terça-feira, 3 de outubro de 2023

Tédio

 



Paulo Gondim


 

Impiedosa essa tristeza

Que me invade o peito

Sem querer sair

E da incerteza

Do que há de vir

Me vejo mais só

Sem a confiança

Ou mesmo esperança

De um dia sorrir


E no meu desconforto

Aumenta o desgosto

Do meu caminhar

Nessa estrada longa

Pela noite escura

Na minha amargura

Estou sempre a vagar


E vou sem destino

Nesse desatino

Que a vida me traz

No meu desencanto

Até mesmo o pranto

Já não tem razão

E assim se desfaz


Não há qualquer vaidade

Nesta dura realidade

Que é meu viver

Insólito, inóspito, talvez

Pois assim a vida me fez

Insensível ao que vejo

E no meu desprezo

Nem sei quem eu sou


E a dor não é menor

Apenas se acostumou

Com minha solidão

Como Sentinela

Ali, de prontidão

A me vigiar

De sua janela

A me acorrentar

Com os seus grilhões


Impiedoso esse tédio

Que não há remédio

Que o possa curar

E na minha dor

Vou eu como for

Por qualquer caminho

Pra qualquer lugar


E esse tédio insiste

E essa dor persiste

No meu lamentar

Como companhia

De minha agonia

Esta nostalgia

Que me faz chorar


E tudo em volta é solidão

Se o tédio é o eixo da questão

Se o viver não faz sentido

Se a esperança se desfaz

E por sentir-se assim perdido

Só a dor se faz Cortez

E na minha timidez

De amar, sei não ser capaz.


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