quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Distâncias Mínimas

 



Paulo Leminski


um texto morcego

se guia por ecos

um texto texto cego

um eco anti anti anti antigo

um grito na parede rede rede

volta verde verde verde

com mim com com consigo

ouvir é ver se se se se se

 

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Amor e Desejo

 




Rodolfo Pamplona Filho


amor e desejo

amor é centrífugo 

desejo é centrípeto 

amor quer se entregar 

ao destinatário 

do amar

desejo

quer absorver

o objeto 

a incorporar

Amar e desejar

fazem parte do viver,

mas amar se auto-renova,

enquanto desejar depende do querer.


Salvador, 09 de janeiro de 2020.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Incenso Fosse Música

 



Paulo Leminski


isso de querer

ser exatamente aquilo

que a gente é

ainda vai

nos levar além



(in "Distraído Venceremos" Ed. Brasiliense, 1987)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Códex

 


Rodolfo Pamplona Filho


Palavras proibidas

Assuntos censuradas 

Nomes defesos

Ideias que não podem ser discutidas 

A impossibilidade absoluta

de qualquer diálogo.


Morro de São Paulo, 02 de janeiro de 2020.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Eu





 Paulo Leminski


eu

quando olho nos olhos

sei quando uma pessoa

está por dentro

ou está por fora


quem está por fora

não segura

um olhar que demora


de dentro de meu centro

este poema me olha

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Felicidade

 


Rodolfo Pamplona Filho


Felicidade não é meta: 

é a forma como se vive; 

não é objeto, é o caminho; 

não é aquilo que te falta e sim saber aproveitar aquilo que já se tem!


Orlando, 10 de janeiro de 2020.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Bem no Fundo



Paulo Leminski



No fundo, no fundo,

bem lá no fundo,

a gente gostaria

de ver nossos problemas

resolvidos por decreto


a partir desta data,

aquela mágoa sem remédio

é considerada nula

e sobre ela — silêncio perpétuo


extinto por lei todo o remorso,

maldito seja que olhas pra trás,

lá pra trás não há nada,

e nada mais


mas problemas não se resolvem,

problemas têm família grande,

e aos domingos saem todos a passear

o problema, sua senhora

e outros pequenos probleminhas.

 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

O fim do diálogo

 





Rodolfo Pamplona Filho


 “Não quero falar!

Minha cabeça está cheia demais!

Cuido de todo mundo, 

mas a prioridade agora sou eu!”

Este é o momento 

em que todo diálogo morreu.


Salvador, 28 de dezembro de 2019.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Apagar-me


 


Paulo Leminski



Apagar-me

diluir-me

desmanchar-me

até que depois

de mim

de nós

de tudo

não reste mais

que o charme.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Pacto de um Ano

 



 Rodolfo Pamplona Filho


Pacto de um ano

Pacto de humanos

Compromisso firmado

Pacto selado

Assunção da missão

de busca da comunhão

de corpos e de almas

para, em salva de palmas,

consumar no papel

o que já foi acertado no céu.

 

San Andres, 18 de janeiro de 2024.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

A UM MENDIGO

 



Barros Alves


Hoje eu senti a dor que abrasa os entes

Exposta em face exangue e mui sofrida;

Eu vi a dor que dilacera a vida,

Olhar de angústia, magras mãos trementes.


Vi de perto a miséria dos viventes

Sem pão, sem teto; alma combalida

A transportar a vida mal vivida

Dos desgraçados. Miseráveis gentes!


Acercou-se de mim. Pobre mendigo!

Mão estendida, triste olhar pedinte

Como se nem mais Deus lhe fosse ouvinte.


Desventura voz! Eu não consigo

Esquecê-la jamais. Voz que consome:

- Uma esmola, senhor, pois tenho fome...

 

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Dinheiro

 



Rodolfo Pamplona Filho

 

Dinheiro não é um problema;

Sua falta é que pode ser…

Já desperdicei

Já perdi,

Esbanjei e Torrei

Já gastei a mais

Já fui até enganado

Mas nunca lamento

Por ter gasto

Com algo

Que me trouxe um sorriso,

Uma lembrança,

Uma sensação de bem estar!

Dinheiro não é

Um fim em si mesmo,

Mas um apoio para viver

Os momentos alegres

Que trazem felicidade e paz.

 

Cartagena, madrugada de 14 de janeiro de 2024.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

ETERNO APAIXONADO




 Barros Alves


Viver o amor é cometer loucuras,

É apaixonar-se desabridamente.

