
banqueiro e vive em Tribeca! E ela não é tão bonita quanto eu, nem
é inteligente.
Então, o que ela fez que eu não fiz? Qual a estratégia
correta? Como eu chego ao nível dela?
(Raphaella S.)"
________________________________
Resposta do editor do jornal:
"Li sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente
no seu caso e fiz uma análise da situação.
Primeiramente, eu ganho mais de 500 mil por ano. Portanto,
não estou tomando o seu tempo a toa...
Isto posto, considero os fatos da seguinte forma: Visto da
perspectiva de um homem como eu (que tenho os requisitos que você
procura), o que você oferece é simplesmente um péssimo negócio.
Eis o porquê: deixando as firulas de lado, o que você
sugere é uma negociação simples, proposta clara, sem entrelinhas :
Você entra com sua beleza física e eu entro com o dinheiro. Mas tem
um problema.
Com toda certeza, com o tempo a sua beleza vai diminuir e um
dia acabar, ao contrário do meu dinheiro que, com o tempo,
continuará aumentando.
Assim, em termos econômicos, você é um ativo sofrendo
depreciação e eu sou um ativo rendendo dividendos. E você não
somente sofre depreciação, mas sofre uma depreciação progressiva,
ou seja, sempre aumenta!
Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda
pelos próximos 5 ou 10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano. E
no futuro, quando você se comparar com uma foto de hoje, verá que
virou um caco.
Isto é, hoje você está em 'alta', na época ideal de ser
vendida, mas não de ser comprada.
Usando o linguajar de Wall Street , quem a tiver hoje deve
mantê-la como 'trading position' (posição para comercializar) e
não como 'buy and hold' (compre e retenha), que é para o que você
se oferece...
Portanto, ainda em termos comerciais, casar (que é um 'buy
and hold') com você não é um bom negócio a médio/longo prazo! Mas
alugá-la, sim!
Assim, em termos sociais, um negócio razoável a se cogitar é
namorar.
Cogitar... Mas, já cogitando, e para certificar-me do quão
'articulada, com classe e maravilhosamente linda' seja você, eu, na
condição de provável futuro locatário dessa 'máquina', quero tão
somente o que é de praxe:
Fazer um 'test drive' antes de fechar o negócio...podemos
marcar?"
(Philip Stephens, associate editor of the Financial Times -
USA)"
OBS.: Não é a toa que o cara ganha mais de US$ 500.000 por ano

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Convicção da Condição de Cativo

Convicção da Condição de Cativo

Rodolfo Pamplona Filho


O que fazer quando
não se tem mais jeito?
Resignar-se
e aceitar a impossibilidade
ou tentar se rebelar
na luta por um espaço ao sol?

A resposta parece óbvia,
pois a visão média
do homem normal
é de que ninguém deve se conformar
em passar mal
como se não fosse possível
construir um outro final!

Todavia, isso não é pacífico,
pois não existe padrão
para o que carrega na mente
ou no coração...

Sabe o tipo de gente
que não muda
e não tenta mudar nada?
Pessoas, para quem
as coisas são
por que sempre foram feitas assim
e que esta é
a única forma de fazer?

É a postura
de que nada mais tem jeito,
de que a tristeza é a amiga do peito,
de que o mundo é eterna prisão,
de que há problemas sem solução...

Para eles, eu digo:
a vida pode ser melhor, meu amigo!
Para toda tempestade, há abrigo...
Livre-se, finalmente, da CCC:
Convicção da Condição de Cativo!


Salvador, 26 de maio de 2011.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

ADVOGADO TERMINANDO UM NAMORO

ADVOGADO TERMINANDO UM NAMORO LEIAM.  ESTE É O CARA Muito bem elaborada!

