segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O Tempo na Pandemia


 


 

O que é o tempo

na pandemia?

É a chuva que não cessa

ou a água que não sacia?

É o relógio que não para

ou a tal meritocracia?

Não adianta voltar para o ontem,

porque eu era alguém diferente.

Não adianta cogitar como será o amanhã,

pois não saberemos se sobreviveremos...

O que é o tempo

na pandemia?

É um eterno esperar

pela realização do pensamento,

pelo cessar do isolamento

pelo fim deste tormento.

 

Salvador, 28 de junho de 2020.

domingo, 30 de agosto de 2020

Dom Quixote e o amor às “causas perdidas” na advocacia contemporânea


 




Por amor às causas perdidas, por amor a travar as lutas contra 

os “moinhos de vento”, vos escrevo sobre as semelhanças entre a 

advocacia contemporânea e o clássico da literatura mundial “Dom 

Quixote”, escrito no século XVII por Miguel de Cervantes. Uma pequena 

reflexão que fiz ao conhecer o cavaleiro, louco para alguns, herói para 

outros.  

Este personagem icônico da literatura espanhola que deu 

margem a inúmeras composições artísticas por sua excentricidade 

possui semelhanças concretas com a figura do advogado 

contemporâneo e as “lutas” travadas usando a sua espada de nome 

“segurança jurídica”.  

Aos que ainda não foram apresentados ao “cavaleiro”, Dom 

Quixote era um fidalgo tido como louco em seu vilarejo, porque fez a 

leitura de muitos livros sobre a cavalaria medieval e acreditava 

piamente que ele era um cavaleiro. Viveu aventuras ao lado do seu fiel 

companheiro Sancho Pança, sempre combatendo as injustiças sociais, 

em busca da sua amada Princesa Dulcineia de Toboso. Dom Quixote 

foi desacreditado por onde passou, lutava por ideais maiores enquanto 

a população ria das suas ideias. Qualquer semelhança com sua 

realidade, meu caro advogado, não é mera coincidência.   

Em sua peregrinação, Dom Quixote acreditou verdadeiramente 

que os moinhos de vento encontrados no caminho eram gigantes e que 

ele deveria combatê-los, seu fiel escudeiro tenta alertá-lo sobre a 

ilusão, mas Dom Quixote investe suas forças na batalha contra o seu 

inimigo. A expressão “lutar contra moinhos de vento” que utilizamos 

para designar “batalhas em vão” surge desta clássica cena literária.  

 

 

Hoje nos deparamos com este cenário cada vez mais frequente na 

advocacia brasileira, o judiciário tem sido palco de grandes lutas contra 

moinhos de vento. Somos assolados por uma imensa insegurança 

jurídica, na qual estamos reféns do “entendimento do Juiz” que muda 

de acordo com a Comarca ou a Vara (há casos em que na mesma Vara, 

o entendimento muda conforme o assessor). Somos chamados todos os 

dias a usar a nossa armadura e brigar com os gigantes. Não importa o 

que você leu nos livros da cavalaria! 

Lemos muitos livros como o nosso amigo Dom Quixote e me 

parece que ficamos loucos, colegas. Diariamente somos conduzidos a 

uma realidade paralela de posicionamentos que por vezes contrariam 

todo o sistema jurídico, para satisfazer interesses ocultos ou as suas 

próprias convicções sobre as demandas.  

As decisões e despachos nos fazem questionar a nossa própria 

sanidade mental. O pedido do cliente seria uma ilusão como os 

moinhos de vento? Como pode o sistema processual civil brasileiro 

determinar que havendo manifestação expressa das partes quanto à 

“não realização de audiência de conciliação”, o judiciário ainda assim 

deliberar pela realização com fundamento em sua própria convicção?  

Dom Quixote tem sempre as melhores intenções, como os 

advogados em suas atuações pelos seus clientes. Como explicar ao seu 

cliente que a demanda dele (idêntica a um outro caso que você também 

já atuou e obteve êxito) foi julgada improcedente? Apenas porque teve o 

“azar” de ser distribuído a determinada Vara, na qual o Juiz decide de 

forma contrária ao seu pleito. Viramos o “Judiciário da loteria”, meus 

caros.  

