sábado, 26 de fevereiro de 2011

Atraverssiamo

Atraverssiamo

Rodolfo Pamplona Filho
Fiquei angustiada
ontem a noite...
Vi-me no filme com você...
a velha história dos "desaparecidos"...

Viajar, conhecer outros lugares,
sempre ao seu lado e de forma leve...
acho que nós nos divertiríamos
até mesmo pelo prazer de estarmos juntos...

Você, metódico
e eu, completamente louca...
bagunçando seu dia.....
"dolce fare niente"...
essa é a nova lei...

Uma coisa é certa.
Nunca me senti tão dependente
de alguém como estou com você,
no sentido bom da palavra.

Eu respiro você, sinto você, sonho com você,
durmo com você, acordo com você...

Para não pirar,
apenas penso que,
se a vida nos deu esse presente,
é porque gostamos de viver e,
com certeza, ela quer que fiquemos juntos...
senão tudo já tinha sido o suficiente
para a nossa separação...

"a vida gosta de quem gosta dela"...
ouvi isso ontem no filme
e sorri sozinha,
pois achei perfeito para nosso amor...

Vamos viver bem...
mesmo que dessa forma meio tortuosa.
Não vamos complicar, nem cobrar...
simplesmente vamos viver juntos.

Felizes e plenos
por termos um ao outro.
A angústia faz parte para ambos...
é uma doença recorrente....
mas essa dor, essa doença,
sempre terá remédio.
E quando a saudade apertar
saberemos como achar um jeito de resolver...

E sabe porque parece
que estamos há muitos anos juntos?
Porque, na verdade, isso tudo que sentimos
foi sempre o que desejamos...
Então não nos parece que
esse sentimento seja atual ou efêmero...

Eu estou disposta a arriscar...
a me machucar,
a sofrer de saudade,
a amar com lealdade,
a ser sua até morrer...
mesmo que você arranje outras,
que você deixe de me amar
e me querer perto,
que você fique puto comigo
quando eu estiver com TPM...
mesmo sem alternativas concretas
de vivermos fisicamente colados....
eu quero viver com você....

"... se perder o equilíbrio no amor
faz parte de ter uma vida equilibrada...",
"... atraverssiamo ..."
Salvador, 14 de outubro de 2010.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

TABACARIA

TABACARIA
(Alberto Caeiro)


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas —
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocotte célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno — não concebo bem o quê —
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para àquem do lagarto remexidamente.


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.


O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


Fonte: www.instituto-camoes.pt

.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Êxtase

Êxtase

Rodolfo Pamplona Filho
Meu corpo treme em Meca
e eu nem sequer me mexo...
Minha boca abre e seca
de tanto conter meu desejo...
A sensação de estar em sua vida
toma todo meu pensamento
e faz com que toda despedida
seja sempre um lamento.

Mal acostumado
Eu realmente estou
Completamente arriado
pelo seu amor
Nunca estive tão apaixonado
e completamente a seu dispor,
futuro, presente e passado,
entregues a quem me despertou

para uma relação de entrega total,
para um gozo abundante incondicional,
para uma sensação de êxtase profundo,
para um novo olhar para o mundo.
Praia do Forte, 13 de novembro de 2010.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Bombas de Hormônios

Bombas de Hormônios

Rodolfo Pamplona Filho
Como alguém doce e amada
pode ficar rude e interesseira?
Como uma criatura delicada
pode se tornar tão grosseira?
A alternância de humor
é tão grande e irritante
quanto à falta de amor
que, de forma chocante,
demonstra aos que estão
ao seu redor e disposição...

Nada lhe agrada ou lhe traz ganho,
senão simplesmente se isolar
em seu mundo estranho,
secreto e particular,
que ninguém é tacanho
o suficiente para entrar,
pois inexiste humano bom bastante
para levar sua vontade adiante.

Nem a temperatura ambiente
é adequada ao seu prazer:
tudo é muito frio ou quente,
nada presta para seu ser...
já que tudo é ruim demais:
nada verdadeiramente a satisfaz...

É preciso muita paciência
para não perder o controle,
pois o nariz empinado e impertinência
beiram o total descontrole.
O quer dizer da sua auto-suficiência?
É incrível como sabe todas as respostas
para perguntas que a adolescência
há muito deu as costas...

Que mico! Que porre! Que saco!
Ouve-se isto de modo profundo!
Como se fosse normal tudo ser chato
e ser o único incompreendido do mundo!
Será que, um dia, isso vai passar?
Serão exorcizados seus demônios?
Meu Deus, como é difícil lidar
com estas bombas de hormônios!
Praia do Forte, 15 de novembro de 2010,
sobrevivendo a uma adolescente na TPM.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reencontro

Reencontro
Rodolfo Pamplona Filho

Hoje à noite...
mantive meu olhos fixos nas possibilidades dos meus sentimentos
descobri entre conversas poucas que o amor é amplo e que tudo acalenta
me sinto abraçada através dos pensamentos
e neste momento nada mudaria...

Hoje à noite...
não tenho mais dúvidas
que os caminhos escolhidos mudam como o vento
e que através de soluços e risos
o destino nos presenteia.

Hoje à noite...
vou calar e ficar quieta
esperando que um novo dia comece
para que nosso cuidado volte a nos preencher.

Hoje à noite...
Procuro uma resposta para perguntas que não consigo formular
Penso em tudo que vivi e como tudo poderia ter sido
Quero acreditar que o caminho foi o correto
e neste momento nada mudaria...