Prezada Otaviana de Albuquerque Pereira Lima da Silva e Souza,
Face aos acontecimentos de nosso relacionamento, venho por meio desta, na qualidade de homem que sou, apesar de VSa. não me deixar demonstrar, uma vez que não me foi permitido devassar vossa lascívia, retratar-me formalmente, de todos os termos até então empregados à sua pessoa, o que faço com supedâneo no que segue:

 
A) DA INICIAL MÁ-FÉ DE VOSSA SENHORIA:


1.1. CONSIDERANDO QUE nos conhecemos na balada e que nem precisei perguntar seu nome direito, para logo chegar te beijando;
1.2. CONSIDERANDO seu olhar de tarada enquanto dançava na pista esperando eu me aproximar;
1.3. CONSIDERANDO QUE com os beijos nervosos que trocamos naquela noite, V.Sa. me induziu a crer que logo estaríamos explorando nossos corpos, em incessante e incansável atividade sexual. Passei então, a me encontrar com Vossa Senhoria.

B)DOS PREJUÍZOS  EXPERIMENTADOS:
2.1. CONSIDERANDO QUE fomos ao cinema e fui eu que paguei as entradas, sem se falar no jantar após o filme;     
2.2. CONSIDERANDO QUE já levei Vossa Senhoria em boates das mais badaladas e caras, sendo certo que fui eu, de igual sorte, quem bancou os gastos;
2.3. CONSIDERANDO QUE até à praia já fomos juntos, sem que Vossa Senhoria gastasse um centavo sequer, eis que todos os gastos eram por mim experimentados, e que Vossa Senhoria não quis nem colocar biquíni alegando que estava ventando muito,
 
C) DAS RAZÕES DE SER DO PRESENTE:
3.1. CONSIDERANDO AINDA QUE até a presente data, após o longínquo prazo de duas semanas, Vossa Senhoria não me deixou tocar, sequer na sua panturrilha;
3.2. CONSIDERANDO QUE Vossa Senhoria ainda não me deixa encostar a mão nem na sua cintura com a alegaçãozinha barata de que sente cócegas,

DECIDO SOBRE NOSSO RELACIONAMENTO O SEGUINTE:
4.1. Vá até a mulher de vida airada que também é sua progenitora, pois eu não sou mais um ser humano do sexo masculino que usa calças curtas e a atividade sexual não é para mim um lazer, mas sim uma necessidade premente;      
4.2. Não me venha com 'colóquios flácidos para acalentar bovinos' (conversa mole pra boi dormir!) de que pensava que eu era diferente;
4.3. Saiba que vou te processar por me iludir aparentando ser mulher dos meus sonhos, e, na verdade, só me fez perder tempo, dinheiro e jogar elogios fora, além de me abalar emocionalmente.

Sinceramente, sem mais para o momento, fique com o meu cordial 'vá tomar no meio do olho do orifício rugoso e corrugado localizado na região infero-lombar de sua anatomia' que esse relacionamento já inflou o volume da minha bolsa escrotal!
Dou assim por encerrado o nosso relacionamento, nada mais subsistindo entre nós, salvo o dever de indenização pelos prejuízos causados.

domingo, 15 de julho de 2012

Soneto para Seus Cabelos

Soneto para Seus Cabelos

Rodolfo Pamplona Filho

Sinto um maravilhoso perfume
que me encanta e inebria,
trazendo, de repente, a lume
a minha louca fantasia

de ver seus cabelos correrem
como um rio negro caudaloso,
que faz meus nervos tremerem
em seu ritmo gostoso e impetuoso,

que desce as corredeiras
de suas costas altaneiras
e vem tranquilo repousar

em pontas tentadoras,
fascinantes e voadoras,
onde quero descansar...

Salvador, 05 de outubro de 2011.

sábado, 14 de julho de 2012

SONETO XXXIII

Soneto XXXIII

Amor, ahora nos vamos a la casa
donde la enredadera sube por las escalas:
antes que llegues tú llegó a tu dormitorio
el verano desnudo con pies de madreselva.

Nuestros besos errantes recorrieron el mundo:
Armenia, espesa gota de miel desenterrada,
Ceylán, paloma verde, y el Yang Tsé separando
con antigua paciencia los días de las noches.

Y ahora, bienamada, por el mar crepitante
volvemos como dos aves ciegas al muro,
al nido de la lejana primavera,

porque el amor no puede volar sin detenerse:
al muro o a las piedras del mar van nuestras vidas,
a nuestro territorio regresaron los besos.

