quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Teu Perfume

Teu Perfume - Tayane de Aguiar

por Tayane de Aguiar, quarta, 4 de maio de 2011 às 21:06
Acordei... A primeira sensação que me recordo é a do teu perfume.
Talvez não tenha como explicar de que maneira senti o seu cheiro, já que estava tão distante, mas... o senti! E ele era maravilhoso.
A verdade é que, naquele momento, os meus sentidos deveriam transmitir o que o meu pensamento lutava, a todo o momento, para conter: pensara em ti! Aliás, como tem ocorrido sempre ao despertar.
As coisas poderiam ser exatamente como esperamos não é?? Como se tivéssemos arbítrio sobre a funcionabilidade da vida... Tudo seria tão fácil...
Mas, qual a graça das coisas fáceis? Digo: não quero facilidade! Não quero ter de viver em completo outono. Quero viver loucuras, cometer erros, me entregar sem pensar no que acontecerá depois... Escolherei arriscar, ainda que pelo caminho da dor, a me curvar diante do medo, a me privar diante do amor. Como tudo que é simples na vida, há de ser definitivo, pois em algum momento perecerá.
Talvez Drummond, ao escrever sobre as coisas findas da vida, não conhecesse o teu perfume que, ainda agora, insiste em não me deixar...
Enfim, volto a dormir... com a certeza que, ao acordar, buscar-lhe-ei, não mais em olfato, mas sim em olhar.


Esse texto foi escrito há alguns anos por uma mulher que viria a adoecer.
No começo, os sinais de sua diença eram esporádicos e ninguém ousou se importar. A autora, que sempre fora muito saudável, em um dado momento passou a sentir palpitações e tremores nas mãos. Sua boca, que estava sempre úmida, passou a secar constantemente e embranquecer. Até então,  contudo, não havia nada com que se preocupar. Não havia de ser nada.
O problema é que não parou por aí. Os sintomas se tornaram mais constantes e a doença tomou conta do seu coração. O pequeno órgão passou a bater em um ritmo próprio, fora do normal, contrariando todas as possibilidades cardíacas e determinando todas as condutas da sua portadora. E enquanto todos ao redor começavam a se preocupar, ela... Bom, ela tinha inúmeros motivos para ignorar os sinais. Ou acreditava que tinha.
Quando finalmente se deu conta da gravidade do seu problema, já era tarde demais. A doença já tinha se espalhado pelo seu corpo e ela já não conseguia suportar. As dores que sofria eram quase sempre sufocantes e as cicatrizes deixadas em seu corpo teimavam em incomodar. As noites de choro e soluços se tornaram uma rotina e ninguém conseguia ajudá-la.
Com o tempo, resistir se tornou uma tarefa por demais penosa e a única solução era se entregar. Talvez desistir de lutar contra aquilo que sequer era capaz de dimensionar fosse a única forma de ter paz. Foi então que, desejando sossego, desistiu. E, por desistir, ela deixou de existir.

Aquela mulher era eu e ela morreu de amor.

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