Hoje à noite...
não tenho mais dúvidas
de que é possível um novo caminho
paralelo ao já traçado que
o destino nos presenteia.

Hoje à noite...
continuarei descansando em paz
na certeza de que vale a pena esperar
para que nosso cuidado volte a nos preencher.

O cuidado em suas palavras
me faz respirar com fadiga
e mostra quanto eu me vejo em você
me deixa segura

A estrada finalmente nos achou
por vezes tortuosa e depressiva
e que nos retirou o chão
quando mais precisávamos

Não penso no perigo
de ter-lhe perto
de que não é errado
ter uma vida pra você
e flutuar por sonhos impossíveis

O cuidado nas palavras sempre se deu,
pois necessário para não machucar
a planta que nasceu ou renasceu
sem ninguém sequer esperar...

A estrada que fez nossos nós
é a mesma estrada que sempre trilhamos
e que não tomou decisões por nós,
mas que, por ela, caminhamos...

Haverá sempre um perigo concreto
de pensar não estar sendo correto
mas não há certo ou errado
quando o impossível é tentado

Se será somente platônico, eu não sei...
Só sei que tem me feito bem...
talvez o destino seja somente emocional
e o encontro eventual ou ocasional...

Isso pouco importa, de fato,
pois o mais relevante retrato
apagou a minha inaptidão do passado
ou imaturidade no contato

Quem disse que o sonho é impossível?
O sonho é sempre real.
Se a realidade não nos é factível,
que o seja o amor espiritual...

FIM?
Início...

Salvador, 10 de setembro de 2010, dialogando sobre passado, presente e futuro...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Soneto da Retomada

Soneto da Retomada

Rodolfo Pamplona Filho
Sinto que falta algo em minha mão:
são seus dedos entrelaçados ao meu;
sinto que falta algo no coração:
é a adrenalina do beijo seu...

Sinto que meu dia entristece
quando não tenho você por perto...
sinto que, de fato, a vida empobrece
e que meu dia será incompleto,

a menos que eu tenha coragem
de saber que a vida é uma viagem
e que a apatia não é necessária bagagem...
Retomemos o caminho do prazer,
reencontrando a arte de escrever
e fazendo o que fomos feitos para ser.

Salvador, madrugada de 13 de novembro de 2010.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sentença em Versos

COM BOM HUMOR E APURO POÉTICO JUIZ SENTENCIA EM VERSOS RIMADOS

Poderia ter sido mais uma dentre as milhares de ações julgadas pela Justiça do Trabalho, ou mesmo pelo juiz autor da sentença Platon Teixeira de Azevedo Neto, em seus mais de nove anos de carreira na magistratura trabalhista. Mas a história virou poesia. Explica-se: frustadas as tentativas de conciliação, o magistrado buscou em versos inspirados a solução para uma lide entre um ex-empregado de uma funerária e o seu patrão.

Para fugir da aridez das leis e dos complexos trâmites processuais, o magistrado iniciou sua sentença com versos de cordel, relatando toda a história da disputa judicial. “De vez em quando é
bom sair da rotina e aliviar as tensões do dia a dia com criatividade e bom humor”, ressaltou Platon Neto.

Os pedidos foram diversos, mas, na sentença, ele deferiu parcialmente a questão para condenar a empresa ao recolhimento do FGTS devido, salários não pagos, retificação da Carteira de Trabalho, integração do salário in natura, entre outros. No entanto, rejeitou o pedido de reconvenção apresentado pela reclamada, que alegou que o ex-empregado tinha fundado uma empresa similar e se apropriado de valores da funerária.

As partes recorreram ao segundo grau, mas a sentença foi confirmada, por maioria, em decisão da segunda turma, cujo acórdão foi redigido pelo desembargador Paulo Pimenta. Eis a sentença inspiradora:

SENTENÇA

"...Mas eu lhes digo: não se vinguem
dos que fazem mal a vocês. Se alguém lhe
der um tapa na cara, vire o outro lado
para ele bater também."
Mateus 5.39

"Então Pedro chegou perto de Jesus
e perguntou: - Senhor, quantas vezes devo
perdoar o meu irmão que peca contra mim?
Sete vezes? - Não – respondeu Jesus. –
Você não deve perdoar sete vezes,
mas setenta e sete vezes".
Mateus 18.21-22

CONSIDERAÇÕES INICIAIS "BREVE RESUMO DA ÓPERA”

Trabalhou o autor para a reclamada
numa funerária no interior
Foi dispensado depois da empreitada
Após longo tempo de labor

Talvez movido pela ambição
ou por orgulho ou vaidade
captou clientes na região
e abriu concorrente na cidade

O proprietário da empresa
quem sabe por ira ou raiva
alertou a sociedade local
que não era a mesma funerária

Apresentou também denúncia
alegando crime de estelionato
Foi aberto inquérito policial
Na Justiça Criminal Estadual

Talvez levado por vingança
Acionou o autor a Trabalhista
pedindo com forte esperança
verbas do tempo de motorista

A reclamada opôs defesa
mas não limitou sua atuação
além de contestar a ação
formulou uma reconvenção

Esta novela de mútuos ataques
pletora de pecado capital
vem sendo alimentada pelas partes
E ninguém imagina o seu final

Este infindável ciclo insano
deve ser interrompido com perdão
alguém deve oferecer a própria face
para que possa haver a conciliação

O fim da história só Deus sabe
a paz ainda não veio neste inverno
mas desejo que ela não venha somente
num canto do céu ou do inferno

FONTE: TRT 18