Paulo Leminski
um texto morcego
se guia por ecos
um texto texto cego
um eco anti anti anti antigo
um grito na parede rede rede
volta verde verde verde
com mim com com consigo
ouvir é ver se se se se se
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Paulo Leminski
um texto morcego
se guia por ecos
um texto texto cego
um eco anti anti anti antigo
um grito na parede rede rede
volta verde verde verde
com mim com com consigo
ouvir é ver se se se se se
Rodolfo Pamplona Filho
amor e desejo
amor é centrífugo
desejo é centrípeto
amor quer se entregar
ao destinatário
do amar
desejo
quer absorver
o objeto
a incorporar
Amar e desejar
fazem parte do viver,
mas amar se auto-renova,
enquanto desejar depende do querer.
Salvador, 09 de janeiro de 2020.
Paulo Leminski
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
(in "Distraído Venceremos" Ed. Brasiliense, 1987)
Rodolfo Pamplona Filho
Palavras proibidas
Assuntos censuradas
Nomes defesos
Ideias que não podem ser discutidas
A impossibilidade absoluta
de qualquer diálogo.
Morro de São Paulo, 02 de janeiro de 2020.
Paulo Leminski
eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha
Rodolfo Pamplona Filho
Felicidade não é meta:
é a forma como se vive;
não é objeto, é o caminho;
não é aquilo que te falta e sim saber aproveitar aquilo que já se tem!
Orlando, 10 de janeiro de 2020.
Paulo Leminski
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Rodolfo Pamplona Filho
“Não quero falar!
Minha cabeça está cheia demais!
Cuido de todo mundo,
mas a prioridade agora sou eu!”
Este é o momento
em que todo diálogo morreu.
Salvador, 28 de dezembro de 2019.
Paulo Leminski
Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.
Pacto de um ano
Pacto de humanos
Compromisso firmado
Pacto selado
Assunção da missão
de busca da comunhão
de corpos e de almas
para, em salva de palmas,
consumar no papel
o que já foi acertado no céu.
San Andres, 18 de janeiro de 2024.
Barros Alves
Hoje eu senti a dor que abrasa os entes
Exposta em face exangue e mui sofrida;
Eu vi a dor que dilacera a vida,
Olhar de angústia, magras mãos trementes.
Vi de perto a miséria dos viventes
Sem pão, sem teto; alma combalida
A transportar a vida mal vivida
Dos desgraçados. Miseráveis gentes!
Acercou-se de mim. Pobre mendigo!
Mão estendida, triste olhar pedinte
Como se nem mais Deus lhe fosse ouvinte.
Desventura voz! Eu não consigo
Esquecê-la jamais. Voz que consome:
- Uma esmola, senhor, pois tenho fome...
Dinheiro não é um problema;
Sua falta é que pode ser…
Já desperdicei
Já perdi,
Esbanjei e Torrei
Já gastei a mais
Já fui até enganado
Mas nunca lamento
Por ter gasto
Com algo
Que me trouxe um sorriso,
Uma lembrança,
Uma sensação de bem estar!
Dinheiro não é
Um fim em si mesmo,
Mas um apoio para viver
Os momentos alegres
Que trazem felicidade e paz.
Cartagena, madrugada de 14 de janeiro de 2024.
Barros Alves
Viver o amor é cometer loucuras,
É apaixonar-se desabridamente.
É morrer de prazer e, de repente,
Esquecer pundonores e posturas.
Muito amar é perder a compostura
Ante as normas que essa pobre gente
Quer-nos impingir hipocritamente,
Mas, o amante a rechaça com bravura.
Pois se amar loucamente é vil pecado,
Que nos deixa do céu ao desabrigo,
Pobre de mim! Sou louco apaixonado.
Desde o ventre materno condenado
Da vida levarei para o jazigo
O jugo desse amor desesperado.
La mejor definicion
de quien sabe el tiempo
para cada momiento:
Perezoso
Cartagena, 12 de janeiro de 2024.
Barros Alves
Era triste e dorida a madrugada.
Nenhum gesto do tempo, nenhum som
Que pré-anunciasse algo de bom
Naquela estrebaria abandonada...
Não se via andarilho pela estrada
Que levava à cidade de Belém.
Nenhuma alma vivente. Ali, ninguém.
Somente um carpinteiro e sua amada.
E em meio aos animais da estrebaria,
Do ventre puro e excelso de Maria
Surgiu a Luz do Amor, a Claridade...
O mundo se encantou naquele dia.
