segunda-feira, 30 de junho de 2014

Papo Cabeça (ou como dizer nada de forma bonita...)

Papo Cabeça (ou como dizer nada de forma bonita...)

Rodolfo Pamplona Filho
A dinâmica interpessoal
e os imperativos monológicos
em João e Maria:
um estudo sobre
os modos psíquicos
transrelacionais
dos gêneros...


Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

domingo, 29 de junho de 2014

ARTIGOS 403 E 404 DA CLT


ARTIGOS 403 E 404 DA CLT

É proibido qualquer trabalho a menores de 16 anos de idade
Salvo como aprendiz sendo a condição
De acordo com a legislação
A partir dos 14 anos é verdade

O trabalho do menor não poderá ser realizado
Em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico
Moral, social e psíquico
E em horário e locais que não permitam a frequência à escola, está fixado

Ao menor de 18 anos é vedado o trabalho noturno
Este considerado
Quando das 22 às  5hs for executado
Permitido então ao menor somente o trabalho diurno.

JORGE DA ROSA


sábado, 28 de junho de 2014

Desculpa Furada (Viva a Cultura de Vitimização!)


Desculpa Furada (Viva a Cultura de Vitimização!)

Rodolfo Pamplona Filho
Nada do que eu faço é culpa minha!
Toda as minhas influências
e paradigmas comportamentais
ensejaram a internalização
de um gestalt disfuncional!
Sem o devido planejamento,
não há como desenvolver!
Meu comportamento viciado
é fruto de um processo doentio
de codependência forçada!
Preciso urgentemente de
um tratamento holístico integral,
sem internamentos compulsórios,
mas, sim, como resultado
de um diálogo habermasiano
de construção comunicativa
de um consenso democrático
que me permita exercitar,
sem condicionamentos,
a autonomia da vontade...
Sem isso, não há
como responder
por qualquer ato,
pois todo resultado
foi contaminado
pelo desrespeito
da minha individualidade...
Viva a Cultura de Vitimização!


Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

sexta-feira, 27 de junho de 2014

DO TRABALHO DO MENOR - ARTIGO 402 DA CLT

DO TRABALHO DO MENOR

ARTIGO 402 DA CLT

Aqui em verso e prosa vários temas abordamos
Considera-se menor meu coração
Para os efeitos desta Consolidação
O trabalho de 14 até 18 anos

Conforme esse título
O trabalho do menor
Segundo o legislador
Reger-se-á pelas disposições do presente Capítulo

Exceto no serviço em oficinas em que trabalhem exclusivamente
Pessoas da família do menor
E esteja este sob a direção do pai, mãe ou tutor
Observando, entretanto, o disposto no arts. 404, 405 e na Seção II especialmente.

JORGE DA ROSA



quinta-feira, 26 de junho de 2014

Apocalipse 10

Apocalipse 10

Rodolfo Pamplona Filho
Quando o desespero chegar
e tudo mais parece desmoronar,
a resposta está no resgate
da palavra que é projeto,
razão e objetivo final
de decisão existencial...
A solução para
um mundo em convulsão
é a busca incessante
da realização
da noticia alvissareira,
que é o verdadeiro significado
desta própria mensagem
em três "u"'s:
Universal
Urgente e
Útil:
abrangente de céu e mar;
tempestivo como o fôlego no vácuo;
e assimilado para ser compartilhado,
pois, ainda que sob um gosto doce
ao primeiro paladar,
será amargo no estômago,
desagradável no contato
e duro na concreção...
Mas que é a única opção
para quem colocou a mão
na força do arado,
na necessidade do contato
e na concretização da Fé.


