quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Toca Raul


Toca Raul

Toca Raul! e todos os demônios...
Um vaticínio vivo e inebriante,
Dos pares de copos e comprimidos,
À contusa sobriedade berrante.

Que a luz se misture aos nossos hormônios,
E que do sexo saia um estampido
Isso! Se faça a luz, extasiante,
Abençoados, cerrem os ouvidos!

Então, todas as carnes cruas, nuas,
Devorem-se, firam-se, criem pus.
Porque toda ferida um dia sara.

Veja! A pureza ignorante é cara.
É porque absolutamente tudo,
Deixa um dia de ser interessante.

Mariantônio.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Todo mundo é vítima


Todo mundo é vítima

Rodolfo Pamplona Filho
Todo mundo é vítima
e ninguém assume a culpa
Todo mundo é vítima
e se pode fugir da luta
Todo mundo é vítima
e se empurra a responsabilidade
Todo mundo é vítima
e não se muda nada de verdade
Todo mundo é vítima

e há argumento para tudo
Todo mundo é vítima
e punir é um absurdo
Todo mundo é vítima

No Trem de Madrid para Pamplona, 02 de outubro de 2012.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Tempestade.


Tempestade.

Ouço os trovões da sua banda preferida. Acabou  a chuva e começou a tempestade. Os ventos uivam, ferozmente,desde o tempo em que você me fez desacreditar em você. O escuro que você dizia ter, passou a ser um lado ainda mais negro. Nem as suas e nem as minhas lágrimas lavarão as trevas que há no seu ser. E eu culpo a sua formação no seu inteiro teor. Da concepção ao desenvolvimento. 
Me desculpe, extrapolei no meu apego. Apego demais pesa.
Dizem que somos jovens demais para tanto sentimento. Eu digo que jovem é o amadurecimento de todos os que assim pensam. Mas não os crucifico, ando longe de ser um romano.

Quando as luzes se apagam o meu respiro é um suspiro aliviado porque estou mais uma vez ao seu lado, compartilhando quase tudo. 
Quase.
Não há mais conversa. Risos amarelos e insatisfeitos enfeitam o chão que eu piso com vergonha e desespero. 
Amanhã amanhecerá com a vontade do esquecimento e tudo que conseguirei é um novo motivo para prolongar qualquer sofrimento. 
A glória passou de um orgasmo. Agora não há nós. Existe eu e você disputando quem dá menos de “si para ti”. Porque o que importa agora é o ego. 
O ego.
Sempre iremos reclamar quando nosso orgulho se ausentar. Consumidos pela opinião pública e a calamidade do ser.E  a sexualidade envolta dos absurdos sociais. Até que o próximo amigo se afaste porque está sofrendo do mesmo mal que você.
 Amor.
Mas ora vejam só quanto clichê. 
Não é inteiro. Se não é inteiro não é amor. Amor não é ficar por cima. É estar ao meio, como no início: as mãos gélidas e os calafrios amargamente disfarçados. É toda a razão trabalhando pela emoção. Todos os programas, fins de semana e feriados planejados para um único fim: amar. Ou seja lá o que for mais forte. 
Um banho dado pela primeira vez. Uma primeira-melhor-viagem da sua vida. O vômito de uma noite embriagada e sustentada no respeito confuso e meio consistente. A primeira droga da minha vida.

A vida compartilhada. O mesmo filme. O mesmo lençol. A mesma cama. A mesma música. A mesma covardia. E o mesmo pior orgulho. A mesma pior vantagem.
“Vantagem”. 
Já se passaram de dois Janeiros a dois Setembros. 
 O par é o que me interessa. O ímpar me enfurece. Quero resultados inteiros. Não quero ninguém e nada quebrado. Francionado. 
Te levo na mochila ou na minha nova bolsa de lado e da moda. Não importa como mas eu levo.

Volta. 
Transcende ao bom início e pára por lá. Porque foi puro. Mesmo que não pareça, foi. Foi o que todas as palavras e enfins não conseguem explicar com tanta veracidade e empolgação. Com respeito. 
ResPeito.
Da criança à mulher. Do sentimentalismo juvenil ao choque de realidade. Do desejo a amizade. Do prazer ao desconforto. Do desconforto ao prazer. Das idiotices à toda a sinceridade. E das idiotices sinceras. Da vergonha ao medo. Da ignorância ao esclarecimento e um milhão de explicações. Do ciúme à brincadeira. Da chuva a tempestade. Do sujo ao esgoto. Do chão ao chão. Do nu com o nu, sem nojo ou vergonha. E do pelo ao apelo. 
Da alegria até a tristeza. Do fim do ínicio ao fim do final e começo do re-início. Do mesmo erro e da vontade de ser diferente.