Assim como o Dom Quixote, na advocacia precisamos ter a 

ousadia de enxergar com os olhos da alma, como o nobre cavaleiro, 

observando o conteúdo imaterial que as demandas possuem. Não são 

processos apenas, são sonhos, frustrações, mágoas e alegrias dos seus 

 

 

clientes que você, meu caro advogado, é o porta-voz.  Assim como o 

Dom Quixote descobre a duras penas, percebemos também que não 

temos super poderes para enfrentar os “gigantes”, mas as batalhas 

ganham um maior sentido quando enfrentadas pelo ideal de justiça. É 

preciso ter “sangue no olho” como o Dom Quixote.   

Cuidado! O próximo parágrafo contém spoiler do livro e da vida.  

Ao retornar ao seu povoado, após as desventuras vividas, Dom 

Quixote percebe que ele não é um herói, assim como não existem 

heróis. Heróis salvam o mundo independentemente de qualquer 

realidade difícil que lhe seja apresentada e tudo dá certo no final. Não 

há heróis, meus caros, mas continuemos a travar as nossas batalhas 

contra os “moinhos de vento”, por amor às causas perdidas, aos 

sonhos e desejos do outro.  

Me despeço deste breve paralelo com o desejo de muitos “finais 

felizes” aos meus colegas de cavalaria, cheio de “heróis” da vida real, 

“princesas” a resgatar e injustiças a combater, para que possamos viver 

a cada dia novas “loucuras” como o nosso amigo Dom Quixote.  

“Mudar o mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, não é 

utopia, é justiça!” 


MIGUEL DE CERVANTES  

sábado, 29 de agosto de 2020

O Novo Normal e a Pandemia


 


A Pandemia

destruiu

o que se entendia

e reconstruiu

o que se avizinha

como “normal”.

Seja no meio social

ou em qualquer ambiente,

a gente sente

que não se sabe mais

se o que ficou para trás

algum dia voltará

ou, de fato, como será

o que um dia

foi ou ia

ser a realidade

da sociedade.

Comunicações virtuais,

isolamentos presenciais,

audiências on line,

aulas em live,

banhos em álcool gel,

processos sem papel...

Tudo realmente mudou...

Só não muda a dor

de se sentir oprimido

ou profundamente atingido

pela exclusão digital

ou desigualdade abissal

de um mundo cruel

como um quadro sem pincel,

na construção do “novo normal”,

em que não existe bem ou mal,

pois não há passo forte ou brando

já que o caminho se faz caminhando...

 

Salvador, 02 de agosto de 2020.

 

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Como é a nossa escrita





 Como é a nossa escrita


vista por outros leitores?


Causa dor?


Causa amor?


Causa raiva?


Causa tristeza?


Causa inspiração?


Que causemos um pouco de tudo


menos a solidão de não ser lido!


Justa causa amar a poesia!


 


Ludmila Costa

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Normalidade na Pandemia

 


 

O que é normal?

Era o que se vivia

até então?

Era somente

a nossa percepção?

Era algo que

não existe

ou, se existiu,

nunca mais existirá...

Se o normal não voltará,

talvez nunca terá mesmo existido,

pois o normal será construído

no caminho que será vivido...

 

Salvador, 28 de junho de 2020.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Verbo julgar



Eu quero eliminar, para mim, 

a 1ª pessoa do singular do verbo julgar.

Será factível?

Será possível?


Vivo me policiando

Me esquivando!

Deixa o juiz fazer isso!

É difícil, mas não impossível!


Será que eu julgo quando penso

que alguém está julgando?

Já estou conjecturando?

Daqui a pouco, estão me observando.


A vida: o imponderável!

E se eu falho?

Lá vem julgamento 

de todos os lados!


Sério! Tenho preocupado-me muito 

em não julgar. Exercício diário benéfico! Estou me esforçando, com afinco,

para não fazer mais isto.


É tarefa árdua,

todavia tenho evitado essa prática,

por vezes, nefasta

por vezes, ingrata!


