quinta-feira, 30 de junho de 2022

Fantasia Fugaz

 




Vôos e Cascatas

Alegrias e decepções

Pássaros ariscos

Raízes de ilusões

Homem e natureza

Insofismável relação

Paralelas que se encontram

No infinito da razão


Crepúsculo, céu em chamas

São doces sonhos, fantasias

As mudanças de lágrimas para risos

Têm a complexidade de da noite para o dia

... da noite para o dia


Vida, margens duma porção,

Um todo preenchendo metade,

O ciclo da dualidade!

Natural e urbano

Distinguem-se na feição,

Mas são frágeis correntes entrelaçadas

numa mesma...

... canção!


Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Jorge Pigeard

(1989)

quarta-feira, 29 de junho de 2022

DILEMA





Como duas paralelas em busca infinita,

Perto estamos distantes, 

Longe ficamos tão perto.. 

Separa-nos rio límpido mas revolto, 

Rola os seixos, lapida reenntrâncias, 

Num dia de muita borrasca, 

noutro só de flores. 

Nunca nos encontramos 

no azul do céu infinito, 

mas sempre juntos estamos, 

encurtando a distância 

de nosso eterno dilema. 


- Janete Fonseca

terça-feira, 28 de junho de 2022

Amor sem promessas





Quando se ama,

fazem-se promessas,

como se houvesse necessidade

de verbalizar

que se pode fazer tudo

por amor


Mas prometer gera expectativas

que, quando não realizadas,

causam uma frustração,

como se o amor perdesse força

por uma promessa não cumprida.


É olhar uma parte pelo todo,

o acessório pelo principal,

o detalhe pelo conjunto,

o universo por um lugar

a vida por um dia


Amar não exige promessas

Amar exige amar

Amar sem promessas

Amar, simplesmente amar.


Salvador, 06 de julho de 2018.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

NO FUNDO DO MAR





Molhadas areias brancas 

Teu rastro de silêncio apagam, 

Levando-te para o fundo do mar, 

Vestido de vento e sal 

 


Entre folhagens de algas 

de emaranhadas cabeleiras, 

Guerreiro do mar repousa, 

Nessa floresta marinha 

 


Canto para o meu amado, 

Entre os habitantes marinhos 

por trilhas de corais 

e caracóis dançarinos 

 


Conquistador de mares, 

Dorme teu sono eterno, 

Pois da sedutora sereia 

a voz não mais ouvirás 

 


Brinca com os habitantes d'água 

E quando o pranto da saudade 

Tu'alma dormida buscar, 

Foge em cavalos marinhos 

 


E nas estrelas do mar, 

Olvida teus sonhos

De amor, 

em paz 

 


Uma voz amiga me diz 

que não te verei jamais, 

mas meu amor te recorda sempre, 

vestido de vento e sal. 


- Janete Fonseca

domingo, 26 de junho de 2022

Bilhete Premiado do Amor






Há amores que 

são devastadores:

derrubam o que construímos,

deixam-nos arriados

e nos abandonam quando reagimos 


Há amores que 

são anestesiadores:

mornos como água de banho,

fazem-nos esquecer 

de que viver também exige emoção 


Mas é preciso 

ter esperança 

e aprender a jogar,

para ter a sorte 

de ganhar na loteria

com o bilhete 

premiado do amor…


Salvador, 31 de março de 2022.

sábado, 25 de junho de 2022

C A M I N H A N T E

 





 Como peregrino de fé, sem adeptos, 

 Prossigo, 

 Sangrando os pés nas pedras do caminho 

 Sem fim, 

 Sem direção, 

 Buscador da trilha verde 

 Do regresso, 

 Um dia 

 


 Continuo na jornada 

 Solitária 

 Rotineira 

 Pelas veredas do acaso, 

 Sorrindo quase em prantos, 

 Filtrando velhas mágoas, 

 No remanso das águas 

 Do dourado amanhã 

 


 Alegro-me por nada 

 E nada me alegra. 

 Silencio com todos 

 E comparto tudo 

 Com todos. 

