Ney Pimenta
Valentina acordou cedo, o que não era
qualquer novidade. Diferente era aquela sensação de angústia. Levou um
tempo para compreender e, só depois do café reforçado que fez para
Valteir é que se deu conta... Nove meses. "Dava um filho", pensou.
Estava sem receber seu salário há tanto tempo que já se acostumara. Mas
naquele dia, não. Pensou no marido, se esforçando nas vendas da
concessionária, pensou no casal de filhos cujas roupas começavam a puir
pela falta de novas e resolveu que ia tomar uma atitude, Ah! se não ia!
Era o fim e ela tinha cabelo nas ventas. Não deixava nada barato.
Correu para a escola em que trabalhava e começou a conversar com todos. Tinham de fazer algo.
Ao longe, alguém a observava sem que ela
percebesse. Meia hora depois, um milico todo engalanado entrou e acabou
com tudo... "olhem, moças, vocês vão ter que parar com essa reunião,
senão, infelizmente, vou ter que prender todo mundo". Ficou com raiva.
Olhou fundo nos olhos dele, mas enxergou, como sempre, mais longe na
alma do sujeito. Fazia o que lhe mandavam, não era por vontade
própria...
Se apiedou do homem.
E foi lutar em outra frente.
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