Hosana nas alturas!, se ouviria.
Nascera o Salvador da Humanidade.
Ajoelho-me com devoção
Entrego o meu coração
Faço uma oração
Entrego minha contribuição
Busco proteção
Exercito a compaixão
Entrego-me à paixão
Solidarizo com emoção
Passo da palavra à ação
Entôo nossa canção
Na minha religião,
você é a salvação.
Se tudo precisa de um tempo,
você será, para sempre,
quem me mantém na linha.
Se todo corpo é um templo,
você será, para sempre,
minha Capelinha
Cartagena, 14 de janeiro de 2024.
Abdias Sá
De repente acordo e vejo bem perto
De mim, colado quase ao meu, desnudo,
Também, cansado, inerte no veludo,
O corpo dela, sem censura, aberto
O coração, de sentimento incerto,
Às vezes, mesmo, indiferente a tudo.
De tanto vê-la assim me desiludo
E me entristeço sempre que desperto.
Sem esperança de acordar com ela,
Eu fico preso ao meu amor constante
E paro, e penso e sinto, num instante,
Quando ela dorme, assim, imóvel, bela:
...Eu dos seus sonhos estou tão distante,
Que nem parece que estou junto dela.
João Pessoa, 1981
Qual é o sentido
De ir ao Paraíso
Para brigar?
Qual é a razão
Que causa
Tamanha desconexão?
Talvez seja a insegurança,
O trauma e/ou a desconfiança
De que tudo que é real
Pode ser uma ilusão
Ou se desfazer no ar…
Cartagena, 12 de janeiro de 2024.
O Leão Baio da Bahia (Introdução)
Matheus Saó
A natureza estava bela com toda a sua fauna e flora animadas com o Rei que
dominava o sertão do Sul da Bahia. Parecia fantasia o que eram vivenciados
por todos os animais que viviam em harmonia.
Até mesmo o vento do sul soprava, fazendo com que a natureza cantasse
louvor ao Criador. Os Índios da Tribo de Olivença estavam eternos e andavam
em harmonia com a fauna e flora que tanto os rodeava.
Os Tucanos estavam olhando o mais belo por do sol, enquanto a família de
“Micos Leões Dourados” estava comendo dos melhores frutos seletos,
produzidos pelas as mais belas árvores milenares.
O chefe da tribo estava tratando a sua bela esposa como uma rainha, enquanto
a rainha fazia amizade com as aves rapinas.
A semente que germinava no chão, fazia reluzir uma nova geração, geração de
novos girassóis que estavam cada vez mais belos com a fotossíntese realizada
de forma natural.
O Leão Baio no alto da montanha estava observando o seu território,
admirando aquela paisagem tropical, já que não existia mais nenhuma caça
ilegal.
A Gralha Azul voava e os Pinheiros milenares estavam produzindo o seu
pinhão, para todos da pequena vila que admirava a mais bela constelação.
Os Índios da Tribo de Olivença estavam naquela “Terra Prometida”.
A água límpida estava caindo nas pedras preciosas. O tesouro perdido da
humanidade, logo traria do céu a verdade.
O maior ouro já descoberto na história. O maior triunfal Deus nos deu a vitória.
Assim como o verde das ervas do jardim, o Reino da floresta já não tinha fim.
Rodolfo Pamplona Filho
Mô
Eu esqueci
Estou de dieta
Não vou comer mais nada, não!
Só vou comer mamão
Vou virar Dona Balofinha!
Não vou comprar nada nesta viagem!
Queria ter nascido homem…
Eu te amo no coração e no sovaco
Entendi…
Não entendi nada!
Fui, Banda Mel!
Bogotá, 10 de janeiro de 2024.
Florisvaldo Mattos
Como folhas caindo num deserto,
humanas resistências vão caindo
sobre campo sem sol. Peito coberto
de um só grito esperança vai cobrindo.
Rude labor de enxadas consumindo
sangue que dá de sangue um sonho certo,
esperanças do amanho já sumindo
na sede de esperança que está perto.
Amargas deslembranças param, vendo
no íntimo do espetáculo chuvoso
a aparecido desaparecendo.
Antes que o amor se ausente ao chão sem húmus,
já baixam sobre o campo generoso,
as águas da manhã movendo rumos.
Rodolfo Pamplona Filho
O imprevisto normalmente aborrece…
Mas ele pode ser um ótimo momento
para resolver um problema,
resgatar uma memória
ou quitar uma divida.