 


 Assim 

 Descanso o amargor 

 Do passado, 

 Na relva macia do esquecimento 

 Até confundir-me,

 Um dia,

 Na poeira atômica 

 Do rio principal. 


-Janete Fonseca

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Difamação?

                              




Arrogante

Egocêntrico 

Metido

Vaidoso

Viado


Arrogante, por ousar falar a verdade;

Egocêntrico, por virar o centro das atenções;

Metido, por conhecer o que é;

Vaidoso, por saber o que já fez;

Viado, pela alheia necessidade 

de dar opinião 

sobre a sexualidade,

como a legitimar 

sua difamação.


Itaparica, 17 de abril de 2022.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

É TEMPO DE PRIMAVERA




 

Ar de primavera 

De fruta cheirosa 

Da beira da praia 

 


Vento na memória 

fareja a mulher 

recém descoberta. 

Passou muito tempo, 

Espelho reflete 

Anel de turquesa, 

soutien vermelho, 

Na boca desenho 

De coração grená 

 


No mundo mudado 

Dos mais avelhados 

Corações calados, 

Erga-se um brinde 

À mulher descoberta 

Só a ouvir estrelas 

Do homem ao lado, 

Cheio de desejos 

Da mulher ardente 

De olhar de fogo, 

Que vai olhando 

Quando o vê olhar 

 


Mulher incansável 

Toma pelas mãos 

retalhos do tempo 

Que se vão passando 

Antes que a tarde 

Primaveril 

morra, aberta, 

dentro de mim.


- Janete Fonseca

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Puer e Senix




Entre o entusiasmo pueril

e a ponderação senil,

há uma zona de conflito 

que leva ao infinito:

como alimentar 

cada lado 

sem aniquilar 

o que é mais caro

para a personalidade:

a descoberta 

do meio termo

que independe de idade,

harmoniza a vaidade,

constrói a civilidade 

e descobre a sua verdade?


Salvador, 22 de abril de 2022.

terça-feira, 21 de junho de 2022

AS FOLHAS DO CREPÚSCULO





Cai a primeira folha, 

A segunda também. 

Mais outra... e outras mais, 

Centenas delas caem 

Das árvores centenárias 

Apenas sopra o vento, 

No alaranjado crepúsculo 

 

E à tarde primaveril, 

Quando o olhar se embaça 

Ao sol da memória, 

Voltam todas, 

Molhando os caminhos 

Em longas cabeleiras 

Em galhos silentes, 

Pingando cores 

 


Também do coração, 

Onde brotam as ilusões, 

Uma por uma vai tombando, 

Descendo ladeiras 

Em fortes enxurradas 

Por esse mundo fora 

Como tombam as folhas das árvores

centenárias 

 


No mar azul da infância, 

Olhar suspiroso e 

Imaginação solta 

Voam...Mas às copas as folhas voltam, 

E elas ao coração não voltam jamais, 

Levadas pelas águas de março 


(PARÁFRASE DO POEMA DE 

RAIMUNDO CORREA  "AS POMBAS")

- Janete Fonseca


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Ciclo de Retroalimentação Negativa

                              


Cuidado com a dor 

Mas tenha mais cuidado ainda

com o remoer do sofrimento 

Uma Espiral negativa 

não tem limite 

e destrói o que

encontrar pela frente

Perde-se o controle 

da racionalidade,

do amor próprio,

da auto estima,

no assassinato

lento e cruel 

daquele sentimento estranho 

chamado esperança.


Salvador, 01 de abril de 2022.

domingo, 19 de junho de 2022

A PALAVRA





 Parceira fascinante, 

 No silêncio do ocaso. 

 Estrada direta a Deus, 

 Dom divino. 

 Nunca se gasta, 

 


 Tampouco envelhece 

 Elixir da solidão 

 Jogo-a no papel 

 Como dado na roleta, 

 De repente, 

 O longe 


           c 


              a 


                   i 

 Perto. 

 O sonho se torna possível, 

 O mundo fica pequeno, 

 Pois o trago, na minha mão, 

 Sob a sombra das palavras. 

 


 Embaralho-as, na memória, 

 Jogo nova cartada, 

 Acerto você, 

 No passado.. 