(Pablo Neruda, 1904-1973, Chile
in "Cien sonetos de amor" (1959) Mediodía)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Burrice da Direita Conservadora


A Burrice da Direita Conservadora
Lembram de quando se podia fumar em locais públicos? Quando podíamos beber e dirigir? Tirávamos nossa habilitação junto ao órgão de trânsito em menos de um mês, e nossas crianças (ou nós mesmos) podiam andar todas amontoadas nos bancos de trás dos veículos. Em cada casa havia uma arma – era quase que um sinal de virilidade dos pais de família. As nossas avós eram nossas médicas, sempre receitando por conta própria os remédios mais adequados para cada doença – que elas mesmas diagnosticavam. E a abertura de poços artesianos era uma consequência natural para quem tinha uma casa com quintal – tanto quanto comprar um cachorro ou cultivar uma pequena horta.
Fato é que esses “maus hábitos” - e há ainda muitos outros que se extinguiram com o tempo – foram sendo suprimidos pela presença do Estado em nossas casas, em nossas famílias, enfim, em nossas vidas privadas. Em nome do “bem coletivo”, do “razoável”, da “civilização”, e sempre fundamentadas em um sem número de estatísticas, essas proibições e burocracias foram se imiscuindo em nossos cotidianos, até que, de repente, nos vimos amarrados a uma quantidade quase insuportável de procedimentos e normas – todas elas muito “bem-intencionadas”.
Mas quantas dessas normas realmente representaram uma melhoria na qualidade de vida do cidadão comum? Por acaso diminuíram os acidentes de trânsito? Ou a violência urbana? Ou melhoraram a saúde pública? A mim, parece que essas normas todas acabaram apenas – e esta é uma regra da atuação legislativa nos últimos anos – por facilitar a vida do Estado, ao jogar para o cidadão a responsabilidade e a culpa pela ineficiência contumaz dos nossos gestores públicos. É muito mais fácil sair criminalizando todo o tipo de conduta que possa gerar conflitos intersubjetivos (conflitos estes que são inerentes à vida em sociedade), focando sempre na prevenção, o que justifica quaisquer formas de proibição, burocratização, normatização, etc.
O cidadão comum se vê atropelado por um Estado que quer ditar seus movimentos (do cidadão) como um fantoche, dizendo o que deve comer, como deve se vestir, o que deve dizer e pensar, quais devem ser as suas formas de lazer, e seguimos nesse embalo alienante e desindividualizante. Deixamos de pensar o ser humano sob a ótica do livre arbítrio. Deixamos de enxergar o Estado exatamente como o que ele deveria ser desde o início, como a figura de Salomão na Bíblia: um juiz que dirime conflitos intersubjetivos, não criminalizando previamente todo e qualquer tipo de conduta, mas analisando as interseções entre a liberdade de um e de outro conflitantes.
Se a liberdade de um termina onde começa a do outro, então como fixar normas gerais que evitem que um cidadão adentre a esfera de liberdades do outro? Ora: focando a atuação legislativa na criação de instituições que acompanhem, identifiquem e mediem esses conflitos na prática. Ao invés de se reduzir a atuação legislativa a esse absurdo exercício de futurologia generalista, sempre buscando antever e prever os conflitos – e quase nunca conseguindo, que o digam as situações caóticas do trânsito, da segurança pública e da saúde no Brasil -, o Estado deve fortalecer os mecanismos de apuração dos fatos, de tutela jurisdicional, de persecução dos direitos individuais feridos pela má-fé, pela violência, por interesses políticos e econômicos diversos.
Estamos indo pelo caminho errado!
E é com muita tristeza que enxergo a outrora direita conservadora, ainda maioria no espectro das ideologias políticas brasileiras (e o crescimento da comunidade evangélica apenas reforça esse sentido da nossa História), se aliando de mãos dadas à esquerda marxista, para juntas negociarem quais dessas burocracias são prioritárias para implementação emergencial, quais devem ser ainda mais incrementadas, quais devem se tornar tipos penais (geralmente, para cada burocracia há um tipo penal novo), etc. Resumindo: o que o cidadão pode e não pode fazer em sua vida privada. É a ovelha se tornando amiga do lobo.
Ocorre que o DNA ético da direita conservadora de forma alguma tem a mesma origem do marxismo coletivista – aliás, é exatamente o oposto! A direita conservadora (enquanto parcela da nossa sociedade que elegia os representantes desse mesmo discurso, e não os representantes propriamente ditos) sempre foi formada por profissionais liberais, trabalhadores, pessoas que deram duro, vieram lá de baixo e formaram uma família e um patrimônio, naquilo que se convencionou chamar de “self-made man” (tradução livre: “homem que se fez por si só”).
