quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Anjo Satã

Há uma mulher, de quem falam

por casas e praças,

que tem fama e fervor.

Decide se acompanha ou opõe.



Dizem de suas orações e do que manda fazer,

dos homens que a ela não se comparam.

Galardões e seminários, em arrastos e confissões,

por honra da senhora dos feitiços e bênçãos.



 Entre terras e escravos, minas e fundições,

a fortuna que tantos sondaram,

os beijos de bajulações e outros empregos.

Soube abraçar e esquivar, manter e disputar.



O padre e o banqueiro, o contratador e o governador,

quem pode os seus pedidos ignorar?

Roga a Deus em visões.

Alguma vez sorriu, se disse feliz?



Dizem os bons: é um anjo encarnado!

Seus desejos espargem amor e docilidade.

Quando jovem, encantou, com suavidade de rosa,

gentes do campo e da cidade.



Afirmam os profanos: é satã afeminado!

Sua boca reparte fel e inimizade.

Sua flor se abriu em propositada cilada

ao capitão que embarcou na conhecida emboscada.



Por conselho quebrou dificuldades e jornadas

tolamente propagadas.

Propriedade não é estima.

Respeito e admiração: busca de conquista.



Não tem qualidade o corpo reles que jaz

sem alma ativa e corada,

como não tem mérito o sentimento do filho

que por vã afronta recebe castigo.



As encomendas que se fazem

são parcas e desmerecem

a memória de tempos bruscos e mal acolhidos.

Descanso é refúgio não reservado.



O trabalho será eternizado na dor

de quem compra indulgência sem sacrifício.

A herança está consumada em fogo,

purificada de mãos sem engenho e desvalorosas.



Ditosa mulher ambígua,

que aos meus sentimentos não satisfaz,

sua morte encerrou muitas vidas

e a minha já não se compraz.





Bruno Terra Dias

Nenhum comentário:

Postar um comentário