 Palavras ao vento, 

 Sussurrando à flor 

 Apenas desabrochada. 

 


 Passado virou presente, 

 Nesse jogo de palavras. 

 Voltei aquele amor, 

 Descontente, 

 Longínquo, 

 


 Que lembrar 

 De..mo...ro 

 Navegador do silêncio 

 Pelos recantos do tempo 

 Entre perdas e conquistas 

 Por outros mundos viajando 

 Com palavras de aroma 

 Em frascos verdes de cristal. 

 


 Navegar 

 Foi preciso 

 Entre mil palavras 

 Para iluminar o passado 

 À meia-luz do tempo 

 Que não mais sabia 

 Onde morava, 

 Se vivia, 

 Ria 

 Ou chorava. 

 


 Palavras em meios-tons 

 Espreitam você 

 Agora

 Em repousante silêncio 

 À sombra de velhos tempos. 


- Janete Fonseca

sábado, 18 de junho de 2022

Ferida Narcísica




Artista algum encena

sem a plateia presente 

Poeta algum recita

sem a musa no horizonte 

Música alguma ressoa

sem ter quem a ouça 

Promessa alguma é válida 

se não há como quebrá-la 

A ferida de Narciso 

dói muito mais 

quando ninguém a conhece.


Salvador, 08 de abril de 2022.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

À RAINHA





Estrela cadente no crepúsculo dos caminhos. 

Lume ardente nas sombras da memória. 

Insólito encontro em nossas vidas. 

Sábia com passantes solitários. 

Ama unindo a todos. 

Brindemos essa guerreira, 

Eterna inspiração ao sonhador que sonha, 

Teus são os caminhos de não voltar, 

Herdeira da realeza do nome 


Árvore que nunca morre. 

Deus inscreverá teu nome no 

Livro da vida como 

Espuma que alcança a praia, 

Rainha dentro da poesia 


-Janete Fonseca

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Enantiodromia

                           



A busca pelo par perfeito

é, no final das contas,

uma questão de

enantiodromia.


Observe-se

a Mudança dos polos…

a Sizigia,

Formação dos pares 

complementares 


É a Atração dos contrários 

e repulsão dos iguais 

que se descobre 

o movimento 


A Individuação 

é a reunião dos pares, 

na complementação, 

para formar a totalidade 


Salvador, 01 de abril de 2022.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

ENTARDECER




Entardece. 

Tomo café com cafeína. 

Bate-estaca lá na rua 

E no meu coração também 

 


O sol no infinito 

sorri da janela 

Entreaberta. 

E na minha alma, 

Também 

 


Dia a se vestir de noite.

Como anciã lenta 

Dá adeus 

À borboleta 

No vai-volta do tempo 

Em busca de luz 

E calor também 

 


Vento forte de quimeras 

sopra no deserto da memória. 

Cabelos negros em ondas 

se enrolam no alto 

Sobre risos de promessas 

 


Vestido justo, 

Seios redondos 

Se mostram nos contornos 

 


Olhos cravados 

Nos meus, 

Buracos negros, 

Sugadouros de energia 

 


Na relva verde 

Nossos corpos, 

Cipós trançados, 

Lava de vulcão, 

Ânsias inconstantes, 

Brotando da cratera 

 


Salto entre colinas e elevações 

Sem culpa 

Sem pudor. 

Almas abraçadas se afundam, 

Na treva de um abismo total, 

Entre o pelo espesso 

Do teu peito, 

Lábios carnudos 

coxas grossas. 

 


Ao entardecer 

Busca impossível: 

Cinzas de sonho não voltam 

Relógio do tempo parou, 

Nos 20 anos de amor 

de tantos vinte vividos.


- Janete Fonseca

terça-feira, 14 de junho de 2022

(In)Segurança




Segurança se baseia 

na palavra, na credibilidade,

na atitude, no conhecimento, 

efetivamente no vínculo real,

e não na exposição

de provas cotidianas


Não há como superar 

um conflito instaurado

quando não se está 

lidando com fatos, 

mas com suspeitas 

e insegurança,

de quem não 

consegue confiar.