Ao perceber a sociedade julgando, 

e, a todo instante, pessoas, 

fora da atuação típica, analisando, sobretudo crimes, pego-me em pânico!


Ando deixando que o magistrado

faça esse trabalho, afinal,

ele sim 

foi para isso talhado!


Difícil libertar-me do Direito,

que me ensinou

a decidir, mas que bom chegou

a Psicologia que me ensinou a refletir!


O Direito, pragmático,

mostrou-me como agir! Conduziu-me

na busca por solucões imediatas.

A Psicologia me fala que tenho que sentir!


Soltei

a minha alma,

começando

a estudá-la!


O Direito nos faz, por vezes,

ter posições firmes demais!

A Psicologia acolhe, nem sempre resolve,

porém envolve!


Estas duas profissões 

deveriam andar lado a lado!

Travariam um excelente diálogo!

O nosso Direito é deveras orgulhoso!


O Direito fala!

A Psicologia escuta!

Ele procura justiça.

Ela corre atrás da paz.


Evidentemente, justiça traz paz,

mas e para parte que não se satisfaz?

Tem muita gente aguerrida,

que gosta de mexer na ferida!


Aí, a Psicologia pode acalmar!

Pode trazer vida 

para a pessoa

que desanima!


Em muitos casos, é melhor fechar a porta do passado.

Depois de estudado o nosso caso,

é bom seguir avante! Confiante!


Para mim funcionou assim:

Deixei o radicalismo de lado!

A Psicologia virou minha rainha;

O Direito, meu amigo do peito! 


Perfeito encontro! 

Excelente contraponto!

Estudar sempre!  Aprender!

Crescer!


Agora, só me debruço

em algum assunto

se tenho algo a decidir

Já é demais para mim!


O Direito jamais ficará esquecido!

Ele é fundamental!

Essencial!

Na verdade, a ciência jurídica é linda!


Não gosto é deste nosso ordenamento jurídico! Frio!

Não se curva à filosofia! 

Não se aproxima da sociologia!


Não conversa com outras ciências!

Não troca ideia com a Psicologia

Isso eu reparo!

É falho!


Tenho que reconhecer um movimento tímido, caminhando nesse sentido.

Deus, já estou eu julgando?

Vou me calando!


Vou me penitenciando!

Tenho esperança que o homem, 

que opera o Direito,

fique cada vez mais humano!


Lu Jorge

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Maratonar na Pandemia

 


 

Séries, filmes

Sexo, vinhos

Tudo pode ser maratonado

Quando se está isolado

É viver um novo mundo

A dois

ou buscando companhia

no zapear

do controle

até alcançar a satisfação

do canal do seu coração.

 

Salvador, 28 de junho de 2020.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Poucas luzes

 



São poucas as luzes nessa madrugada, trazendo para minha vida iluminação!

 

Depois que fui arrebatada da sua presença...

De estar com você ao alcance das mãos,

É muita penumbra, sombras de ilusão.

Não há, no horizonte, estrela d’alva a guiar-me rumo a sua direção.

 

Não sei o caminho.

Há pregadas em labirintos no nosso destino

E isto aumenta a espera saudosa em meu coração.

 

São poucas as luzes nessa madrugada, trazendo para minha vida iluminação!

 

O Mundo dá voltas

E eu avalio:

Quem sabe um dia as nossas coordenadas

Se cruzem certeiras ao alvedrio?

E nos permitam videntes amantes de um lindo caminho

Em que o sol seja luz de nova trajetória

Agora, escrevendo-se história sem desalinhos,

Apagando-se a memória da profunda tristeza

Que foi na vida estar sozinha.


(Negra Luz)

domingo, 23 de agosto de 2020

Literatura Brasileira na Pandemia

 


 

Ficar confinado na pandemia

pode trazer uma alegria:

ser a oportunidade

de saciar a vontade

de refazer a leitura

de tudo que a cultura

um dia nos proporcionou.

 

Deleitar-se com Machado,

aprofundar-se em Jorge Amado,

desvendar as aventuras

de Guimarães Rosa,

saborear a gostosura

do verso e da prosa

de quem tudo iniciou...

