terça-feira, 17 de outubro de 2023

Leve no cimo das ervas

 



Fernando Pessoa


 

Leve no cimo das ervas

O dedo do vento roça...

Elas dizem-me que sim...

Mas eu já não sei de mim

Nem do que queira ou que possa.

E o alto frio das ervas

Fica no ar a tremer...

Parece que me enganaram

E que os ventos me levaram

O com que me convencer.


Mas no relvado das ervas

Nem bole agora uma só.

Porque pus eu uma esperança

Naquela inútil mudança

De que nada ali ficou?


Não: o sossego das ervas

Não é o de há pouco já.

Que inda a lembrança do vento

Me as move no pensamento

E eu tenho porque não há.


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