Quem assim age

precisa de tratamento 

não de mais conflito.

Insistir em responder 

ao que não aceita contraditório 

é apenas dar alimento

 ao monstro que

consome relacionamentos.


Salvador, 01 de abril de 2022.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

REGRESSOS




Ao olhar da noite, 

Deixei para trás

Cadeira no portão, 

Mingau da vovó,

Laura e beijos 

dos meus tios 

 


Deixei para trás 

O estudo de 

violino e 

Aulas de solfejo 

Com fusas e 

semifusas 

 


Deixei para trás 

Dálias e rosas 

Do jardim de casa, 

Sorrindo na jarra, 

Carregadas de

regressos entre 

Folhas de livros 

 


Deixei para trás 

Festa de formatura 

Do Colégio Militar 

E Instituto de

Educação, 

Bailes de Sábado, 

Rosa no vestido, 

"Tomara-que-caia" 

Anágua de babado, 

Mão e bocas 

Se encontrando, no 

Recanto do tempo, 

 


Deixei para trás 

Litro de leite,

Na porta, 

Duas edições 

De jornal, 

Musicais da "Metro" 

Beijo roubado 

No escuro do cinema 

 


Deixei para trás 

Maiô de helanca,

Verde sem finito, 

A pegar onda,

Ao entardecer 

De Copacabana 

 


Deixei para trás 

Cachorro-quente

E coca-cola, 

"Milksheik" de

Morango das 

"Lojas Americanas" 

 


Deixei para trás 

"Rainha do Rádio", 

"Pequena Notável", 

Dolores Duran e

Ribamar, 

Valdir Calmon ao 

Piano 

 


Deixei para trás 

Vapor de carne assada 

Dos almoços de Domingo, 

"Pic-nic" nas praias 

Das "Flexas", "Icaraí" 

E "Paquetá", 

Orquestra de Perez Prado 

Arranjos de Cole Porter, 

Boleros de Lucho Gatica 

Sino tocando na Igreja, 

Chamando à Missa do Galo, 

Ceia da meia-noite, 

Presentes no presépio, 

Saudades dos meus pais. 

 


Deixei para trás 

"Ricardo de Albuquerque", 

Com galinhas no quintal, 

Passarinhos sem gaiolas, 

Pé de abil, carambola, 

"Maria-fumaça", apitando

Como sombras, caídas 

Do olhar de um tempo. 

 


Só não deixei para trás 

Meu amor por você, 

Que levou tudo o

Que deixei para trás. 

Mas esqueceu de mim 

E me deixou atrás. 

 

- Janete Fonseca

domingo, 12 de junho de 2022

Saturnino

                              



Depressivo 

Melancólico 

Macambúzio 

Deprimido 

Desanimado 

Para baixo

um capacho

para tudo…


Salvador, 22 de abril de 2022.

sábado, 11 de junho de 2022

CASAMENTO (TÉRMINO DO SEC. XX)



Casar hoje 

É muito rápido.

História sem prelúdio.

E noivado! 

É bom esquecer. 

 


Tudo começa "ficando", 

Num encontro casual, 

na danceteria do bairro 

 


Fim de noite feliz. 

Beijos trocados. 

Convite ao amor, 

No motel, 

No carro, 

Ou na casa do pai 

 


Tudo muito rápido 

Pra casar e descasar, 

Proclamas apressados, 

Convites por telefone, 

Lista de presentes, 

No "magazin" da cidade 

 


Festa! 

Nada se faz em casa. 

Aluga-se tudo: 

Roupa da cerimônia 

Cadeiras e guardanapos, 

O bolo de três andares 

da receita da vovó 

Ficou reduzido á metade 

 


Pro casório 

mais rápido: 

Cerimônia matutina, 

No club da esquina, 

Em poucos minutos: 

Missa rezada, 

Alianças trocadas, 

Convidados sonolentos, 

No café de bodas 

 


Esse ou aquele motivo 

Levam à separação, 

Bons filhos 

À casa dos pais 

Retornam 

 


Com ou sem divórcio, 

Cada qual, 

Em novo amor, 

Cura a solidão 

Do amor anterior 

 


Dessa vez é diferente: 

Chega-se logo 

Aos "finalmentes" 

Com produção independente 

 


Os vovôs ficam contentes 

por serem pais novamente, 

com rebento concebido, 

Sem viagra, 

Inseminação 

Ou reposição hormonal 

 


E os papais-de-aluguel 

Partem para um novo amor 

A curar o anterior. 