 

E, de repente, descobrir

novos deslumbres no porvir

do enfrentar uma vida dura

com a beleza da literatura,

pois não há, na quarentena,

melhor companhia que um poema

ou uma história sincera de amor.

 

Salvador, 02 de julho de 2020.

sábado, 22 de agosto de 2020

GRATIDÃO

 


Veio tomar água no rio

Uma formiga sedenta.

Subiu numa folha e disse:

“Será que ela me aguenta?”


Porém, a verde folhinha 

Era frágil, com certeza.

A formiga escorregou

E caiu na correnteza.


Uma pomba ali pousada

Num galho de uma ingazeira,

Vendo a formiga em perigo,

Acudiu a companheira.


Uma folha bem maior

A pombinha arrancou

E ali perto da formiga

Com seu bico a lançou.


A formiguinha subiu

Naquela folha comprida.

Agradeceu à pombinha

Por ter lhe salvado a vida.


E conseguiu alcançar

A margem do outro lado.

E matou a sua sede

Naquele rio gelado.


Um caçador bem malvado

Ela avistou, de repente.

Apontava uma espingarda

Para a pombinha inocente.


A formiga aproximou-se

Do homem, bem devagar.

Deu-lhe uma ferroada

No seu grande calcanhar.


O caçador deu um grito,

E deixou a arma cair.

A pombinha, mais esperta,

Conseguiu escapulir.


E voou ali pertinho

Da corajosa formiga.

E, agradecida, arrulhou:

“Obrigada, minha amiga!”


Geraldo de Castro Pereira

(Historinha infantil, que eu versifiquei)

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Futebol na Pandemia

 

 

Será que nunca mais

terei a oportunidade

de, a um estádio, comparecer

para, por meu time, torcer?

 

Será que ficou para trás

a incomensurável felicidade

de soltar o grito da garganta

e que nada mais adianta?

 

Quero muito poder gritar,

abraçar e comemorar

o momento mágico do gol,

 

pois, na curta estrada da vida,

minha única arte desenvolvida

é ser tudo o que sou.

 

Salvador, 03 de julho de 2020.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Violões adolescentes



Estavam empoeirados.

Décadas de armários, 

Sob cortinas,

Suportados por livros.

Num sopro induzido,

A poeira subiu!

Uma por uma, as notas foram ouvidas.

O Tempo voltou.

A matrix, escrita outrora,

Era ouvida no agora:

Violões adolescentes 

Exalavam o desejo de vida.

Indignações depressivas,

Crença no “Amanhecer”.

Haveria um “Equilíbrio Distante”?

“O bêbado e o equilibrista” passaram por lá

E, ainda hoje, bambeiam!

Talvez, o desalinho seja até mais forte.

Há infinita razão.

Um vento à revelia do sopro!

As cordas, agora mais limpas,

Ecoam o mofo sobre aquelas notas...

“Vamos fazer um filme”?

Dúvida passiva.

A vida já é samba tocado em cada esquina

Com ou sem máscaras.

“Como será o amanhã?”

Quem vai responder?

Esteja lá!

Haverá mais pó nas entranhas do violão:

Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si grisalhas:

Desejo.

Quando o ar em movimento passar,

E o sopro de vida espargir,

Que a partitura ouvida seja:

“A Paz” reinando no meu coração,

E no seu,

E no nosso!

E no Mundo!


(Negra Luz)


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Força Maior e Pandemia

 


Inevitável

Imprevisível

O impossível

aconteceu

E a profecia

apocalíptica

tornou-se

realidade...

Não foi uma guerra,

nem um desastre natural,

mas, sim, um vírus

que a tudo atingiu,

fulminando negócios,

extinguindo relações,

destruindo economias,

despedaçando corações...

E a força maior

tornou-se a resposta

e a desculpa

para todos e todas,

na certeza

que a normalidade

nunca mais retornará

à nossa realidade...

