Lembro-me de meu pai como um homem forte e musculoso, que me colocava pra dormir em seus braços e cantava passeando pelo corredor da nossa casa. Já estava tão grande que sentia meus pés baterem nos joelhos dele.
Como representante comercial, ele viajava muito pelo interior do estado e, sempre que podia, ele me trazia pequenas mobílias que, pouco a pouco, me fizeram montar uma bonita casa com sala, quarto, cozinha, jardim e outras miudezas mais que encantavam a qualquer menina que, como eu, gostava de brincar de boneca.
Ao lado das brincadeiras de menina, cresci com dois irmãos que me levaram a muitas peripécias que eram pelo meu pai estimuladas, pois ele foi menino no interior de Pernambuco e nos contava várias histórias da sua infância, que nos encantavam e nos faziam crer numa infância feliz. E como não ser feliz ao lado de um pai brincante? Houve um tempo em que ele arranjava caixotes de maçã na feira e, junto com meus irmãos, montava maravilhosos carros de rolimã. Quando adulta, já descendo a ladeira da nossa casa de carro, ficava pensando que loucura a gente fazer aquilo! Os freios eram um pedaço de madeira pregado com um prego e a nossa sandália havaiana. Na nossa imaginação de criança, nós costumávamos dizer que éramos Speed Racer!
Todo sábado, caso não chovesse muito, íamos à praia de Ondina tomar banho de mar. Ficávamos na água até quando o queixo batia de tanto frio. Foi lá que meu pai me ensinou o meu primeiro estilo de natação para sobreviver: nadar “cachorrinho”. Também aprendi a boiar e mergulhar. Fazíamos dos seus ombros um trampolim móvel que virava pra o lado que a gente quisesse. Íamos lá para o fundo do mar quando os pés não pisavam mais na areia, só pra ficar contemplando o horizonte e mergulhar várias vezes.
Quando fui fazer o vestibular, subimos a ladeira juntos; no meu primeiro emprego depois de formada, subimos a ladeira juntos. Até o último dia antes de ser hospitalizado, quando na sua casa ia almoçar, ele ia até a calçada do prédio e me esperava subir a ladeira. Ao chegar na curva da ladeira, eu me virava e acenava para ele. Eis que agora ele me disse adeus e tenho a certeza que, no seu íntimo, ele sempre desejou que eu subisse muitas e muitas ladeiras nesta vida.
Fica, então, na minha memória, a lembrança de um homem digno, que deixou como herança coisas que nenhum dinheiro deste mundo pode comprar. Foi um bom pai e, acima de tudo, um homem temente a Deus. Creio que, nas palavras do apóstolo Paulo, ao dar o seu último suspiro de vida, meu pai pode assim dizer: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”.
A todos vocês que aqui estão conosco, fica o nosso MUITO OBRIGADO. E a todos os homens que receberam de Deus a bênção da paternidade, fica o meu conselho: sejam bons pais e bons exemplos para os seus filhos, pois vocês nem de longe imaginam o quanto é importante na vida do ser humano o exemplo de um bom PAI!
Emilia Valentina de Araújo Pamplona
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