- Janete Fonseca



sexta-feira, 10 de junho de 2022

Preguiça de Domingo

                               


Há tempo para tudo 

nesta vida!

Mas poucos tempos 

são tão bem usados 

quanto no fazer nada

da preguiça de domingo…


Salvador, 24 de abril de 2022.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

GUME DE GUEIXA




 

Sou uma única mulher

quando a trombeta anuncia

um inverno sem tropeços.


Os legionários da palavra

espiam sua falta de dados

como me fiz por nenhum motivo

conheço o luxo de ser nua e insofismável

inquestionável é a questão e o próximo dia.

Também invoco nas santas armações

da luta contínua por porto algum

as desculpas estilhaçadas em farpas

dos ausentes cansados em dentes de ogro.


Mas me canso descanso de meu fel.

Ardia na boca do estômago a fúria da pretensão

– esqueci-a retaliada no sofá branco e bagunçado –

deve haver algo melhor do que essa faca

gume de gueixa

a ponta de prata que rebola a qualquer ultraje

para dentro através da margem.


e porém... como dizia tenho azia

dor de baço e um cansaço...

aí retomei a pena e o pó dos livros

a lide das pernas e a busca do pão

pensei no amor como um condimento vespertino

dos enfeites adiei o aprumo e por três ou quatro

minutos dos restantes sorri e adormeci

ali ao pé do carvalho planto, morena,

serena e de orvalho em pé e sombra

afogada e deslumbrada

– o nome daquele é o mesmo deste?

Estes os problemas e sua função.


-Jandira Zanchi

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Decisão

 



De-cisão 

Necessidade 

de cindir, romper 

Mudar

Transformar 

Ser novo ser

e reaprender 

a sonhar


Salvador, 22 de abril de 2022.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Dentro de ti faz sempre primavera

 




 

 

Não me basta colher palavras

pelo verão iluminadas 

pois dentro do meu peito lavras

uma canção iniciada

água do amor que me acalenta

e do teu sonho se sustenta

Que mão de amor em nós sustenta

essa ventura iluminada?


 Tua presença me acalenta

 nesta canção iniciada 


Canto teu corpo com palavras

se teu corpo ao meu corpo lavra


Sei da canção iniciada

e dos rosais da tua lavra

 por isso trago iluminada

a safra acesa das palavras

mas sei que só o amor sustenta

esse trigal que me acalenta


Não morrerei da tua lavra

nem da paixão que me acalenta

além estás destas palavras

da luz e fogo que as sustenta

morrerei sim da iluminada

canção por ti iniciada


Não basta o amor que me acalenta

nem alicerces de palavras

desejo a vida que sustenta

a vida acesa que nos lavra

o instante em que iniciada

a canção foi iluminada


Toda canção iluminada

da vida apenas se sustenta

e antes de ser iniciada

foi a paixão que a acalenta

com essa safra de palavras

que na areia do meu peito lavras.


-Jaci Bezerra 


segunda-feira, 6 de junho de 2022

Uma Nova Vida




Desodorante 

do macho Alpha 

Ozark 

Minion

Fazer nada 

Gozar

Creme de coco

Salto alto

Namoro gostoso

A pequena e o gigante 

O pequeno e a gigante 

Alexa

Salada 

Bruschetta 

Beijinhos 

Memória fraca 

Bat pole 

Coligados 

para sempre!