 

Salvador, 30 de junho de 2020.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Velas náufragas



Retenho a alma da minha cidade encantada

e o coração

de seus viventes na armadura

de um farol que busca amplidões 


no choque entre as pedras

mansas e bravas


que se desprendem do azul oceânico

de um céu vazio


As águas refeitas são nuvens

de presságios que se iluminam

na sede de um ser doído,

cansado de guerra

contra si mesmo


E toda palavra reside

em seu globo de luz


assim como todo homem que nasce

no litoral vive do seu

sopro de mar, da sua raiz

de fundos longínquos

parada no etéreo


Lumar! Lumar! 



Diego Mendes Sousa

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Fake News na Pandemia


 

A Internet

deu voz

a quem não tem

o que dizer

e que acaba

dizendo

o que não consegue esconder:

a sua própria raiva,

ódio e ignorância,

misturados com a insegurança

de simplesmente

antipatizar

quem virou alvo

do seu difamar,

como se seu mal querer

pudesse justificar

ou verdade tornar

o fel que escorre

no íntimo do seu ser.

 

Salvador, 25 de julho de 2020

domingo, 16 de agosto de 2020

Ser Dor Mar


Cosmonave de um coração costeiro

que navega na preamar da dor

na maré do amor

no mar do ser

meu alterego

a dor-mar

a domar

os sargaços

de um sal salgado

de um sol solstício

de uma lua lunática

que passa na alma

de enseada


Meu coração aberto

nas praias do sonho

litoral de aberturas

ao mundo


SOUSA, Diego Mendes. "Ser dor mar". In:__. "Opus II: Coração Costeiro". In:__. Velas náufragas. Guaratinguetá, SP.: Penalux, 2019.

sábado, 15 de agosto de 2020

Esperança na Pandemia

 


 

Ficar bom

Ficar saudável

Na tristeza e na Dor,

busca-se um Salvador

Um sonho

Uma vacina

Uma segurança

Uma lembrança

De quando ainda

acreditava no futuro...

E, mesmo no escuro,

não há como abrir mão:

Só há um único direito

verdadeiramente inalienável

e é o de ter esperança...

 

Salvador, 28 de junho de 2020.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Parnaíba


Você chega a Parnaíba e a cidade inteira abre-se num sorriso para abraçá-lo. Seus olhos, a princípio, não acreditam que, numa região árida como o Nordeste, possa haver jardins profusos, árvores frondosas e cheiro bom de água no esguicho das mangueiras. Mas ali existe tudo isso.

Parnaíba (sem melindrar as demais cidades nordestinas) é exemplo admirável em matéria de limpeza e administração. Rigorosamente asseada, com uma crescente dotação de residências modernas e casas comerciais de grande porte, a cidade que incha de progresso às margens do rio que canta “cantigas de águas claras soluçando”, é, sem qualquer contestação, a mais limpa de todo o Nordeste do Brasil. Limpa em todos os sentidos.

No centro, ruas e praças amplas, arborizadas, sem chagas de congestionamento social e com a presença de vários edifícios funcionais moldados ao gosto da arquitetura moderna; na faixa intermediária, estabelecimentos de ensino e residências de estilo antigo, porém sempre conservando harmoniosa e simpática visão de conjunto.

Lá fora, nas areias que se estendem num branco e uniforme lençol de planura, os casebres de palha, bem-feitinhos, pitorescos e higienizados. Mesmo na sua categoria de habitações humildes, não fornecem ingresso ao lixo ou à podridão. As crianças que ali habitam não tem placas de grude no rosto nem feridas nos pés.

Predomina em Parnaíba um elevado princípio de solidariedade humana. A sua população é uma família só. Os que têm mãos estendem-nas àqueles que não as têm e estes sabem dar o beijo de reconhecimento a quantos os ajudam. É a cidade de menor custo de vida em todo o Nordeste, com vários Bancos, um excelente hotel, magníficos educandários, sociedade requintada e amante da cultura. Seu comércio é sólido e espera, há muitos anos, pela construção do Posto  de Amarração, que será o maior presente que o Governo Federal poderá oferecer não só àquela cidade, mas a todo o Estado do Piauí. 

Nesta crônica sincera, quero soltar 60 milhões de foguetes à administração do Prefeito de Parnaíba, Engenheiro Alberto Silva, que sabe, sobretudo, conservar sempre limpa e florida a formosa e progressiva cidade que dirige.