Ressalve-se que, quando falo em direita conservadora, não estou me referindo a golpistas tiranos ou corruptos safados que se aliam e apoiam esses golpistas para tirarem proveitos econômicos da falta de fiscalização democrática (exatamente o que aconteceu durante a Ditadura Militar brasileira, de 64 a 85). Esses canalhas se utilizam do discurso que estiver em voga no momento – pode ser de direita ou de esquerda – para manipular as forças políticas e chegar ao poder. Fizeram isso na Argentina peronista, no Brasil Varguista, na Rússia stalinista, na Venezuela chavista, no Brasil lulista, na Itália fascista, e qualquer outra oportunidade em que sentiram cheiro de dinheiro sujo de sangue. Ocorre que, como a sociedade ocidental da época (século XX) ainda era muito influenciada pela moral católica/cristã, o discurso conservador era predominante e, logo, mais apto a arrebanhar as massas com a tríade “conquistas trabalhistas – moral coletivista – nacionalismo xenófobo”. E essa mesma fórmula serviu de modo equânime aos discursos e projetos proto-autoritários de direita e de esquerda, naquele que ficou conhecido como “o Século dos genocídios”.
Feita esta incursão histórico-conceitual, voltemos aos DNA´s ideológicos de ambos os lados.
As esquerdas marxista, trotskista, maoísta, leninista, etc, fundamentam a sua ética numa concepção coletivista de ser humano: o homem existe para o meio, é parte de um processo histórico de evolução contínua da sociedade da qual faz parte – e o comunismo/socialismo/anarquismo é o princípio, o meio e o fim almejados. Já a direita conservadora fundamenta sua ética nos valores que motivaram o homem a chegar até onde chegamos: a acumulação de riquezas, visando garantir a segurança da sua prole, e a proteção do seu ambiente familiar e dos seus valores metafísicos. Em suma: dinheiro é poder, e poder é segurança.
Ocorre que, justamente por ter um pensamento egoísta, a direita conservadora sempre teve um espectro ético mais afeito à ideia do livre arbítrio, do direito do homem a determinar seus próprios passos e cuidar da sua família - ainda que esse mesmo homem, sendo fraco e amoral como é da sua própria natureza, tenha caído inúmeras vezes na tentação de utilizar mecanismos sorrateiros e antidemocráticos para impor a sua moral privada como ética coletiva. Nesse sentido, é até compreensível a aliança que ocorre em nosso Congresso Nacional, para a extensão sem limites da abrangência material da atividade legislativa, entre direita conservadora e esquerda marxista.
Mas a burrice da direita conservadora é não perceber que os objetivos da esquerda marxista vão muito além de um projeto de lei ou de uma determinada política pública. A esquerda marxista tem como princípio e fim a inexistência do livre arbítrio, a submissão de toda escolha valorativa do ser humano a um ideal utilitarista coletivo, a uma balança entre prós e contras sob a ótica não do bem-estar individual (aferível, concreto), mas do coletivo (estipulado, abstrato). E a cada nova proibição de condutas cotidianas, transformando nossos pais de família e jovens em bandidos ou transgressores da lei, a direita conservadora está, por conta de uma visão tacanha, limitada e de curto prazo, entregando nossos cidadãos à marcha descontrolada da coletivização das nossas consciências. Exatamente o que objetiva a esquerda marxista.
Tenho a alternativa para barrar esse processo nefasto: o Projeto de Reestruturação do Ordenamento Jurídico Brasileiro. Compilaríamos todas as normas hoje em vigência no Brasil em apenas 03 códigos: a) Código de Direito Político e Administrativo, regulador das condutas dos nossos agentes públicos, dos mecanismos de representatividade democrática e dos procedimentos de gestão da coisa pública; b) Código de Direito Econômico, regulador dos conflitos intersubjetivos entre capital x trabalho e capital x capital, além dos tributos devidos ao Estado; c) Código de Direitos e Liberdades Civis, elencando todos os tipos penais, vinculando a pena à proporcionalidade gravosa da conduta (e não ao oba-oba momentâneo da opinião pública), e instituindo os instrumentos para efetivação das garantias constitucionais fundamentais (inclusive, e principalmente, a tutela jurisdicional).
Uma consequência natural desse processo de condensação do ordenamento jurídico brasileiro seria a eleição de prioridades normativas, ou seja, uma rigorosa seleção de quais imperativos éticos são realmente necessários, e quais são redundantes, abusivos, ou fruto de uma mera pressão da opinião pública diante da ineficiência do Estado em cumprir com o seu papel de regulador/provedor de liberdades.
O ordenamento jurídico brasileiro chegou a um nível tal que, se não implodirmos tudo e começarmos do zero – no caso, começarmos da Constituição Federal de 1988 -, correremos o sério risco de jamais interromper esse processo em curso, de cada vez mais intromissão do Estado nas nossas vidas privadas – e a Lei da Palmada é apenas o emblema deste “zeitgeist”. As cartas estão na mesa. O rei está nu. A direita conservadora continuará a se deixar usar pela esquerda marxista, como bucha de canhão para a perda ampla, gradual e irrestrita do livre arbítrio dos nossos cidadãos?
Eu já cansei de brigar sozinho...

