domingo, 10 de março de 2024

A lenda da Tília

 







Mihai Eminescu


-“Branca, sabes que de amor

sem lei nasceste, mas isto

fez-me jurar desde então

que esposarás Jesus Cristo!


Vestindo o hábito de monja,

Indo a um mundo mais sublime,

Redimirás tua mãe,

Me libertarás de um crime.”


-“Deste mundo, caro pai,

quem quiser dele se mude;

a minh’alma é tão alegre,

radiosa a juventude!


A dança, a música, o bosque,

Isto é o que minh’alma preza;

Não um catre solitário

Onde chorando se reza!”




-“Sei o que melhor te serve,

como eu disse assim será;

À viagem de amanhã,

Te prepara desde já!”


Mãos aos olhos leva Branca,

Tudo em sua mente se aduna;

A cabeça ardendo, louca...

Só lhe resta esta fortuna?


Seu cavalo branco, amigo,

Selado lá fora, espera;

Ela põe o pé no estribo,

Ir ao bosque delibera.


A noite vem do arvoredo

Cujo perfume a embevece;

O céu as estrelas mostra,

Doce anúncio se oferece.




Ela nos bosques penetra

Até a velha tília, onde,

Com flores que vêm ao solo,

Fonte mágica se esconde.


Embalada à voz das águas,

Canta a trompa, um som incerto.

Forte... cada vez mais forte...

Perto... cada vez mais perto...


E a fonte, presa em magia,

Brotando, um rumor espraia –

Sobre os bosques das colinas,

Lua branda de atalaia.


Como em sonho, Ela delira

E ao olhar, pasma, ao seu lado,

Vê um garboso mancebo

Em corcel negro montado...


Será que os olhos lhe mentem?

Ou será verdade pura?

Flores de tília ao cabelo,

Trompa de prata à cintura.


Ela então os olhos baixa,

Passa a mão na fronte e um gozo

O seu coração lhe inunda

De um encanto doloroso.


Ele se chega mais perto,

Infantil e suplicante;

Dela a alma se inebria,

Cerra os olhos, neste instante.


Com uma mão tenta afastá-lo,

Mas sente presos seus braços

De uma dor, de uma doçura

No seu peito em fortes laços.


Gritaria... mas não ousa,

Sua fronte cai-lhe ao ombro;

Seus beijos sem conta a boca

Dele sorve, em desassombro.



Carinhoso, ele a interroga

Mas ela a face lhe esconde.

E com voz doce, baixinho,

Pouco a pouco lhe responde.

..................................................

Vão juntos, em cavalgada,

A ninguém ouvidos dando,

E no amor, vão um ao outro

Nos olhos se devorando.


E sempre vão mais além

Por sombras, de vale em vale;

E a melancólica trompa

Soa doce, soa grave.


O seu brando som se espalha

Pelos vales ressoante,

Mais suave... mais suave...

Mais distante... mais distante...


Sobre os pinhos das colinas

Segue a lua de atalaia.

E a fonte, presa em magia,

Brotando, um rumor espraia.


 


Tradução: Luciano Maia


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