Salvador, ouvindo Pastor Afa Neto, no dia dos pais, em 11 de agosto de 2013.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Família

Família

Instituição em constante mutação
Pra mim nunca perderá o grão
Independente de quem seja convidado a entrar
Uma vez lá dentro, não se furtará a somar

Somatório de força e sentido
Ainda que em um único ser se fez embutido
Não importa origem, opinião
O que hoje te forma vai além do padrão

Valores são alterados
Deixam de lado pensamentos ultrapassados
Pois o passado passou
E de lá somente a evolução meu mundo levou

Sociedade em constante alteração
Cujos padrões antigos não se encaixam não
E para deixar todos com direito ao lar
Deixa a porta aberta para a modernidade entrar

Em meio a tantas guerras e tristezas
Nesse mundo o pensamento tem suas clarezas
Hora de mudar a instituição
E de se adaptar a nova Nação

Escrito e julgado
Resposta daquilo que foi alterado
Fato anterior
Torna o Direito fonte de temor

Fonte de regulação da sociedade
Meio de acabar com a maldade
Direito em seu duplo papel
Não pode se afastar das mudanças do anel

Relações homoafetivas
Ou apenas afetivas
Compostas por quem quer que seja
Estará pronta a família que se deseja

E não há como se afastar
Inobstante a repulsa que possa estar
Nesse mérito não entrarei
Já que a vida do outro não conhecerei

Pois o que nesses versos busquei
Foi apenas o que lembrei
De sentimentos puros e transformação
De uma sociedade que não agüenta mais solidão

Vanessa Bacilieri

terça-feira, 24 de junho de 2014

A Ignorância é um direito?

A Ignorância é um direito?

Rodolfo Pamplona Filho
Eu não quero ir para a escola.
Eu não quero aprender
Eu não quero aprender nada
Eu não quero aprender nada novo
Eu não quero aprender nada de novo

Já sei tudo
Já sei tudo que quero
Já sei tudo que quero saber
Já sei até mais que quero saber
Eu gostava mais das coisas quando não sabia nada sobre elas...

Logo, concluo que
estou sendo lesado;
estou sendo violentado;
estou sendo educado;
estou sendo educado contra minha vontade...

Então, ser ignorante é um direito?
Não sei!
Mas também não quero descobrir...


Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Pig_Father


Pig_Father

Pai! 
Pai não é só aquele 
que é casado com sua mãe 
e nem só o pai do seu irmão. 
Ele também é de coração 
e nesse caso também é um amigão.
Ensinou-me muito 
e com ele quero estar junto. 
Ajudou-me em múltiplas coisas 
e me deixou fazer as coisas mais doidas, 
desde ir de Batman para a igreja. 
Então, com ele não há tristeza.

Ainda não falei seu nome, 
mas saiba que ele é um grande homem. 
O nome dele é Rodolfo, 
que não é o mesmo que Adolfo. 
Nos conhecemos melhor em Praia do Forte 
e isso foi uma grande sorte.

Lucas Santos (Pig-Man)
23 de junho de 2013

domingo, 22 de junho de 2014

Biografia Revisionista

Biografia Revisionista

Rodolfo Pamplona Filho
A história é uma ficção,
criada para convencer
de que acontecimentos
são compreensíveis
e de que a vida tem
uma ordem e uma direção.
É por isso que os fatos
são reinterpretados
quando valores mudam...
É preciso sempre ter
novas versões justificadoras
de novos (e velhos) preconceitos...



Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

sábado, 21 de junho de 2014

Constatação Óbvia

Constatação Óbvia

Rodolfo Pamplona Filho
Quanto mais o tempo passa,
quanto mais velho eu fico,
mais a vida adulta parece ser
aquele treco frustrante e idiota
que te impede de ler HQ's...


Salvador, 28 de julho de 2013.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Solidão



              Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.

              Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.

             Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.


              Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida. .. Isto é um princípio da natureza.


              Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância. 


         Solidão é muito mais do que isto.


         Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.... 