Victor Castro Fernandes de Sousa, setembro de 2011, Brasília-DF.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Ornitorrinco e o Pensamento Científico

O Ornitorrinco e o Pensamento Científico

Rodolfo Pamplona Filho

O verificacionista
acha que é possível
atingir a verdade.
O cético acha, na vista,
não ser possível,
logo não há verdade
(ou nada há a alcançar...)
É preciso ser falsificacionista,
para aprender com o errar...

A falseabilidade é a base
para se aproximar da verdade.
Por isso, são pilares:
a prática da testabilidade,
o substrato da corroboração
(o desenvolvimento como tradição)
e a força da verossimilhança
como lógica provável que alcança
a proximidade da realidade.

Se não fizer isso,
confunde-se fé com ciência...
Se não fizer isso,
perde-se a esperança na crença...
Se não fizer isso,
despreza-se a consciência...
Se fizer isso,
pode-se a mente abrir...
Graças a isso,
o ornitorrinco pode existir...

Salvador, 04 de outubro de 2011.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Lembrando Carlos Gomes

Lembrando Carlos Gomes



 Me faltam palavras...

Para dizer...

Quão especial era você!

Seu “Guarani”... um sucesso

Mostrando o que viveu

O que sentiu...

Mas não demos o valor que mereceu.

Um dia então você partiu

Nos deixando saudade

E indo ficar com Deus.

Mostrou-nos que tudo podemos

É somente crer!

Porém a nossa homenagem é simples

Uma estátua no seu natural jeito de ser

Contudo nada se compara ao seu valor...

Antonio Carlos Gomes

Um verdadeiro e dedicado Compositor.


terça-feira, 10 de julho de 2012

Para você, filha.


