quarta-feira, 15 de junho de 2022

ENTARDECER




Entardece. 

Tomo café com cafeína. 

Bate-estaca lá na rua 

E no meu coração também 

 


O sol no infinito 

sorri da janela 

Entreaberta. 

E na minha alma, 

Também 

 


Dia a se vestir de noite.

Como anciã lenta 

Dá adeus 

À borboleta 

No vai-volta do tempo 

Em busca de luz 

E calor também 

 


Vento forte de quimeras 

sopra no deserto da memória. 

Cabelos negros em ondas 

se enrolam no alto 

Sobre risos de promessas 

 


Vestido justo, 

Seios redondos 

Se mostram nos contornos 

 


Olhos cravados 

Nos meus, 

Buracos negros, 

Sugadouros de energia 

 


Na relva verde 

Nossos corpos, 

Cipós trançados, 

Lava de vulcão, 

Ânsias inconstantes, 

Brotando da cratera 

 


Salto entre colinas e elevações 

Sem culpa 

Sem pudor. 

Almas abraçadas se afundam, 

Na treva de um abismo total, 

Entre o pelo espesso 

Do teu peito, 

Lábios carnudos 

coxas grossas. 

 


Ao entardecer 

Busca impossível: 

Cinzas de sonho não voltam 

Relógio do tempo parou, 

Nos 20 anos de amor 

de tantos vinte vividos.


- Janete Fonseca

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