Da hora que agora são só segundos.
Do escárnio aos poemas. 
Daqui até aí. Indo e voltando. 
Da chuva . Tempestade. 




Jéssica  M.  Nunes 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A Palavra


A Palavra

Rodolfo Pamplona Filho
A palavra encanta
e provoca a reflexão
Se a imagem diz muito,
a palavra diz tudo,
para sábios e incultos,
na medida do seu alcance...

Madrid, 01 de outubro de 2012.

domingo, 27 de outubro de 2013

Poe-mail

Poe-mail
Tércio Roberto Peixoto Souza

Um abraço neste dia,
Para uma homenagem compartilhar.
De um querido Mestre,
Que ninguém se cansa de admirar

Mas, com as coisas da vida,
não se deve brincar.
A correria, uma audiência,
tudo pode atrapalhar.

E atrapalhou...
mas não o apreço,
antes reafirmou
que apenas é o começo...

Embora há tantos anos já se punha a começar.
Embora por distância, permita-me assim te abraçar.
Um pequeno poe-mail apenas para parabenizar.

Salvador, 26 de outubro de 2012, de improviso...

sábado, 26 de outubro de 2013

Sabedoria em Efésios 5, 15-21


Sabedoria em Efésios 5, 15-21

Rodolfo Pamplona Filho
Sabedoria é mais do que
algo de tudo conhecer...
é saber lidar com o tempo,
a vontade e os desejos...
pois não saber dominar o tempo
é se tornar escravo dele...
pois não admnistrar a vontade
é ser dominado por ela...
pois não depurar seus desejos
é se entregar a eles...

O controle do tempo não significa
conseguir fazer tudo na vida,
mas, sim, saber o que se prioriza
e o que nem entra na lista...
A vontade não pode se resumir
ao que dá certo,
mas sim a intenção
que se leva no coração...
Saber qual é o seu desejo
não é negar a própria satisfação,
mas ter plena e efetiva consciência
do que é vital para a sobrevivência.

Salvador, 21 de outubro de 2012, refletindo sobre a palavra do Pastor Afa Neto...

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Raul


O Raul
(Texto de
Max Gehringer - CBN)



Durante minha vida profissional, eu topei com algumas figuras cujo sucesso surpreende muita gente.

Figuras sem um vistoso currículo acadêmico, sem um grande diferencial técnico, sem muito networking ou marketing pessoal. Figuras como o Raul.

Eu conheço o Raul desde os tempos da faculdade. Na época, nós tínhamos um colega de classe, o Pena, que era um gênio.

Na hora de fazer um trabalho em grupo, todos nós queríamos cair no grupo do Pena, porque o Pena fazia tudo sozinho.

Ele escolhia o tema, pesquisava os livros, redigia muito bem e ainda desenhava a capa do trabalho - com tinta nanquim.

Já o Raul nem dava palpite. Ficava ali num canto, dizendo que seu papel no grupo era um só, apoiar o Pena.

Qualquer coisa que o Pena precisasse, o Raul já estava providenciando, antes que o Pena concluísse a frase.

Deu no que deu.

O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma. E o resto de nós passou meio na carona do Pena - que, além de nos dar uma colher de chá nos trabalhos, ainda permitia que a gente colasse dele nas provas.


No dia da formatura, o diretor da escola chamou o Pena de 'paradigma do estudante que enobrece esta instituição de ensino'.

E o Raul ali, na terceira fila, só aplaudindo.

Dez anos depois, o Pena era a estrela da área de planejamento de uma multinacional.

Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis projeções estratégicas de cinco e dez anos.

E quem era o chefe do Pena? O Raul.

E como é que o Raul tinha conseguido chegar àquela posição? Ninguém na empresa sabia explicar direito.

O Raul vivia repetindo que tinha subordinados melhores do que ele, e ninguém ali parecia discordar de tal afirmação.

Além disso, o Raul continuava a fazer o que fazia na escola, ele apoiava.

Alguém tinha um problema? Era só falar com o Raul que o Raul dava um jeito.

Meu último contato com o Raul foi há um ano. Ele havia sido transferido para Miami, onde fica a sede da empresa.

Quando conversou comigo, o Raul disse que havia ficado surpreso com o convite. Porque, ali na matriz, o mais burrinho já tinha sido astronauta.

