Para você, filha.
Marco Antônio Garcia de Pinho
Neste breve período em que me tornei pai, aprendi que existe algodão de bolinha para vender. Aprendi que a data mais importante de minha vida passou a ser o 27 de setembro – numa noite; em uma terça-feira -; aprendi que é o dia de São Cosme & de São Damião; aprendi que eles foram médicos e que são os protetores das crianças... e de minha filha. Aprendi que a Primavera é a estação mais bela e que Libra agora é o signo mais belo. Aprendi que não precisa esperar sua filha crescer para começar a conversar com ela; e que não se deve ter medo de segurar a criança no colo, afinal ela não quebra.
Cristais quebram, até o aço quebra. Uma criança nos braços do pai não quebra.
Aprendi que não é necessário chamar a avó, a sogra, a vizinha, a enfermeira, a babá ou Jesus Cristo para dar o primeiro banho na sua filha. Nem o segundo, o terceiro, o quinto e até o quadragésimo banho. Você mesmo vai saber fazer isso melhor do que ninguém. Dar banho na sua filha passa a ser, de longe, o melhor acontecimento do dia. Com todo o cuidado, que é para a água não estar quente demais, prá não cair sabão nos olhos dela nem entrar água no ouvido. E, creia-me: não está, não cai, não entra.
Aprendi também que se você não estiver preparado para chorar muito, quase feito um bebê tão recém-nascido quanto sua filha, não coloque para tocar o Air on the G String’ de Bach.
Aprendi que babinha não era o que eu pensava que saía da boquinha dela e que o teste do pezinho não é feito no pé; aprendi que Moisés não é somente um personagem bíblico.
Aprendi que gosto muito mais de músicas infantis e de cantigas de ninar do que eu pensava.
Aprendi que uma dor qualquer na sua filha dói à décima potência em você.
Que você sufoca se ela não respirar direito, e que seu estômago retorce quando ela tem uma cólica.
Aprendi que consigo ficar imóvel por mais de uma hora na posição mais incômoda do mundo, desde que minha filha esteja confortável em meus braços,
e que isto não incomode o sono dela.
Aprendi que um dia com uma criança que acabou de nascer tira mais a sua energia que se você passasse esse mesmo tempo carregando pedras nas costas para o alto de um morro. Mas aprendi também que um minuto desse mesmo dia olhando para a sua filha lhe dá mais energia que ficar de férias um ano no paraíso.
Aprendi que, por mais que sua pediatra, seu oftalmologista, e toda a comunidade científica mundial esteja certa de que sua filha só verá seu rosto depois de um trimestre porque agora ela só vê vultos, e que o sorriso dela é puro reflexo... isto não importa. Ela vê sim. Vê, e ri prá você. Muito.
Aprendi que gosto muito mais do quartinho lilás do que de qualquer danceteria ou barzinho; e que esse negócio de nunca vou trocar uma fralda só serve para quem nunca teve filho. E aprendi que a mãe reúne mais forças e coragem que um batalhão inteiro marchando para a guerra. Aprendi que o sono nunca mais será o mesmo.
Que a vida não será mais a mesma. Que as perspectivas não serão mais as mesmas. E que o mundo não será mais o mesmo.
O tempo não é mais seu: você almoça quando ela deixa, dorme quando ela permite,
sai quando ela adormece, e volta o mais rápido possível antes que ela acorde.
Aprendi que a gente é muito mais instinto que inteligência. e que a inteligência não tem nada, absolutamente nada a ver com o instinto.
Aprendi que não sou tão forte quanto imaginava e muito menos tão frágil quanto cheguei a pensar um dia. E que não existe um modelo de pai, por melhor pai que você tenha tido ou ainda tem a sorte de ter. E que aprender a ser pai é como aprender a andar de bicicleta: você tem de assumir todos os riscos - de cair, esfolar os cotovelos ou até perder um dente.
No final, valerá a pena ter superado o medo. Ter pedalado, e cambaleado para encontrar o equilíbrio.
Percebi que, por mais que você tenha vivido, viajado, rido, escutado, aprendido, enfim, por mais que você tenha realizado um monte de coisas, você fica com a nítida impressão de que nunca fez algo que chegasse aos pés minúsculos da sua filha.
Aprendi que não importa o que ela vai ser quando crescer: mergulhadora em Fernando de Noronha , fotógrafa em Los Angeles, cientista, advogada, médica ou bailarina.
Só importa que seja feliz,
e se realize naquilo que faz.
Aprendi que Kiana é muito mais que a Deusa da Lua, no dialeto havaiano;... que representa um outro elemento ao lado da água, do fogo, da terra e do ar, persas; ...e que é realmente divina e iluminada, como no inglês antigo.
Aprendi mais: que Kiana é minha vida e que minha vida é de Kiana.
E o mais importante: aprendi que não sei absolutamente nada sobre isso. Nada.
E que não sou nada sem ela.
E aprendi que o futuro não se mede mais no calendário,
mas nos segundos que você supera a cada momento que esse milagre vai passando diante dos seus olhos.
27 de setembro de 2005,
nascimento de Kiana Leite Garcia de Pinho.
QUE BELO TEXTO. LINDA HISTORIA. AMO TUDO QUE SE REFERE A FILHOS. AMO QUANDO VEJO UM SENTIMENTO PATERNO SER TAO FESTEJADO. ACHO O MAXIMO UM PAI DECLAMAR, FAZER POEMA, EXPLORAR A EMOÇAO DE SER PAI E EXTERNAR ESSE AMOR. AMEI. ESTAREI SEMPRE VOLTANDO AO SEU BLOG. PARABENS!!!!
ResponderExcluirOi, Marylú!
ExcluirFico feliz que tenha gostado do texto!
Volte sempre ao blog, sim!
Beijos,
RPF