Para você, filha.
Marco Antônio Garcia de Pinho

Neste breve período em que me tornei pai, aprendi que existe algodão de bolinha para vender. Aprendi que a data mais importante de minha vida passou a ser o 27 de setembro – numa noite; em uma terça-feira -; aprendi que é o dia de São Cosme & de São Damião; aprendi que eles foram médicos e que são os protetores das crianças... e de minha filha. Aprendi que a Primavera é a estação mais bela e que Libra agora é o signo mais belo. Aprendi que não precisa esperar sua filha crescer para começar a conversar com ela; e que não se deve ter medo de segurar a criança no colo, afinal ela não quebra.
Cristais quebram, até o aço quebra. Uma criança nos braços do pai não quebra.
Aprendi que não é necessário chamar a avó, a sogra, a vizinha, a enfermeira, a babá ou Jesus Cristo para dar o primeiro banho na sua filha. Nem o segundo, o terceiro, o quinto e até o quadragésimo banho. Você mesmo vai saber fazer isso melhor do que ninguém. Dar banho na sua filha passa a ser, de longe, o melhor acontecimento do dia. Com todo o cuidado, que é para a água não estar quente demais, prá não cair sabão nos olhos dela nem entrar água no ouvido. E, creia-me: não está, não cai, não entra.
Aprendi também que se você não estiver preparado para chorar muito, quase feito um bebê tão recém-nascido quanto sua filha, não coloque para tocar o Air on the G String’ de Bach.
Aprendi que babinha não era o que eu pensava que saía da boquinha dela e que o teste do pezinho não é feito no pé; aprendi que Moisés não é somente um personagem bíblico.
Aprendi que gosto muito mais de músicas infantis e de cantigas de ninar do que eu pensava.

Aprendi que uma dor qualquer na sua filha dói à décima potência em você.  
Que você sufoca se ela não respirar direito, e que seu estômago retorce quando ela tem uma cólica.
Aprendi que consigo ficar imóvel por mais de uma hora na posição mais incômoda do mundo, desde que minha filha esteja confortável em meus braços,
e que isto não incomode o sono dela.

Aprendi que um dia com uma criança que acabou de nascer tira mais a sua energia que se você passasse esse mesmo tempo carregando pedras nas costas para o alto de um morro.  Mas aprendi também que um minuto desse mesmo dia olhando para a sua filha lhe dá mais energia que ficar de férias um ano no paraíso.
Aprendi que, por mais que sua pediatra, seu oftalmologista, e toda a comunidade científica mundial esteja certa de que sua filha só verá seu rosto depois de um trimestre porque agora ela só vê vultos, e que o sorriso dela é puro reflexo... isto não importa.  Ela vê sim. Vê, e ri prá você. Muito.
Aprendi que gosto muito mais do quartinho lilás do que de qualquer danceteria ou barzinho; e que esse negócio de nunca vou trocar uma fralda só serve para quem nunca teve filho. E aprendi que a mãe reúne mais forças e coragem que um batalhão inteiro marchando para a guerra. Aprendi que o sono nunca mais será o mesmo.
Que a vida não será mais a mesma. Que as perspectivas não serão mais as mesmas. E que o mundo não será mais o mesmo.
O tempo não é mais seu: você almoça quando ela deixa, dorme quando ela permite,
sai quando ela adormece, e volta o mais rápido possível antes que ela acorde.
Aprendi que a gente é muito mais instinto que inteligência. e que a inteligência não tem nada, absolutamente nada a ver com o instinto.

Aprendi que não sou tão forte quanto imaginava e muito menos tão frágil quanto cheguei a pensar um dia. E que não existe um modelo de pai, por melhor pai que você tenha tido ou ainda tem a sorte de ter. E que aprender a ser pai é como aprender a andar de bicicleta: você tem de assumir todos os riscos - de cair, esfolar os cotovelos ou até perder um dente.

No final, valerá a pena ter superado o medo. Ter pedalado, e cambaleado para encontrar o equilíbrio.

Percebi que, por mais que você tenha vivido, viajado, rido, escutado, aprendido, enfim, por mais que você tenha realizado um monte de coisas, você fica com a nítida impressão de que nunca fez algo que chegasse aos pés minúsculos da sua filha.

Aprendi que não importa o que ela vai ser quando crescer: mergulhadora em Fernando de Noronha, fotógrafa em Los Angeles, cientista, advogada, médica ou bailarina.

Só importa que seja feliz,
e se realize naquilo que faz.

Aprendi que Kiana é muito mais que a Deusa da Lua, no dialeto havaiano;... que representa um outro elemento ao lado da água, do fogo, da terra e do ar, persas; ...e que é realmente divina e iluminada, como no inglês antigo.