É morrer de prazer e, de repente,

Esquecer pundonores e posturas.


Muito amar é perder a compostura

Ante as normas que essa pobre gente

Quer-nos impingir hipocritamente,

Mas, o amante a rechaça com bravura.


Pois se amar loucamente é vil pecado,

Que nos deixa do céu ao desabrigo,

Pobre de mim! Sou louco apaixonado.


Desde o ventre materno condenado

Da vida levarei para o jazigo

O jugo desse amor desesperado.


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Perezoso

 



 Rodolfo Pamplona Filho


La mejor definicion

de quien sabe el tiempo

para cada momiento:

Perezoso

 

Cartagena, 12 de janeiro de 2024.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

O Nascimento do Salvador

 




Barros Alves


Era triste e dorida a madrugada.

Nenhum gesto do tempo, nenhum som

Que pré-anunciasse algo de bom

Naquela estrebaria abandonada...


Não se via andarilho pela estrada

Que levava à cidade de Belém.

Nenhuma alma vivente. Ali, ninguém.

Somente um carpinteiro e sua amada.


E em meio aos animais da estrebaria,

Do ventre puro e excelso de Maria

Surgiu a Luz do Amor, a Claridade...


O mundo se encantou naquele dia.

Hosana nas alturas!, se ouviria.

Nascera o Salvador da Humanidade.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Minha Capelinha

 



Rodolfo Pamplona Filho

 

Ajoelho-me com devoção

Entrego o meu coração

Faço uma oração

Entrego minha contribuição

Busco proteção

Exercito a compaixão

Entrego-me à paixão

Solidarizo com emoção

Passo da palavra à ação

Entôo nossa canção

Na minha religião,

você é a salvação.

Se tudo precisa de um tempo,

você será, para sempre,

quem me mantém na linha.

Se todo corpo é um templo,

você será, para sempre,

minha Capelinha

 

Cartagena, 14 de janeiro de 2024.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Os Sonhos

 



Abdias Sá


De repente acordo e vejo bem perto

De mim, colado quase ao meu, desnudo,

Também, cansado, inerte no veludo,

O corpo dela, sem censura, aberto


O coração, de sentimento incerto,

Às vezes, mesmo, indiferente a tudo.

De tanto vê-la assim me desiludo

E me entristeço sempre que desperto.


Sem esperança de acordar com ela,

Eu fico preso ao meu amor constante

E paro, e penso e sinto,  num instante,


Quando ela dorme, assim, imóvel, bela:

...Eu dos seus sonhos estou tão distante,

Que nem parece que estou junto dela. 



                             João Pessoa, 1981


domingo, 11 de fevereiro de 2024

Brigados no Paraíso

 



 Rodolfo Pamplona Filho


Qual é o sentido

De ir ao Paraíso

Para brigar?

Qual é a razão

Que causa

Tamanha desconexão?

Talvez seja a insegurança,

O trauma e/ou a desconfiança

De que tudo que é real

Pode ser uma ilusão

Ou se desfazer no ar…

 

Cartagena, 12 de janeiro de 2024.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

O Leão Baio da Bahia

 O Leão Baio da Bahia (Introdução)




Matheus Saó

A natureza estava bela com toda a sua fauna e flora animadas com o Rei que

dominava o sertão do Sul da Bahia. Parecia fantasia o que eram vivenciados

por todos os animais que viviam em harmonia.

Até mesmo o vento do sul soprava, fazendo com que a natureza cantasse

louvor ao Criador. Os Índios da Tribo de Olivença estavam eternos e andavam

em harmonia com a fauna e flora que tanto os rodeava.

Os Tucanos estavam olhando o mais belo por do sol, enquanto a família de

“Micos Leões Dourados” estava comendo dos melhores frutos seletos,

produzidos pelas as mais belas árvores milenares.

O chefe da tribo estava tratando a sua bela esposa como uma rainha, enquanto

a rainha fazia amizade com as aves rapinas.

A semente que germinava no chão, fazia reluzir uma nova geração, geração de

novos girassóis que estavam cada vez mais belos com a fotossíntese realizada

de forma natural.

O Leão Baio no alto da montanha estava observando o seu território,

admirando aquela paisagem tropical, já que não existia mais nenhuma caça

ilegal.

A Gralha Azul voava e os Pinheiros milenares estavam produzindo o seu

pinhão, para todos da pequena vila que admirava a mais bela constelação.

Os Índios da Tribo de Olivença estavam naquela “Terra Prometida”.