E eu perguntei ao Raul qual era a função dele. Pergunta inócua, porque eu já sabia a resposta.

O Raul apoiava. Direcionava daqui, facilitava dali, essas coisas que, na teoria, ninguém precisaria mandar um brasileiro até Miami para fazer.

Foi quando, num evento em São Paulo, eu conheci o Vice-presidente de recursos humanos da empresa do Raul.

E ele me contou que o Raul tinha uma habilidade de valor inestimável:...

ELE ENTENDIA DE GENTE!


Entendia tanto que não se preocupava em ficar à sombra dos próprios subordinados para fazer com que eles se sentissem melhor, e fossem mais produtivos.

E, para me explicar o Raul, o vice-presidente citou Samuel Butler, que eu não sei ao certo quem foi, mas que tem uma frase ótima:
“Qualquer tolo pode pintar um quadro, mas só um gênio consegue vendê-lo".

Essa era a habilidade aparentemente simples que o Raul tinha, de facilitar as relações entre as pessoas.

Perto do Raul, todo comprador normal se sentia um expert e todo pintor comum, um gênio.

Essa era a principal competência dele.

'Há grandes Homens que fazem com que todos se sintam pequenos.
Mas, o verdadeiro Grande Homem é aquele que faz com que todos se sintam Grandes"
.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Discurso de Rodolfo Pamplona Filho na Cerimônia de Recebimento da Comenda "Fátima Stern do Mérito Judiciário" da AMATRA5



Discurso de Rodolfo Pamplona Filho
na Cerimônia de Recebimento da
Comenda "Fátima Stern do Mérito Judiciário" da AMATRA5
(26/10/2012)

Excelentíssima Senhora Dra. Juíza Ana Cláudia Scavuzzi Magno Baptista, MD Presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho da 5ª Região
Senhores magistrados, procuradores, advogados e estudantes de Direito.
Meus amados parentes, alunos e amigos
Senhoras e senhores

