sexta-feira, 8 de março de 2024

Tão delicada...

 



Mihai Eminescu



Tão delicada, és semelhante

À alva flor da cerejeira.

E como um anjo entre os mortais

Surges da minha vida à beira.


Nem bem tu tocas o tapete,

A seda soa ao teu pisar

E da cabeça até os pés

Pairas num sonho, a flutuar.


Das dobras longas do vestido,

Como do mármore, ressais,

Presa a minh’alma aos olhos teus

Cheios de lágrimas e ais.


Ó sonho meu feliz de amor,

Noiva suave, de outras lendas,

Não me sorrias! Se sorrires

Tua doçura me desvendas.


Podes, no encanto da tua noite,

Deixar-me os olhos sempre baços

E com o murmúrio de tua boca

No frio enredo dos teus braços.




Súbito, passa um pensamento

No véu do teu ardente olhar:

É a renúncia penumbrosa,

Sombra de doce suspirar.


Te vais e eu bem compreendi

Não mais deter o passo teu;

Perdida, sempre, para mim,

Noiva imortal no peito meu!


Pois ter-te visto é culpa minha,

Da qual jamais terei perdão;

Expiarei sonho de luz

A mão direita erguendo, em vão.


Ressurgirás como uma aura

Da eterna virgem, de Maria,

Em tua fronte uma coroa...

Aonde tu vais? Voltas um dia?


 


 


Tradução: Luciano Maia

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