Minguito, 15 de abril de 2022.

domingo, 5 de junho de 2022

E não pode esperar o coração

 



 

 

Toda a lua e claridade

assim te quero, assim te vejo

e se te vejo o amor invade

meu corpo inteiro e o deixa aceso

e se te vejo o amor em mim

é um cheiro morno de jardim

A tua dor doendo em mim

 é um rio latejando aceso

sou um cantareiro no jardim

do sonho em que te quero e vejo

primaveras de claridade

na primavera que me invade


 Toda nua és um rio aceso

 de primavera e claridade

mas quero mais do que o que vejo

sentindo a angústia que me invade


esse amor que doendo em mim

arde em silêncio no jardim


Extinta a angústia que me invade

te sinto perto e junto a mim

mais do que amar a claridade

 amo teu cheiro de jardim

por isso à noite durmo aceso

no dia em que te sinto e vejo.


Teu coração é um jardim

tremulando na claridade

mesmo quando doendo em mim

também é a angústia que me invade

porque no dia em que te vejo

teu corpo dorme em mim aceso


No fundo dos teus olhos vejo

longe da angústia que me invade

 como o amor doendo aceso

é uma trança de claridade

o coração dentro de mim

dorme abrasado em teu jardim.

 


-Jaci Bezerra 


sábado, 4 de junho de 2022

Entendimento

                            




Dizer que entendeu 

não quer dizer que entendeu,

mas apenas que disse 

que entendeu.


Entender 

é internalizar 

o conhecimento 

a incorporar 

para a postura 

repensar 

e a conduta 

finalmente mudar.


Entender 

é o primeiro passo,

a régua e o compasso

para tomar a decisão

da desejada transformação.


Salvador, 23 de abril de 2022

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Para te ver é longa toda espera



 

 

Há uma serra no teu peito

feita de sonho e de distância.

É nessa serra que me deito

com tua luminosa infância.


Ao te esfolhar, na tarde branca,

me extravio nas tuas ancas.


Habitando a paisagem branca

na curva dessa serra deito.


Assim, montando as tuas ancas,

cavalgo os sonhos do teu peito.


Depois, retido na distância,

na cama acendo a tua infância.


Nos veludos da tua infância

qualquer montanha é pura e branca,

claro verão que, na distância,

cintila sobre tuas ancas.


É minha a serra do teu peito

quando à sombra do teu corpo deito.


Sobre os lençóis, quando me deito,

meu coração é a tua infância.


Eu, pelas serras do teu peito,

sou um menino na distância,

cavalgando, na tarde branca,

os girassóis das tuas ancas.


Nos extremos das tuas ancas

cavalgo as serras do teu peito.


O teu corpo, na tarde branca,

é o meu lençol quando me deito.


Uma criança, na distância,

sou a serra da tua infância.


Quero galgar serra e distância

nas tuas mãos de nuvens brancas,

do mesmo modo quero a infância

e os girassóis das tuas ancas.


A mim me basta, se me deito,

morrer nas serras do teu peito.


-Jaci Bezerra 


quarta-feira, 1 de junho de 2022

Soletrando no escuro a tua voz


 


 

O amor, por vezes, causa dano

enquanto a noite acesa passa

deixando atrás o desengano

brisa que dorme e que se esgarça

ainda assim, dentro do inverno,

sempre abrasado amor eterno.

Na noite longa, quando passas,

é luminoso todo o inverno

e o coração que não se esgarça

mais do que luminoso, é terno.


Ramo de luz, meu desengano

foi te causar um dia dano.


 É meu o luminoso inverno

e o passageiro desengano.


O teu rosto, dourado e terno,

acima paira desse dano,

pois tua mão serena esgarça

minha ternura quando passas.


 Ao escutar meu desengano

deixas à margem, quando passas,

o lodo e o limo desse dano

que o vendaval do tempo esgarça

e traz, lavado pelo inverno,

um rastro de ternura eterno.


A tua voz doída esgarça

palavras no abrasado inverno,

doendo, inteira, quando passas

escondendo os teus olhos ternos.


Dói, meu amor, o desengano

que mágoa te causou, e dano.


Sinto que é longo e que é eterno

meu sofrimento quando passas

na correnteza desse inverno

que o vendaval do tempo esgarça,

por isso dói meu desengano

quando te causo mágoa e dano.

 

- Jaci Bezerra