                        Hoje é um dia muito importante e emocionante na minha vida!
                        Receber uma condecoração, outorgada pelos próprios pares, é o maior título que alguém pode angariar em sua vida profissional.
                        De fato, homenagens recebidas pelo conjunto da obra produzida ou pela carreira cumprida é algo mais esperado daqueles que, tendo a salutar distância da observação isenta, avaliam e avalizam apenas o fato ou o resultado, motivo pelo qual é tão comum que sodalícios rendam preitos a quem não é da casa.
                        Todavia, ser lembrado, por seus iguais, faz estremecer a convicção de que “ninguém é profeta em sua própria terra” e que o convívio diuturno, no partilhar do sal e do suor, possa desconstruir imagens e impressões...
                        E esta homenagem, neste ano, tem ainda um sabor especial...
                        A Medalha do Mérito Judiciário da Amatra 5 vem sendo outorgada, anualmente, desde 1996, a magistrados da 5ª Região e a personalidades que tenham se destacado nas matérias de interesse institucional da Justiça do Trabalho e/ou do Poder Judiciário como um todo.
                        No final do ano passado, porém, por deliberação da Assembléia da AMATRA5, esta distinção passou a se denominar “Comenda Fátima Stern do Mérito Judiciário", rendendo uma homenagem de justiça e saudade a uma digna magistrada que honrou – e muito – esta casa e o movimento associativista trabalhista local e nacional.
                        Para mim, ser um dos primeiros a receber a Comenda com seu novo nome é um privilégio, que multiplica a emoção, por circunstâncias absolutamente pessoais.
                        Fátima Stern foi a primeira juíza com quem eu trabalhei diretamente no Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região: eu era auxiliar judiciário, lotado no Serviço de Pessoal, quando fui convocado pela Administração para ajudar, como calculista ad hoc, a juíza que acabava de assumir a titularidade da Junta de Conciliação e Julgamento de Jacobina.
                        Eu, ainda estudante de Direito, com 20 anos, não sabia nem como conversar com um juiz, e fui apresentado àquela jovem senhora elegante, educada e sempre preocupada em prestar o melhor serviço ao cidadão, que me mostrou um modelo de conduta que me impressionou e que jamais esquecerei...
                        Por isso, inicio este pronunciamento com o registro público de minha admiração à exemplar juíza que dá nome a esta Comenda, o que não pode ser desprezado por quem quer venha a ser distinguido com ela, daqui em diante.
                        Pensei em várias formas de fazer este rápido discurso.
                        Receber uma honraria com uma votação expressiva, sendo o mais votado em uma eleição em que foram indicados diversos valorosos colegas, com reconhecidos méritos para também merecer encômios, é uma consagração que envaideceria qualquer cidadão.
                        E confesso, sem qualquer falsa modéstia ou tentativa rasteira de disfarçada auto-louvação, que, para mim, este reconhecimento é algo que embarga a voz, obnubila a visão e faz a razão ser tomada pela emoção...
                        Nas primeiras vezes em que, pela gentileza, camaradagem e amizade, meu nome foi lembrado para este galardão, não hesitei em fazer campanha contra mim mesmo, pedindo discretamente que retirassem meu nome, já que era comumente indicado junto com colegas bem mais antigos e que já haviam dedicado décadas à nossa instituição.
                        Revelar isso é a forma que tenho de registrar publicamente o meu agradecimento a colegas como Marco Antônio Nascimento (que foi o primeiro a lançar o meu nome no já longíqüo ano de 1999), Agenor Calazans e Paulo Temporal (em 2004), que, em momentos distintos de suas vidas, me fizeram esta homenagem e, estupefactos, viram-me pedir para sair de cena...
                        Mas a insistência de Luciano Martinez em me ver galardoado com esta honraria foi tanta que acabei cessando minha original resistência e admitindo que poderia ser, dentre tantos outros mais merecedores, talvez eventualmente lembrado...
                        E que insistência!
                        Não tenho pudores de declarar que Luciano Martinez é um dos meus melhores amigos e é muito difícil negar algo a quem temos como irmão.
                        Brinquei com ele dizendo que, possivelmente, talvez eu pudesse ganhar pelo cansaço, já que como, por uma questão obviamente ética, eu me recusava a fazer campanha, mas ele contínua e incansavelmente lançava meu nome, no que fui vendo, a cada oportunidade, novos colegas (menciono, dentre tantos, a título meramente exemplificativo, José Cairo Júnior, Raymundo Pinto, Guilherme Ludwig, Murilo Sampaio, Luiza Passo, Andréa Presas e Silvia Isabelle) com ele entoaram coro, até que, neste ano, ganhei este presente maravilhoso...
                        76 votos!
                        Uma participação expressiva de colegas, como a realizar um sonho que pensei que jamais se materializaria...
                        A eles e a todos, agradeço imensamente a honra de ter contado com sua indicação, nesta e em todos os outros momentos de nossa vida comum.
                        Estaria eu mentindo se, por isso, dissesse que não sonhei com este momento por diversas vezes.
                        Em quantas oportunidades, eu já não me imaginei neste momento, compartilhando com os colegas cada experiência, em pronunciamentos imaginários que nunca vieram e nunca virão a lume?
                        Quantas idéias eu já não tive para fazer uma exposição que pudesse tocar tanto razão, quanto coração?
                        Quanta vontade eu já não tive de ser contundente ou caústico, amargo ou enfático, otimista ou pesaroso, entusiasmado ou deprimente?
                        Quantos desejos e pretensões a se fazer, em tão pouco tempo...
                        Mas não farei nada disso...
                        Hoje, com a maturidade que os anos e a experiência possibilitam, o que quero é apenas dar a cada um o que é seu, no recordar do decorrer de uma trajetória que se alonga nesta justiça...
                        Hoje, 26 de outubro de 2012, completo 20 anos, seis meses e 20 dias da data da minha posse como servidor do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região.
                        Mais da metade da minha vida foi aqui vivida, boa parte já como magistrado.
                        Ao TRT, devo quase tudo que sou e me tornei.
                        Aqui, tive alegrias e tristezas, sucessos e decepções, risos e lágrimas...
                        Foi depois de aqui ingressar que me formei, conheci minha esposa, casei, descobri a paternidade, produzi, escrevi, plantei, compus, vivi...
                        E, nesta retrospectiva superior a quatro lustros, o sentimento mais adequado é o de gratidão.
                        “Gratidão não se exige,
                        não se pede, nem se espera...
                        É presente de um coração puro,
                        que não vê outra forma de agir,
                        na memória da marca do passado
                        e do alívio do auxílio no desespero...”
                        (...)
                        “Reconhecer-se grato é o exercício da verdadeira humildade,
                        que é saber que, sozinho, não se consegue nada,
                        pois conquistas isoladas são vitórias de Pirro,
                        em que obter o resultado não significa necessariamente desfrutá-lo...”