 Francisco  Buarque  de  Holanda
 


quinta-feira, 19 de junho de 2014

A Pior Cegueira (João 9)

A Pior Cegueira (João 9)

Rodolfo Pamplona Filho
Há quem queira
ser patrão de Deus:
ordenando, determinando
e exigindo o cumprimento...
Há quem queira
ser dono de Deus:
dizendo o que deve ser feito
para que se cumpra o preceito...
Mas o cego que volta a ver
não quer nem saber
de fórmulas, regras ou senões,
ou mesmo de dogmas ou tradições...
A fé pura se manifesta
com a mera descrição
dos fatos de uma vida reta
ou de uma simples constatação:
há perguntas que não têm resposta,
pelo menos para quem é humano,
e, para a vida, a melhor proposta
é ser só parte do grande plano
que envolve o passado e o presente
de quem estava perdido e foi achado
e não se sente mais deficiente,
embora haja muito a ser recuperado,
mesmo que isto custe sua expulsão
ou a sua imediata rejeição
por um clero mais preocupado
em se manter do que crer,
de falar do que viver,
de obedecer do que servir
e de mandar do que amar...


Salvador, 21 de julho de 2013.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

AMADA


AMADA
                                                         Juraci Alves

Amar a outra é fazer feliz
Sempre que o destino nos diz
Se não existe alegria
Como ser feliz!

Quem admira é a alma
Os olhos vêm
O cheiro jamais esquece
No profundo da essência

A outra pode ter razão
Sempre que falamos ou exaltamos
Sangue que ferve na veia
Lembra o vermelho da paixão

Amar é amor verdadeiro
Obstáculos quem nunca viu
Sem tropeço
A expressão do meu por ti


                   Lauro de Freitas/BA, 15/07/2013 às 03:54

terça-feira, 17 de junho de 2014

Vendo a Vida de Forma Cruel

Vendo a Vida de Forma Cruel

Rodolfo Pamplona Filho
Será que existe amizade?
Ou será apenas
uma rede de
apoio necessário
ao indivíduo?
Só os fracos querem
calor humano:
alguém que finja ouvir
enquanto se reclama da vida...
Animais só precisam
de comida, bebida,
sono e sexo
e, por isso,
aproveita-se a vida,
empaturra-se
e namora...
Quando vem
o cansaço
desta rotina,
escolhe-se um
parceiro eterno...
Quando se dá conta
da própria mortalidade,
passa-se a ter filhos,
buscando felicidade
no dom de conceber,
quando, na verdade,
qualquer organismo
é capaz de procriar,
inclusive amebas,
que se dividem...
Não existe
o altruísmo,
nem pureza
de sentimentos,
mas, sim, apenas
condicionamentos
dos traumas da educação
ou da culpa da religião,
já que toda interação
humana é uma transação,
buscando pessoas que dão
aquilo que se quer,
formando laços de longo prazo
como um natural resultado
e chamando isso de família...
Depois que passei
a nisto acreditar,
matei-me...



Salvador, 14 de julho de 2013.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

MORTO

MORTO

Reinos  despedaçados
Não há assombro,
Ao escárnio da plateia.
Represento o papel que me cabe
Soberbamente estéril,
Palco de um império   em ruínas.
Outrora havia um homem que um homem era.  
(Está morto).
A morte  sobreveio lenta, na lenta sombra que  devora
claridades.
Jogador, imperturbável , aposto  nos Reis.
Lobo farejador de inocências 
A Fera corrompida mira e seduz
Os vermes dissimulados, todos,
apostam em mim.
Imobilidade
Fétido odor.
Reino das trevas, espectro sou.
Sem jurados, sem juízes,
Sigo neste comboio de servos.
Polida falsa superfície.

Cláudia Reina
05 de julho 2013.


domingo, 15 de junho de 2014

Os Cavaleiros do Apocalipse e o Julgamento Final

Os Cavaleiros do Apocalipse e o Julgamento Final

Rodolfo Pamplona Filho
O primeiro é a ganância,
na sua mais pura projeção,
como a sede de poder
e a fome de dominação...

O segundo é a violência,
em que a paz é obtida
pela força e pelo medo
do que pode acontecer...

O terceiro é a exploração,
na profunda opressão,
que impõe a pobreza
em troca da luxuria

O quarto é a Morte,
como a consequência natural
de todo o sofrimento
da passagem dos batedores.

Tudo isso com apenas quatro selos,
mas a mudança e a redenção virão
na manifestação física definitiva
da abertura do número de perfeição,

subvertendo a fria lógica
da contagem aritmética
e da postura da maioria,
justificando a meritocracia,

no critério do julgador final,
que não deixará testemunhas,
pois ninguém é nada em essência,
devendo toda sua existência
à história que cada um construiu.