A água límpida estava caindo nas pedras preciosas. O tesouro perdido da

humanidade, logo traria do céu a verdade.

O maior ouro já descoberto na história. O maior triunfal Deus nos deu a vitória.

Assim como o verde das ervas do jardim, o Reino da floresta já não tinha fim.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Frases de Ana

 



Rodolfo Pamplona Filho



Eu esqueci 

Estou de dieta 

Não vou comer mais nada, não!

Só vou comer mamão

Vou virar Dona Balofinha!

Não vou comprar nada nesta viagem!

Queria ter nascido homem…

Eu te amo no coração e no sovaco

Entendi…

Não entendi nada!

Fui, Banda Mel!


Bogotá, 10 de janeiro de 2024.







quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Campesino

 



Florisvaldo Mattos


Como folhas caindo num deserto,

humanas resistências vão caindo

sobre campo sem sol. Peito coberto

de um só grito esperança vai cobrindo.


Rude labor de enxadas consumindo

sangue que dá de sangue um sonho certo,

esperanças do amanho já sumindo

na sede de esperança que está perto.


Amargas deslembranças param, vendo

no íntimo do espetáculo chuvoso

a aparecido desaparecendo.


Antes que o amor se ausente ao chão sem húmus,

já baixam sobre o campo generoso,

as águas da manhã movendo rumos.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Incidentes e Oportunidades

 



Rodolfo Pamplona Filho


O imprevisto normalmente aborrece…

Mas ele pode ser um ótimo momento  

para resolver um problema,

resgatar uma memória 

ou quitar uma divida.


É preciso aprender 

a identificar as chances 

que o destino proporciona 

para uma retomada de rumo

ou a busca de aprumo.


Fazer, do limão, uma limonada 

é mais do que uma frase bem-humorada:

é descobrir a sabedoria 

de aproveitar cada instante da realidade,

transformando incidente em oportunidade.


Bogotá, 11 de janeiro de 2024.




terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Quarto monólogo (O fel das roupagens)




 Florisvaldo Mattos


 

Sobre areia largados utensílios,

à vigilância (naus enraivecidas)

dos cães. Os homens já são água e vento.

Retomemos o rastro dos cavalos,

O tempo regressivo, o sortilégio.

Sopram búzios os corpos esfolados.


Um grito sai das veias. Mutilados

pescoços emigrantes, olhos gastos

revisam espetáculo dos rios:

a guerra está no sangue sem verdades

submissos sem marfim — os absolutos.


Ei, parem. É comigo que eles falam,

os mortos, os prantos dominados.

Ardem de escravidão os nervos mudos.

Para os campos de el-rei, para os poentes,

os trabalhos acendem lábios duros,

os sonhos se aluíram na memória.


É comigo que duelam dedos murchos,

e sou eu quem trafega em suas noites,

piso chão de resgate e pesadelos.

Todos sabem que sou. Os que morreram

guardam o dever retido na montanha,

os ódios recomeçam e há retorno.


Mortos crivam no vidro a fúria toda

do principal momento não vivido.

Humanos gritos (sempre humanos) deixam

nas paredes a intacta geografia

do tempo aprisionado — resistência

do apodrecido chão que os mortos pisam


Meu tempo é medieval: um barão doente

vomita girassóis. Os dentes velhos

removem a canção dos muros frios,

por onde deslizasse mão ossuda,

que dos olhos nascida, florescera

em nave corrompida ou vãos tijolos.


Os bens adormeceram indivisos,

tão feitos do marfim dos patriarcas.

A palavra escondeu as previsões,

súbito amanhecida de mudanças:

o barão é um barão, sempre barão,

doira-se entre soluços e águas mortas.


Olhos pendem acesos da muralha,

riscando negro limo da memória,

e medem a extensão — antessonhado

mundo. Reina ao mesmo tempo inviolado.

Onde o espelho, o relho? Quero um espelho

onde veja o possuído tempo unânime.


o tempo meu, cortando extintos rostos,

apagados gemidos, como lâminas.

Quem vem lá, distante, avançando?

Quem ameaça meu solo, minha fauna?

Quem já próximo está violando o templo?


O espaço jaz imerecido.

Flui a verdade entre caminhos mortos.

Olho em redor: sumiram do terraço

guardas e lavradores — todos hoje

avançam na planície. As armas foram-se.