                        Gratidão é a resposta sincera
                        que o afeto exige por coerência!
                        É a marca que renova a esperança,
                        que não é a última que morre, posto imortal,
                        mas, sim, a certeza de que
                        ainda se pode ter fé na humanidade”

                        Agradecer
                        Agradecer sempre...
                        Agradecer a aqueles que, como Fátima Stern, não estão mais fisicamente entre nós, mas que estarão sempre em nossas vidas, por viverem em um comodado perpétuo em nossos corações...
                        Lembro o saudoso colega José Joaquim de Almeida Netto, que era o Presidente do TRT quando aqui ingressei como servidor e que, no seu jeito muitas vezes irreverente, colocou-me para dar aula a seus alunos do curso de administração da UNIFACS, antes mesmo de eu me formar...
                        Agradeço ao insuperável Mestre Calmon de Passos, a quem fui aluno e, depois, assistente no Curso de Pós-Graduação em Processo por quatro anos consecutivos. Com Calmon, aprendi a debater, a argumentar, a muitas vezes ir na jugular ou no estômago do adversário, na busca de testar uma tese até o seu limite...
                        Agradeço ao homem mais gentil que conheci em minha vida, Antonio Carlos Araújo de Oliveira, alguém que era muito mais do mais do que um notável jurista: era o terno e eterno professor; era o colega “pau para toda obra”, que nunca recusava uma missão e sempre as cumpria com galhardia e precisão; era o amigo pai e o amigo irmão, que todos elegiam pelo coração... Chamava-o de uma “barema de personalidade”, um instrumento de medição de caráter, pois se houve alguém nesta vida que lhe possa não ter tido admiração realmente boa referência não o era...