Salvador, 07 de julho de 2013, refletindo sobre Apocalipse, 6: 1:17.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Wanderlust

Wanderlust

Rodolfo Pamplona Filho
Desejo de viajar
Desbravar lugares insólitos
Conhecer pessoas e culturas
Traçar seu próprio destino.


São Paulo, 25 de junho de 2013.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

CASAMENTO ABERTO DÁ CERTO?

CASAMENTO ABERTO DÁ CERTO?

“Durante 13 anos fui monogâmica, mas com muitas escapadas do marido. Agora, ele veio com a receita ideal: o casamento aberto. Até gosto de me sentir desejada por outros homens e consegui encontrar prazer, mas ao...

mesmo tempo morro de ciúmes dele com outras mulheres. Isso pode dar certo? Carinho, Maria.

Querida Maria,

O problema do casamento aberto é que ele logo se torna escancarado.

Casamento aberto é uma invenção de quem já traía.

Casamento aberto é uma fachada de lavagem de dinheiro.

Casamento aberto é colorir a amizade e desbotar o amor.

Casamento aberto é uma forma intelectual de acumular mulheres.

Casamento aberto é agência para recrutar nova esposa.

Casamento aberto é dividir os méritos, mas não dividir as dívidas.

Casamento aberto é substituir a sinceridade pela bajulação.

Casamento aberto é o conforto para os indecisos e os mornos.

Casamento aberto é quando o ciúme é menor do que a realidade.

Casamento aberto é se sentir desejada por todos os homens, menos por aquele que você deseja.
Casamento aberto é a receita ideal para uma vida de solteiro.

Casamento aberto é menosprezar a dependência dos hábitos.

Casamento aberto é concurso de sósias.

Casamento aberto é falsificar o pecado original.

Casamento aberto é apagar até a possibilidade de trair.

Casamento aberto é transar no divã.

Casamento aberto é admirar a sogra mais do que a esposa.

Casamento aberto é fazer discussão de relacionamento com amantes.

Casamento aberto é perder o privilégio da vigília, de alguém acordado por você reclamando que é tarde demais.

Casamento aberto é ter o sonho assaltado toda semana.

Casamento aberto é transformar o sexo oposto em sexo aposto: casamento, aberto.

Casamento aberto é anular a cobrança e a crítica que você possa receber: é a impunidade amorosa.

Casamento aberto é trocar as portas pelas cercas, é trocar o s cabelos pelos chifres, é trocar a confiança pelo medo.

Casamento aberto é para quem não tem coragem nem de se casar muito menos de se separar.

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Acuado, mas pensando...

Acuado, mas pensando...

Rodolfo Pamplona Filho
Preso, restrito, cercado
Verdadeiramente acuado
Sem noticias
Sem informação
Apenas a tensão
de não poder fazer nada,
mas, mesmo assim, permanecer
em um misto de apoio,
solidariedade e indignação,
não somente com os motivos,
mas com a própria manifestação...
em que o justo pleito
é verbalizado em um grito
há muito reprimido
e que não quer mais calar...
em que o pai quer ensinar
ao filho como reivindicar
e ser finalmente protagonista
de uma sociedade revista...
mas que se sente impotente
diante de quem só quer aproveitar
para vantagem tirar
ou somente barbarizar
e nos colocar a culpa...
A justa medida não é fácil,
pois a justa medida não existe
e o que é mais triste
é ver o combate não à causa,
mas às consequências
de mais de quinhentos anos
de um Estado sem Governo,
de um povo refém do medo,
de um desejo sem ação
de uma nação sem cidadão...