Fonte: Gazeta de Notícias (CE), 09 de janeiro de 1957, página 3.


Rogaciano Leite (1920-1969)

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Desigualdade na Pandemia

 


 

Enquanto uns estão em isolamento,

outros continuam no movimento

da contínua servidão,

herança da escravidão,

de estar na mesma tempestade,

e não no mesmo barco, de verdade,

em que a única coisa gritante

é perceber, em um instante,

o que é desigualdade.

 

Salvador, 28 de junho de 2020.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Quando Vier a Primavera



Quando vier a Primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria

E a Primavera era depois de amanhã,

Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente,

Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. O que for, quando for, é que será o que é.

(Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos).

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Norma Hipotética Fundamental




Você é meu Direito Adquirido,
meu ato jurídico perfeito,
minha coisa julgada

Você é minha segurança jurídica,
minha estabilidade reconhecida,
meu princípio fundante

Você é meu direito fundamental,
minha cláusula pétrea,
minha constituição federal

Você é a fonte de tudo,
o ápice da pirâmide,
minha norma hipotética fundamental

Salvador, 24 de março de 2019.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

O Amor é assim





O Amor é assim,

quando menos se espera floresce, passa por percalços,

mas quando é verdadeiro nunca se acaba.

Apesar do tempo, da distância, das adversidades, das diferenças,

O Amor continua resplandecendo como o brilho da lua cheia, porque o amor verdadeiro não perece, não se vangloria, não guarda rancor,

O Amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.

O Amor não se cobra, não se acha nas vitrines, não tem valor pecuniário, é algo maior do que isso, é magnífico, é sublime.

É a mais pura manifestação de sentimento.

É obra de Deus.

É para sempre!



Márcio Berto Alexandrino de Oliveira

domingo, 9 de agosto de 2020

Amor de Pai





Quando eu soube que você viria,
sensação diferente foi a minha:
alegria de receber alguém que não conhecia,
mas conheceria como ninguém poderia...

As primeiras noites mal-dormidas...
Cólicas, febre e recusa à comida,
fraldas, chupetas e mamadeiras...
Cuidar disso não foi brincadeira...

Confesso que senti ciúme do seio
Pois queria estar naquele meio
Trocar sentimentos sem sequer falar...
Tocar o coração sem mais nada precisar...

Ler histórias para dormir no maior breu...
Colocar nos ombros para ver como cresceu...
Ver um sorriso que ilumina o ambiente
e uma risada que alegra toda a gente

Assistir o mesmo filme cinquenta vezes...
Explicar a mesma coisa por meses...
Cantar a mesma canção para acalmar...
Replay’s de cenas no aprendizado de amar...

Ver aquele pingo de gente crescer
Descobrir novo ser, sem do antigo esquecer...
Encontrar alguém que o conhece desde que nasceu...
E que não aceita mais todo conselho seu...

REFRÃO (2X)
- não faço isso por mal, mas para poupar
sofrer da mesma forma que eu, ao sonhar...
Esqueço filhos também têm direito de tentar
cometer novos erros ou os mesmos, para meu frustrar...

Mas, mesmo assim, quando a saudade aperta,
Ainda que a volta ao lar seja incerta
Quero dizer que os pais nunca ficam sós,
Se for possível ouvir, de longe, a sua voz...

A minha torcida pela sua vitória
A construção conjunta de uma história...
A alegria pela sua felicidade
Amor de pai...
Amor de pai...
Amor de pai não tem idade...

sábado, 8 de agosto de 2020

Minas Gerais





Minas Gerais,

Terra de notáveis,

de Joaquim José da Silva Xavier,

de Aleijadinho,

de Chico Xavier,

de Drummond de Andrade,

de Juscelino Kubitschek,

de Guimarães Rosa,

de tantos outros ilustres mineiros.

Já não está como outrora.

Com tantas catástrofes pela ambição humana,

Com tantas vítimas inocentes,

Com tantas famílias destruídas,

Minas ....,

Terra do queijo, das alterosas, do trem, das cachoeiras, de um povo destemido.