Devolvido o silêncio, as torres dormem.



segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Sinergia

 



Rodolfo Pamplona Filho


Sinergia

Isso é sinergia 

Isso é magia

Isso é mente afiada em linha


Sinergia 

Isso é sintonia

Isso é sinfonia

Isso é energia em plena luz do dia


Sinergia

Isso é pura orgia

Isso é liturgia 

Isso é cirurgia de alta tecnologia 


Sinergia

Isso é ideologia 

Isso é teologia 

Isso é psicologia em autofagia


Sinergia 

Isso é verborragia 

Isso é alegria que convergia 

Isso é sinergia


Morro de São Paulo, 06 de janeiro de 2024, papeando com Chico Gomes

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Dezembro

 



Florisvaldo Mattos


Menino ainda, costumava

romper o cristal da manhã

e do macio horizonte

cavalgar o aromado pêlo

haurindo a seiva do dia, tanto me

comoviam os animais no campo.



Na adolescência,

ave, passei às mãos das incertezas:

como a mim permitiam decidi

a vida cantar por não ser nada.



Transitei pelos vales recolhendo

Um pouco de mim mesmo em cada planta

na água dos riachos me banhava

da pedra me enxugava nas durezas

que ao vento domavam e refaziam

meu secreto saber.



Eu era agora um homem,

tanto me diziam, tanto me provava

o contato com os homens ou algo mais.

A lua cheia matava-me no silêncio,

invariável lua que jamais cantei

por pouco ser e muito dizer.



Amanhecia por vezes sobre um couro,

transido de frio, sem pecados.

Amava a terra, doação da manhã,

mesmo quando armas rudes me cortavam

a fímbria da existência: eu era

um pouco das safras transportadas,

da poeira que tropeiros levantavam

misturada a rastro de sangue nas ladeiras

"Um cavalo cortado ao meio", me diziam,

e isso valia como identificação

ao que vem e suporta seus tropeços.



Os companheiros de infância,

muito bem mortos, lá estão

esculpidos em ecos, regressando,

do afã diário aos búzios vesperais,

ignorando armadilhas do sol-posto,

tanto falam-me os gestos, os ruídos.

E como vêm falar do que não foram!



Agora é dezembro, e pouco vale

um coração cruzado de datas,

mesmo punhais de lâminas fecundas,

rebrilhando ao sol do meio-dia,

de flores, de frutos na campestre senda.

Humilho-me por não ser o que mais fui,

consciente mas expondo-me aos assédios

de ventos ruminosos, águas várias

— águas de aboio insopitado e lento.



Agora é dezembro: com seu penacho

de luz acende o caminho, incinerando

as fétidas lembranças, colorindo

ausências de sonora geometria.

Antes triste que perdido

ao sol que nos confunde,

à chuva que nos vence.



Agora é dezembro, um mês guerreiro,

que doma sombras ao calor de espadas.

 



sábado, 3 de fevereiro de 2024

Propósitos



Rodolfo Pamplona Filho


Muitos propósitos são mais 

cruzes do que coroas,

fé do que certeza,

fardos do que glórias…

A missão dada 

é missão cumprida…

mesmo que seja comprida…

A bússola mostra o Norte

e a Estrela indica o Sul,

mesmo que nunca se chegue nele…

O objetivo pensado 

é traçado para ser o horizonte,

mesmo que nunca seja realizado 

A coisa certa 

é o correto a fazer,

mesmo que não se lucre com isso.


Salvador, 10 de novembro de 2023, assistindo Loki 2

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Zoológico




Florisvaldo Mattos



Não leio o poema como o azul dos olhos

nem vejo as naves como a luz do ocaso

nada transformará lágrimas em frutos

nada redimirá as faces desbotadas.



Pássaro apenas

o bico inerte

as pernas rotas

os pés inchados



O silêncio perturba meu silêncio

nauta que se perdeu

imobilizado pêndulo

complexo sistema de horas

e sons estagnados.



Na gaveta do tempo

guardei os sapatos de outrora

o velho terno marrom

passeia em conúbio com as manhãs

sepultadas na poeira longínqua



Ficou a pele riscada de luto

o cimento categórico do presente



A vontade de rir envelheceu



Um dia alguém há de encontrar a fera

e penetrando sua crespa geografia

saberá que seus olhos ardem como brasas.



In A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior Fundação Casa de

Jorge Amado/Copene, Salvador, 1996

 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Paixão

 



Rodolfo Pamplona Filho


A paixão é um delírio,

uma alucinação,

em que se vê o outro 

como se quer que ele seja,

e não como ele é.


Salvador, 3 de novembro de 2023.