Aeroporto de Guarulhos, noite de 21 de junho de 2013,
tudo pensado,
literalmente parado,
em um quadrado

de espaço recuado...

terça-feira, 10 de junho de 2014

O Plantonista


O Plantonista

Devemos fazer pelos outros o que gostaríamos que fizessem por nós

Por Jeane Vidal

Era uma noite comum no hospital.
O dr. Raul havia acabado de chegar para dar o seu plantão.
No corredor, alguns pacientes aguardavam atendimento. Ninguém em estado grave. Nenhuma emergência. Graças a Deus, tudo parecia tranquilo.
Médico ortopedista, o dr. Raul é um daqueles médicos admirados por todos e muito procurado. Gentil, prestativo, solidário e extremamente profissional.
Embora atenda a maior parte do seu tempo em um hospital particular, ele não abre mão de dar plantão todas às sextas-feiras no hospital municipal, pois sabe da carência de profissionais na rede pública, e por isso faz questão de dar sua contribuição.
Escolheu a medicina por vocação. Tem verdadeira paixão pela vida humana. O seu maior prazer é zelar por ela.
Estava atendendo o quinto paciente da noite quando ouviu uma movimentação estranha na recepção. Ao sair da sala se deparou com vários enfermeiros correndo de um lado para outro, atônitos.
Ainda sem entender o que estava acontecendo, aproximou-se de um deles e perguntou: "Porque esse alvoroço todo?"
O enfermeiro - tomando fôlego - respondeu: "Houve um acidente grave aqui nas proximidades e as vítimas estão sendo trazidas para cá, mas nós não temos estrutura para recebê-las. Não há leitos suficientes para todos. Recebemos a informação de que são aproximadamente dez pessoas - a maioria em estado grave -, e temos apenas seis leitos disponíveis."
Percebendo a seriedade da situação, o dr. Raul decidiu agir rápido.  Era preciso tomar algumas providências para que essas vítimas pudessem ser atendidas em tempo. Qualquer demora podia significar a perda de uma vida, ou de várias.
As ambulâncias começaram a chegar. Uma. Depois outra e mais outra. Na primeira, uma criança de apenas 5 anos com fratura exposta no braço direito. Os pais também gravemente feridos.
Na segunda, quatro jovens, três deles menores de idade.  O quarto, em estado ainda mais grave, não portava documentos, e por isso não pôde ser identificado. Segundo informações dos policiais que atenderam a ocorrência, o veículo em que eles estavam foi o que provocara o acidente. Estavam em alta velocidade e ultrapassaram o farol vermelho, se chocando com uma Van que levava seis passageiros.
A terceira ambulância trazia mais três vítimas, essas, entretanto, com ferimentos leves. Foram atendidas, medicadas e pouco tempo depois receberam alta.
Das sete pessoas gravemente feridas, felizmente, seis puderam ser atendidas e direcionadas para a UTI.
Mais ainda faltava o quarto jovem. Preocupado, o dr. Raul resolveu contatar alguns hospitais. Não havia vagas.
De repente, um fio de esperança. Veio à sua memória um amigo de faculdade que havia montado uma clínica particular e que dispunha de uma UTI com equipamentos de última geração. Era um médico bem-sucedido, também ortopedista, muito conceituado. Contudo, o perfil de seus pacientes era bem diferente dos que o dr. Raul costumava receber em seu plantão - pessoas de baixa renda, que não tinham condições de pagar por um bom convênio e menos ainda por uma consulta particular. Enquanto o seu colega tinha como pacientes pessoas de alto poder aquisitivo, que não se importavam - e tinham condições - de pagar 500 reais por uma consulta.
Mas era uma emergência e ele não ia se negar a prestar socorro, pensou. Além disso, acima de questões financeiras e pessoais está o compromisso com a vida humana.