                        Passar tantos anos no mesmo ramo do Poder Judiciário fez com que boa parte da minha vida pessoal se confunda com o convívio com pessoas maravilhosas que muito me ensinaram e continuam ensinando...
                        Se mencionar um a um faria com que este discurso se alongasse por toda a tarde, prefiro ser condenado por uma lamentável omissão parcial do que pelo total silêncio...
                        Agradeço a honra de ter trabalhado como servidor dos já mencionados magistrados Fátima Stern e Joaquim Almeida, mas, diretamente e por muito mais tempo, com magistrados que continuam na ativa e fazem parte da minha história, como Luiz Tadeu Leite Vieira e Elisa Amado e, ainda quando eram substitutos, como assistente na 14ª Junta de Conciliação e Julgamento, dos hoje colegas Silvana Resende e Paulo Jucá.
                        Agradeço a honra de ter trabalhado como Auxiliar do magistrado Cláudio Mascarenhas Brandão, que foi meu primeiro professor de Direito do Trabalho (ainda em um curso preparatório para o concurso de servidor) e que me prestigiou com sua amizade, fazendo com que nossas vidas se cruzem de tempos em tempos, seja em debates, congressos, bancas ou aulas. A ele, desejo toda a sorte do mundo, nesta nova luta em que está empenhado e que conta comigo, para o que der e vier, incondicionalmente.
                        Na magistratura, porém, quero, enfaticamente, fazer um Reconhecimento Público de Gratidão a três notáveis juízes: Roberto Pessoa, Dolores Vieira e Waldomiro Pereira. Em momentos de tristeza pessoal, foram eles faróis que me fizeram continuadamente acreditar na missão que assumi profissionalmente e a quem jamais cansarei de render agradecimentos e a dedicar os resultados de meu esforço.
                        O sábio Dr. Waldomiro Pereira, inclusive, em um prefácio, escreveu algo que tomei e tomo com norte em minha vida:
                        “Conta-se, na India, que, certa vez, um famoso santo e matemático, Rama Tirth, foi ao quadro negro e, nele, riscou uma linha. Em seguida, convidou seus alunos a que tornassem aquela linha mais curta.
                        Os discípulos foram, então, ao quadro e pretenderam apagar parte de uma extremidade da linha; outros tentaram diminuir a outra extremidade.
                        Rama Tirth, contudo, advertiu:
                        - Não toquem nele. Não odeiem a linha. Sem tocá-la e sem qualquer sentimento de inimizade, procurem encurtá-la.
                        Os alunos, diante das advertências de Rama Tirth, ficaram perplexos Não sabiam como resolver o problema. Aquietaram-se.
                        Rama Tirth retornou, então, ao quadro e, ao lado da linha que havia traçado, fez outra maior. E arrematou:
                        - Há tanto espaço para crescer que, para ir-se mais alto, não é necessário rebaixar ninguém.”
                        E é esta a postura que assumi para minha vida...
                        Por isso, registro também a honra de ter tido como auxiliares, juízes de grande categoria: pela ordem cronológica, Janaina Scofield. José Cairo Jr., Nélia Santos de Oliveira Hudson e Cláudia Uzêda Doval, além de amados colegas auxiliares ad hoc ou provisórios: Maurício Lopez Freitas e Andréa Mariani Ludwig. A todos, agradeço pelo apoio de todas as horas e pelo prazer que foi e é conviver com vocês, magistrados, como nunca canso de lhes dizer, muito melhores do que eu, apenas um aprendiz da arte de viver...
                        A todos os servidores, com quem convivi, seja como substituto, seja como titular, muitos deles aqui presentes, eu agradeço a honra do seu companheirismo e dedicação. Destaco, em especial, os atuais servidores da gloriosa 1ª Vara do Trabalho de Salvador (“a Primeiríssima”): Edilberto, Mari, Aline, Léo, Belinha, Edu, Lôbo, Chicão, Júlia, Cris, Iran, Lívia e Nathália, bem como os estagiários, de ontem e de hoje, e os servidores que não estão mais na ativa (como esquecer de Ana Lúcia, entre outros?)
                        Ainda sobre os servidores, a coerência do meu coração exige que, publicamente, eu faça um agradecimento á servidora Maria Judith Ribeiro, como um reconhecimento público de como foi importante encontrar um sentimento de inconformidade diante da Injustiça, algo que somente Deus e eu sabemos como foi enfrentar...
                        Tantas outras pessoas que eu gostaria de destacar...
                        Mas o tempo, senhor de toda a razão e incansável carrasco da emoção, exige que se encaminhe para o final...
                        E este final, para ser coerente com minha própria vida, precisa ser sentido como uma poesia...
                        E todo poeta precisa de uma musa para se inspirar...
                        A musa natural é a minha esposa, Emilia, com quem construí uma história comum de afeto e parceria, com os dois filhos mais lindos do universo (Marina e Rodolfinho)...
                        Mas também poderia ser a minha família, como um todo!
                        Meu pai, que já não está entre nós há mais de 10 anos...
                        Minha mãe, que há tempos permanece em uma cama, sob cuidados médicos...
                        Meus irmãos (Luiz Augusto e Ricardo), que vivem em outros cantos do mundo, mas cuja troca de afeto é tão constante que parecem viver do meu lado...
                        Minha família do coração, formada por meus colegas que chamo de irmãos e alunos que chamo de filhos...
                        Mas, para este discurso, talvez a musa deva ser outra...
                        Este é uma manifestação de agradecimento por uma vida na Tribunal Regional do Trabalho, que me deu tudo...
                        E a musa efetiva, portanto, neste caso, deve ser a Deusa da Justiça...
                        Exercer a magistratura é um sonho...
                        Vocação despertada e acalentada desde cedo...
                        E que, a cada dia, faz, em mim, renovar o desejo de servir e de entregar a prestação jurisdicional, não como um dever funcional, mas, sim, como um cumprimento de um sacerdócio...
                        O tempo não me fez perder as esperanças, os sonhos e as expectativas que tive quando decidi ser juiz...
                        Não anestesiei a minha capacidade de me indignar...
                        Nunca desprezei as promessas que fiz ao tomar posse, nem os princípios que, um dia, jurei observar...
                        O tempo faz, sim, com que o pescoço endureça, o ímpeto arrefeça, a voluntariedade muitas vezes enfraqueça...
                        Mas isto não me fez sucumbir às tentações da ironia destrutiva, da acusação leviana, do julgamento sem contraditório, da necessidade de destruição...
                        E isso tudo por fazer parte de um meio, cuja história, por si só, orgulharia qualquer pessoa de Bem.
                        Sinto-me sinceramente acolhido entre colegas e elevado a um panteão que grandes magistrados alcançaram...
                        Encantei-me com um Tribunal cuja sede tinha o nome de um magistrado que era símbolo de inquietação e polivalência (Coqueijo Costa foi de tudo um pouco: juiz, professor, músico, poeta...)
                        Decidi ser juiz, ouvindo um sábio homem e membro, por anos, deste tribunal: Dr. Washington Trindade, que aliava a experiência dos tribunais com a refinada reflexão juridica no magistério...
                        Aprendi a seriedade acadêmica com um dos maiores magistrados da história deste Regional, Pinho Pedreira, dignitário desta medalha em seu primeiro ano (1996), ano em que eu já estava na magistratura...
                        Aprendi método, lógica, coerência e a mais estrita retidão com o melhor professor que eu tive em minha vida, José Augusto Rodrigues Pinto, a quem devoto carinho filial e um amor que gerava até ciúme de meu “pai sanguíneo”.
                        Diante de tantos exemplos - e a palavra ensina, mas é o exemplo que arrasta... - como não sentir um chamado para o magistério?
                        E, nele, descobrir que é possivel se realizar duplamente, exercitando um outro sacerdórcio, que é a nobre arte de, mais do que entregar o resultado, fazer e viabilizar que o outro ande com suas próprias pernas, plante para depois colher, descubra qual é o sentido de cada viver...
                        O magistério e a magistratura não disputam espaço em minha vida, mas, sim, antes, complementam-se, forçando-me a pesquisar sempre (para que nunca ache que saiba de tudo), a tolerar sempre (para que nunca me convença que estou sempre com a razão) e a ouvir sempre (para nunca tomar partido sem garantir um direito substancial de defesa).
                        Quantas vezes, em sala de aula, não exercemos um papel tão relevante quanto nos tribunais, seduzindo, conquistando e desenvolvendo vocações para a nossa luta?
                        E, neste encantamento com a musa que simboliza a Justiça, percebi que não quero ser apenas uma moeda de duas faces...
                        Buscar a justiça é se permitir sentir a dor do outro e compreender a sua beleza e a sua visão...
                        Eu não quero me reduzir a falar nos autos, como se uma resposta processual fosse a palavra do Oráculo dos Delfos para um problema até então insolúvel...
                        Eu quero a vida.
                        Eu quero me compadecer do que sofre e compreender todo o sistema que está em sua volta.
                        Eu quero o convívio, a solidariedade, a alegria...
                        Eu quero a arte, o esporte, a filosofia...
                        Eu quero o canto, a dança e a poesia...
                        Eu quero ser um poliedro que se permite conhecer cada face pouco a pouco, sem necessidade de pressa ou ansiedade...
                        E esta é uma das vantagens da maturidade...
                        Quero, tal qual um Benjamin Button, tornar-me a cada dia mais jovem, se não no físico, pelo menos no espírito de poeta que se renova a cada respirar e a cada encanto da musa que lhe provoca o desejo, a inspiração e a transpiração...
                        Que esta musa seja você, meu recanto, minha casa, meu alimento e meu descanso...
                        Que esta musa seja você, minha família, meus amigos, meus colegas
                        Que esta musa seja você, meus mestres, meus alunos, meus discípulos
                        Que esta musa seja você, minha justiça
                        Muito obrigado.






quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Visitas


"Visitas

Talvez eu não precise de muito.
Somente uma sala
onde eu possa colocar algo confortável no chão
e lá eu durma.

E quando acordar, coma algumas frutas,
um suco, algo saudável e barato, ou mesmo gratuito.
Almoce o básico, coma o arroz e o feijão.
Converse face a face com as pessoas,
passeie no parque, nade no mar

Mas já me vieram perguntar sobre as visitas:
                    [Onde receberá as visitas?]
E eu, depois de pensar um pouco, respondi:
                    [Visitantes não vão em busca de lugares, mas sim de pessoas].


Por Matheus Galvão"

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Mágoas


Mágoas

Rodolfo Pamplona Filho
Há quem prefira
vender uma amizade
por um cachê artístico;
desprezar um amor puro
por ouvir a opinião de uma prima;
desprestigiar o trabalho alheio
para tentar se auto-afirmar;
esquecer uma fraternidade solidária
para soar de vítima da situação;
humilhar com ar de superioridade
a efetivamente investigar o ocorrido;
tripudiar a imagem de colegas
para posar de voz da maioria;
blefar descaradamente e sem pudor
do que aceitar ajuda desinteressada;
ignorar a presença e o cumprimento
em vez de tentar um diálogo honesto;
fazer troça da desgraça alheia
para se sentir aceito no grupo;
perseguir incansavelmente
por não tolerar o diferente;
jogar fora a chance de fazer o Bem,
para se deleitar com seu veneno...

Isso só gera mágoa,
que vira raiva,
até se converter,
se houver o remédio
do esquecimento,
em profunda indiferença,
mesmo sendo cicatriz,
que não se apaga,
para ensinar
em quem vale confiar...