Aprendi mais: que Kiana é minha vida e que minha vida é de Kiana.
E o mais importante: aprendi que não sei absolutamente nada sobre isso.  Nada.
E que não sou nada sem ela.
E aprendi que o futuro não se mede mais no calendário,
mas nos segundos que você supera a cada momento que esse milagre vai passando diante dos seus olhos.




27 de setembro de 2005,
nascimento de Kiana Leite Garcia de Pinho.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Lado Bom das Coisas

O Lado Bom das Coisas

Rodolfo Pamplona Filho

Na vida, tudo tem
seu lado bom e seu lado mal
e o mais importante, afinal,
é saber com que olhar
se vai tudo enfrentar.

Eu não vou lamentar
se não nos deixam ver
o segundo tempo do jogo:
eu agradeço por ter
visto o primeiro com você...

Também não choro
por termos perdido o vôo
e chegado atrasado no show,
mas, sim, fico feliz por ter ido
e visto seu esforço incontido...

Eu não reclamo, nem no íntimo,
por você não agüentar meu ritmo,
mas, sim, acho sensacional
a sua vontade descomunal
de tentar me acompanhar...

Não se trata de acomodação,
nem de vil subserviência,
mas, na verdade, é dar razão
à mais clara consciência
de que a paz é a melhor solução.

Eu não tenho tudo
que realmente gostaria
e, nem de longe,
o que eu poderia,
mas encontro felicidade

em compartilhar, de verdade,
uma relação de parceria,
que, longe de ser fria,
é um porto tranqüilo e seguro,
onde encontro um amor puro,

pois o lado bom das coisas
é não ter qualquer medo
de, sem perder o próprio zelo,
entregar-se totalmente,
vivendo apenas o presente.

Salvador, 30 de setembro de 2011.

domingo, 8 de julho de 2012

O Pavão e o Urubu

Há um conto milenar que é mais ou menos assim:
Certo dia, o pavão refletiu:
- Sou a ave mais bonita do mundo animal, tenho uma plumagem colorida e exuberante, porém nem voar eu posso, de modo a mostrar minha beleza. Feliz é o Urubu que é livre para voar para onde o vento o levar.
O urubu, por sua vez, também refletia no alto de uma árvore:
- Que infeliz ave sou eu, a mais feia de todo o reino animal e ainda tenho que voar e ser visto por todos, quem me dera ser belo e vistoso tal qual aquele Pavão.
Foi quando ambas as aves tiveram uma brilhante idéia em comum e se juntaram para discorrer sobre ela: cruzar-se seria ótimo para ambos, gerando um descendente que voasse como o Urubu e tivesse a graciosidade de um Pavão...
Então cruzaram... e daí nasceu o PERU QUE É FEIO PRA CACETE E NÃO VOA!!!

Moral da estória: "Se tá ruim, nem vem com gambiarra que piora!"

sábado, 7 de julho de 2012

OPOÉTICA

OPOÉTICA

Azrael


Manhãs ofegantes e cálidas
Após tardes de tempestades.
Sexo terno e matreiro,
O ruim feito bom à metade.
Futura analista com ex-marinheiro
Achando o Nirvana no chão de Gorazde...
Quem, afinal, pode ter matrimônio
Que resista sem alguns demônios?


                                 Luz e orvalho com trevas e fogo,
                                 Água com óleo, sal com resina.
                                 Por que resistir ao pendor
                                 De atirar o abismo à colina?
                                

Qual, afinal, o casamento
Que, padecendo e curando,
Não encontra o próprio alimento
No rio acima, remando?




Os teus cabelos perdidos,
O meu masoquismo em cutículas...
As tuas visões pessimistas,
O meu otimismo suicida...
Se não fôssemos tão diferentes
Terias meu toque de Midas?


Veja o relógio da sala,
Dezenove com dezenove...
A noite embriaga e me cala
Quando o vento sibila onde chove.
Tudo me torna mais seu,
Tudo o que é “mas...?” se remove.
E o meu Eu taciturno te ama
Como amei desde os meus vinte e nove...