Quando o dr. Sandro atendeu ao telefone, o dr. Raul foi direto ao assunto: "Temos uma emergência aqui no hospital e não temos estrutura para atender a todos. Preciso que você receba na sua clínica um jovem gravemente ferido em um acidente de trânsito, pois não temos mais leitos."
"E quem irá se responsabilizar pelas despesas?" Foi a primeira pergunta do dr. Sandro.  "Não temos tempo para resolver isso agora, o rapaz precisa de socorro imediato, o tempo está passando e a cada minuto diminuem suas chances de sobrevivência", enfatizou o dr. Raul.
Irredutível, o médico continuou: "Só recebo em minha clínica se alguém se responsabilizar pelas despesas. Minha clínica não é uma entidade filantrópica", ironizou.
Não vendo alternativa e pensando na integridade física do jovem e no seu compromisso com a vida, se comprometeu a arcar com as despesas caso a família da vítima - ainda não identificada - não tivesse condições de pagar.
Como ele ia pagar, ainda não sabia. O que ele sabia era que faria o que estivesse ao seu alcance para salvar uma vida, ainda que de um desconhecido.
Pensou nos pais daquele jovem, que nem imaginavam que o filho, naquele momento, estava agonizando no corredor de um hospital, aguardando atendimento e com a vida por um fio. Pensou no filho. Aquele rapaz devia ter a mesma idade dele. E se fosse ele no lugar daquele rapaz?  Não, ele não podia ficar indiferente. Ia fazer por aquele rapaz o que ele gostaria que fizessem pelo filho dele.
Já na ambulância, sentado ao lado do jovem inconsciente, o dr. Raul pensava na frieza do dr. Sandro. Infelizmente, ele era o retrato da sociedade moderna - que supervaloriza o dinheiro e o poder em detrimento da vida.
Na Clínica, o dr. Sandro aguardava juntamente com sua equipe para atender o rapaz.  A UTI já estava preparada para recebê-lo.
Chega a ambulância trazendo o jovem. Começa a corrida pela vida.  Já na sala de cirurgia, o paciente é preparado para passar por um procedimento cirúrgico. 
Os dois médicos se cumprimentam e seguem lado a lado para a sala de cirurgia, onde o rapaz será assistido.
Ao abrir a porta e se deparar com aquele rapaz, o dr. Sandro fica paralisado. Não podia ser. Aquilo só podia ser uma brincadeira. Mas não era. O coração fica apertado e a consciência o acusa. Ali, diante dos seus olhos, estava o seu único filho. Não conseguindo conter as lágrimas, retirou-se da sala.
Vendo que o colega não tinha condições de conduzir a cirurgia - nem é recomendado em situações como essa -, o dr. Raul assumiu a equipe médica e deu início ao procedimento.
Enquanto isso, do lado de fora, o dr. Sandro, introspectivo, reavaliava os seus valores e sua conduta. O que poderia ter acontecido com seu filho se o dr. Raul não tivesse assumido a responsabilidade pelas despesas da clínica para convencê-lo a prestar socorro ao seu próprio filho? Como pôde ser tão mesquinho? Não fosse a compaixão e amor ao próximo do colega - que ao contrário dele priorizou a vida de um desconhecido -, seu filho não sobreviveria.
Sentia-se envergonhado.
Permaneceu ali sentado por horas, esperando o término da cirurgia, até que, finalmente, o dr. Raul saiu da sala e informou que a cirurgia fora um sucesso. O rapaz estava fora de perigo.
Aliviado, o pai do jovem abraçou o amigo, agradeceu e lhe pediu perdão pela sua má postura, como profissional da medicina e como ser humano.
E comunicou a sua decisão: a partir daquele dia também daria plantão naquele mesmo hospital público para onde o filho havia sido levado. E, a exemplo do amigo, não mediria esforços para salvar uma vida.
Havia aprendido a lição.

"Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas." (Mt. 7:12).

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Vida Morna


Vida Morna

Rodolfo Pamplona Filho
Nem quente, nem frio...
Apenas morno...
Sem novas sensações
ou quaisquer emoções...
Em que um presente
de aniversario
é difícil demais de ser concedido,
mesmo que seja apenas
alguns momentos de seu tempo...
Mas nada disso importa...
É tudo sensibilidade exacerbada
como se bater à porta
fosse fazer nada...
E a vida segue igual...


São Paulo, 23 de junho de 2013.

domingo, 8 de junho de 2014

A Pausa de Clara.
                                                                                        Eu sou a pausa entre duas notas....
                                                                                                              Rainer Maria Rilke

          Quão bela é Bollenstreeck, coberta por tapeçarias de vivas flores   trançadas entre Leiden e Haarlen. Toda região, encantadora, abre-se para o espanto de estar vivo. Lírios, jacintos, íris, dálias, narcisos, orquídeas. As grandiosas plantações de tulipas são um espetáculo à parte. Soberanas, emolduram  os campos com um fulgurante colorido. As tonalidades  se alteram conforme a luz  cintila .
       A primavera é a primavera . E dela emerge uma beleza que predispõe o amor.
       Delicia-me despertar mais tarde  entre cobertas macias. Carícias derramadas.            O amor iluminado  por amanheceres prateados.
      Entardecer acetinado. A flor. A seiva.  A fonte. Deito-me na relva umedecida.   Caminho à beira dos antigos canais de Leiden. Os raios oblíquos do sol poente a refletir nas águas. As pedras seculares  de onde Rembrandt nasceu. A praça ornada pelas copas das árvores.  Esses dias possuem uma delicada  harmonia .  Brisa envolvente sussurrando canções .  Pausa entre as notas. Doce e indolente.
       A tarde se encerra a esperar o  aclarado, luzes das cidades.
      Uma voz me leva  à   libertação.  Conservo-me  ausente do outrora invasivo. Faces mascaradas. Todas aos pedestais. Fantasmas imersos em impérios   acinzentados. A deterioração  das criaturas, aos servos, não causa vergonha. Sendo os servos, bem distintos, dos só pobres serviçais. Soberba teatral. Personagens em  meios às plumas. Estardalham. Submissos a bajular, regalias.  Encenação vulgar. Aplausos. Vitoriosa hipocrisia. Tal loucura dos fantoches!   Cada um se encarregando de  sugar o outro. Rivalidades: pequenas falhas, venenos mortais. Não há vícios entre os apaniguados  que não encontram  silêncios complacentes. Um frio penetrante escorre pelas vísceras  desses.  Lobos se enredam no torpe cenário  de poder, no torpe cenário de glória. Farejam  o fresco sangue. Áspides sombrias.                  
       Eu sinto um deleite secreto, fruído às escondidas, ao  escapar das escadarias.  Crivadas  de pedras. Roubadas dos templos.     
    Consinto  que lamentem o meu destino banal , não  descubram o meu prazer, inundado de mim.
     Na procura por ternura pura, o azul profundo de tantos oceanos , o verde das trilhas  sinuosas entre íngremes penhascos, o branco nas geleiras esculpidas,  o rubro fulgurante dos roseirais, as  luzes, as sombras, a água límpida que lampeja nos lodaçais, em meus dias.
    Mesmo que procurassem, não encontrariam a vida que transborda pelos poros. Não saberiam decifrar os sinais dessa linguagem tão íntima. Não sentiriam o assombro das flamas nas velas instáveis.  A alegria do homem  que  lavra a terra   sem ser servil.   
   Tão afastada  estou desses  corpos sáfaros por veias ressecadas. As cores desabrocham em meu ser como os bulbos das tulipas.  Mantenho janelas e portas abertas aos mares, às montanhas desalinhadas, aos céus e às suas variantes solares- enevoadas-estreladas.
   O murmúrio das melodias queridas  aquece  o coração. A chuva escorrendo pelos telhados. O sibilo do  vento. O tilintar das taças. O badalar dos sinos. O cântico dos pássaros. Os feixes de lenha que tremulam. A sinfonia dos corpos amantes.
     A contemplação das coisas ao redor  aviva  a alma.  A bandeja de prata. A chaleira de porcelana. A toalha de renda.  Os jarros flóreos. Os retratos nos aparadores de nogueira. Os livros espalhados pelos cantos e recantos. O rubi do vinho na mesa posta para o jantar.    
     Os aromas  enraízam  na  memória. O pão e o vinho.  A terra banhada.  O solo adubado. A fragrância dos jasmins e das lavandas. O odor único  do homem amado.
     Recosto-me ao tronco das cerejeiras em flor. Devaneio observando a dança das pétalas onduladas  ao vento.  O espanto da pausa conduz ao voo esperado.
    Existe um tempo de pausa onde não fazer coisa alguma confere  o sentido de plenitude.