Pamplona, 03 de outubro de 2012, pensando sobre o passado...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A ÚLTIMA MANHÃ DE CARNAVAL


A ÚLTIMA MANHÃ DE CARNAVAL
(Cairo Brunno, Teresina(PI) em 04.08.2011)

Meu bem, estou indo à praia
Eu preciso ver o sol nessa manhã de carnaval
Amanhã será a quarta-feira cinza
Em que nossas frontes serão marcadas
Por cinzas de sabe-se lá o quê
Como bois sinalizados esperando o golpe de misericórdia
Que de piedoso leva apenas o nome
Mas o que interessa é que hoje ainda é folia
Venha cá! Olhe através da janela
E veja a multidão que se movimenta lá fora
Seus ouvidos não conseguem escutar os impactos
Dos pés que impulsionam os corpos?
Não, não diga que eu estou ficando louco
Aquilo lá embaixo na avenida não são carros
São pessoas coloridas com suas bandeiras hasteadas
Não, eu não aceito essa sua reserva
Eu não aceito esse seu olhar de quem comeu e gostou
Não se conforme, meu bem, com aquilo que é
Sim, eu prometo que não enlouquecerei por enquanto
Mas se você fosse como eu, viveria todos os dias
Como se fosse a véspera de uma quarta-feira de cinzas
Sempre esperando o retorno de uma semana estafante
Meu bem, ouviu o que eu disse? Estou indo à praia
Venha cá! Venha comigo!
Dispense o elevador e desçamos juntos desse décimo andar
Pela escadaria, fazendo barulho, fazendo soar nossas buzinas
Vamos soltar nos corredores os nossos fogos
E eu te imploro para que quando finalmente chegarmos ao nosso destino
O teu corpo te lance ao mar como uma oferenda
Entenda meu pedido nessa manhã, amor
Meu bem, estou indo à praia

domingo, 20 de outubro de 2013

Soneto da Convicção


Soneto da Convicção

Rodolfo Pamplona Filho

Acordo arrependido,
mas não durmo com vontade.
Faço tudo até escondido,
mas assumo a verdade.

É preciso ter coragem
para enfrentar cada desafio
de arriscar fazer bobagem
ou sentir um calafrio

por se permitir conhecer
o que muitos sequer sonham
ou nunca na vida ousam.

Esta é a razão de viver,
porque pior que errar
é a frustração de não tentar.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.

sábado, 19 de outubro de 2013

Manoel de Barros


Gostaria de ser lembrado como um ser abençoado pela inocência. E que tentou mudar a feição da poesia.(Manoel de Barros)
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/05/voar-fora-da-asa/

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Conhecendo Pamplona


Conhecendo Pamplona

Rodolfo Pamplona Filho
Conhecer Pamplona
foi uma sensação indescritível
Senti-me voltando ao berço,
para conhecer o começo
de tudo que sou
ou que, um dia, quis ser...
Vim tomar a benção
para conseguir tomar a decisão
e, mais do que isso, implementá-la,
sabendo, finalmente, o que vou fazer
com o resto da minha vida...
Quero apenas viver...

Pamplona, 03 de outubro de 2012.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

João Cabral de Melo Neto


"A poesia é a linguagem para a sensibilidade. E a prosa é uma linguagem pra razão. São duas maneiras muito categóricas de ver a coisa porque existe uma prosa como a do James Joyce - é uma prosa que é poesia também - e existe uma poesia como a do Carlos Drummond - é uma poesia que também é prosa, Poesia e prosa são dois extremos mas exatamente o poeta e o prosador muitas vezes ganham de jogar em dois lados. O que acontece com muitos poetas é que eles escrevem os poemas e depois poetizam o poema. Eu tenho a impressão de que a poesia é uma forma de expressão diferente da prosa e não é preciso poetizar o poema. O poema bom, o poema verdadeiro já é poético não precisa fazer poético. A poesia é... nós estivemos falando de corrida de touros ... aquele meu poema sobre Manolete termina assim sem perfumar sua flor, sem poetizar seu poema "
João Cabral de Melo Neto

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Azul Profundo (uma releitura para Marlus)


Azul Profundo

(uma releitura para Marlus)

Rodolfo Pamplona Filho
A conjunção das variáveis
solares, físicas, angulares
faz surgir...  ( : o inacreditável...

Entender que a luz altera
o tom, a cor encanta,
ao transpor, do verde, anil
Mergulhar, azul profundo, 
água do Cair - Be
ou do mar Santorini
ou domar Santa Irini

Planar seu... céus e planos,
como no vôo de Ícaro
ou Gagarin no espaço

Revelar eclipses, 
caminhos carinhos, 
nús horizontes
Saber o mistério do mistério, 
a que destina o segredo, 
do desejo, o impulso


De onde vem este encanto
entorpecente encontro)
que inebria sem embebedar?

o que quer a vida...
viver  uma vida
sem saber teus olhos?

Santorini, 27 de setembro de 2012