Minas Gerais,

Quem sabe um dia retornaremos aos trilhos.



Márcio Berto Alexandrino de Oliveira

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Desespero na Pandemia








Medo
Pânico
Tristeza
Desespero
“Se tudo vale a pena
quando a alma não é pequena”,
a pandemia faz surgir
o que pode nos destruir...

Salvador, 28 de junho de 2020.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Saudades de uma pessoa que já se foi








De sua alegria contagiante;

De tudo que se fez pelo próximo;

De sua simplicidade, porque a vida deve ser baseada em pequenos gestos;

De seu comprometimento para o bem de todos;

Saudades do seu abraço, da sua voz, saudades desta pessoa;

Saudades... simples palavra com significado profundo;

Se há algo que devemos deixar como legado com certeza é a saudade;

Saudade... deve florescer sobre o legado em patrimônio, pois este cairá no esquecimento;

A saudade não... será sempre eterna;

Só há saudades de algo inesquecível;

Por isto se têm saudades de pessoas inesquecíveis;

Ainda há tempo de fazermos algo para que os vindouros sintam saudades;

Que nosso legado seja saudades...



Márcio Berto Alexandrino de Oliveira

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

DA REMISSÃO (ARTS. 126, 127 E 128 DO ECA)





Antes de iniciado o procedimento judicial

De ato infracional e sua apuração

O representante do Ministério Público

Poderá conceder a remissão



Iniciado o procedimento

A concessão da remissão

Pela autoridade judiciária importará

Na suspensão ou extinção do processo em questão



Dando continuidade

A remissão não implica necessariamente

O reconhecimento ou comprovação da responsabilidade

Nem prevalece para efeito de antecedentes



Exceto a colocação

Em regime de semiliberdade

E a internação

É bem verdade



A medida aplicada por força da remissão

Poderá ser revista judicialmente,

A qualquer tempo,

Mediante pedido expresso do adolescente



Ou do seu representante legal,

Ou do Ministério Público

Chegando no final

De mais um poema jurídico.



Jorge da Rosa

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Descobertas na Pandemia






Novos planos
Nova vida
Novas conquistas
Novos horizontes
Novo tempo
Velhas Esperanças
Descobertas
na Pandemia.

Salvador, 28 de junho de 2020.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

#OBOIPARTIU / #OBOISUMIU.





#OBOIPARTIU

Desde que me emocei,
Quando o pote quebrei,
Ele me visitou .
Em um mês, ele vinha pra mim.
No outro, chegava também.
Um boi bagunceiro,
Me agitava.
Às vezes, me descontrolava
Ou deixava-me férvida para o amor.
Um Boi Garantido era ele.
Intenso no pouco tempo que vinha.
E, logo, tornava a seguir: ia embora...
Deixando lembranças de si.
O boi, atestava: não era criança,
Que poderia deitar e rolar,
Que meu corpo poderia parir,
Mas limitava-se só a me visitar,
Meus passos só caberiam a mim.
Poderia tornar-me Caprichosa,
Mas o boi, garantia, estaria ali.
Até que um dia chegasse a hora
Da última tinta daquele tinteiro
Escrever outro momento da história.
Os ciclos da lua continuariam.
Mas o boi?
Viva!! Foi!!!
Oh!! Ele foi!!!

#OBOISUMIU.
Acabou a estória?
Ele partiu.
E eu, sem receio,
Olhei me no espelho.
Senti o pulso vermelho.
Vívido o meu coração.
Era a hora de uma grande pausa,
Não o fim do meu ente mulher.
Não o cessar da minha emoção.
E eu, em um rompante,
Em um capricho ao nada,
Abri minha janela,
E gritei para o alto:
Às favas, o boi!


Negra Luz

domingo, 2 de agosto de 2020

Comemoração na Pandemia






Festas nunca mais?
Quem disse
que abandonamos
nossos rituais?
Talvez não possamos mais
viver outros carnavais,
mas ainda podemos
buscar paz
na certeza
de que uma boa mesa
pode ser virtual
e ainda ser sensacional
para não deixar passar
o que se deve comemorar
com a alma e o coração.

Salvador, 28 de junho de 2020.