  Cláudia Reina

  15 de Junho de 2013.

sábado, 7 de junho de 2014

Idioma Materno

Idioma Materno

Rodolfo Pamplona Filho
Quero sugar o leite do seio
e beijar o lindo umbigo
do idioma materno...
Idioma terno,
Idioma eterno,
que penetra suavemente
no reino das palavras,
invadindo as brechas
e sentindo a língua
que roça delicadamente
o mais sensível
órgão do corpo:
o cérebro...


São Paulo, 23 de junho de 2013, no Museu da Língua Portuguesa...

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Analfabeto Político

O Analfabeto Político

"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o obtuso que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado e, o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais".

Bertolt Brecht

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Cadáver Vivo

Cadáver Vivo

Rodolfo Pamplona Filho
Acordar, comer
Banhar-se, vestir
Trabalhar, beber
Deslocar-se, dormir
Não saber o que mais fazer?
Quem sabe, talvez, viver?
Ver que um dia passa
sem, de nada, achar graça
é finalmente perguntar:
será que morri e
me esqueceram de enterrar?


Salvador, 13 de junho de 2013, após uma sessão de analise junguiana.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Estou ficando tortamente endireitada

De: Debora Garcia Tavares [mailto:deboragarciatavares@yahoo.com.br]
Enviada em: domingo, 23 de junho de 2013 14:21
Para: rpamplonafilho@uol.com.br
Assunto: POESIA


Estou ficando tortamente
 endireitada.
É,
 torta sem gozo nem gosto.
Direito individualizado.
Direito desapropriado.
Direito obrigado.
Direito represado.
Direito indiviso.
Direito repetido.
Direito junto e separado.
Direito do trabalho
à língua tesa e presa,
cheia de defesa.
Direito de penas,
não de galinha,
mas de cupim.
Ah, tantos quantos bastem
para desapropriação
e venda do meu corpo
por preço muito baixo,
mas o tributo elevado
quem paga a carne tem
charqueada.
É,
 direito falido.
Direito tão certo
quanto desafeto,
só isto eu sei.
Ponham as algemas
das afetadas palavras,
das vincadas fardas,
doutores, sentido!
Este é o direito de rei. 

http://rasgandoabismo.blogspot.com.br/2011/09/do-direito-debora-tavares.html

terça-feira, 3 de junho de 2014

A Visão mais Linda do Mundo

A Visão mais Linda do Mundo

Rodolfo Pamplona Filho
De olhos fechados,
não sei bem se estou
acordado ou dormindo...
Mas ouço uma voz:
- Pai, você está bem?
De repente, a luz invade
a tela outrora vazia
e vejo a imagem mais linda
de todo o universo e existência:
o sorriso de Rodolfinho...


Praia do Forte, 30 de maio de 2013.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Cara Valente


Cara Valente

(Marcelo Camelo, na voz de Maria Rita)

Não, ele não vai mais dobrar
Pode até se acostumar
Ele vai viver sozinho
Desaprendeu a dividir...
Foi escolher o mal-me-quer
Entre o amor de uma mulher
E as certezas do caminho
Ele não pôde se entregar
E agora vai ter de pagar
Com o coração
Olha lá!
Ele não é feliz
Sempre diz
Que é do tipo Cara Valente
Mas veja só
A gente sabe...
Esse humor
É coisa de um rapaz
Que sem ter proteção
Foi se esconder atrás
Da cara de vilão
Então, não faz assim rapaz
Não bota esse cartaz
A gente não cai não...
Ê! Ê!
Ele não é de nada
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só!
Um jeito de viver na pior
Ê! Ê!
Ele não é de nada
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só!
Um jeito de viver
Nesse mundo de mágoas...

domingo, 1 de junho de 2014

Wunderlust

Wunderlust

Rodolfo Pamplona Filho
Wanderlust
Wunderbar
Wundervoll
Wunderschön
Wunderlust


São Paulo, 26 de junho de 2013, pensando em alemão...