É preciso aprender
a identificar as chances
que o destino proporciona
para uma retomada de rumo
ou a busca de aprumo.
Fazer, do limão, uma limonada
é mais do que uma frase bem-humorada:
é descobrir a sabedoria
de aproveitar cada instante da realidade,
transformando incidente em oportunidade.
Bogotá, 11 de janeiro de 2024.
Florisvaldo Mattos
Sobre areia largados utensílios,
à vigilância (naus enraivecidas)
dos cães. Os homens já são água e vento.
Retomemos o rastro dos cavalos,
O tempo regressivo, o sortilégio.
Sopram búzios os corpos esfolados.
Um grito sai das veias. Mutilados
pescoços emigrantes, olhos gastos
revisam espetáculo dos rios:
a guerra está no sangue sem verdades
submissos sem marfim — os absolutos.
Ei, parem. É comigo que eles falam,
os mortos, os prantos dominados.
Ardem de escravidão os nervos mudos.
Para os campos de el-rei, para os poentes,
os trabalhos acendem lábios duros,
os sonhos se aluíram na memória.
É comigo que duelam dedos murchos,
e sou eu quem trafega em suas noites,
piso chão de resgate e pesadelos.
Todos sabem que sou. Os que morreram
guardam o dever retido na montanha,
os ódios recomeçam e há retorno.
Mortos crivam no vidro a fúria toda
do principal momento não vivido.
Humanos gritos (sempre humanos) deixam
nas paredes a intacta geografia
do tempo aprisionado — resistência
do apodrecido chão que os mortos pisam
Meu tempo é medieval: um barão doente
vomita girassóis. Os dentes velhos
removem a canção dos muros frios,
por onde deslizasse mão ossuda,
que dos olhos nascida, florescera
em nave corrompida ou vãos tijolos.
Os bens adormeceram indivisos,
tão feitos do marfim dos patriarcas.
A palavra escondeu as previsões,
súbito amanhecida de mudanças:
o barão é um barão, sempre barão,
doira-se entre soluços e águas mortas.
Olhos pendem acesos da muralha,
riscando negro limo da memória,
e medem a extensão — antessonhado
mundo. Reina ao mesmo tempo inviolado.
Onde o espelho, o relho? Quero um espelho
onde veja o possuído tempo unânime.
o tempo meu, cortando extintos rostos,
apagados gemidos, como lâminas.
Quem vem lá, distante, avançando?
Quem ameaça meu solo, minha fauna?
Quem já próximo está violando o templo?
O espaço jaz imerecido.
Flui a verdade entre caminhos mortos.
Olho em redor: sumiram do terraço
guardas e lavradores — todos hoje
avançam na planície. As armas foram-se.
Devolvido o silêncio, as torres dormem.
Rodolfo Pamplona Filho
Sinergia
Isso é sinergia
Isso é magia
Isso é mente afiada em linha
Sinergia
Isso é sintonia
Isso é sinfonia
Isso é energia em plena luz do dia
Sinergia
Isso é pura orgia
Isso é liturgia
Isso é cirurgia de alta tecnologia
Sinergia
Isso é ideologia
Isso é teologia
Isso é psicologia em autofagia
Sinergia
Isso é verborragia
Isso é alegria que convergia
Isso é sinergia
Morro de São Paulo, 06 de janeiro de 2024, papeando com Chico Gomes
Florisvaldo Mattos
Menino ainda, costumava
romper o cristal da manhã
e do macio horizonte
cavalgar o aromado pêlo
haurindo a seiva do dia, tanto me
comoviam os animais no campo.
Na adolescência,
ave, passei às mãos das incertezas:
como a mim permitiam decidi
a vida cantar por não ser nada.
Transitei pelos vales recolhendo
Um pouco de mim mesmo em cada planta
na água dos riachos me banhava
da pedra me enxugava nas durezas
que ao vento domavam e refaziam
meu secreto saber.
Eu era agora um homem,
tanto me diziam, tanto me provava
o contato com os homens ou algo mais.
A lua cheia matava-me no silêncio,
invariável lua que jamais cantei
por pouco ser e muito dizer.
Amanhecia por vezes sobre um couro,
transido de frio, sem pecados.
Amava a terra, doação da manhã,
mesmo quando armas rudes me cortavam
a fímbria da existência: eu era
um pouco das safras transportadas,
da poeira que tropeiros levantavam
misturada a rastro de sangue nas ladeiras
"Um cavalo cortado ao meio", me diziam,
e isso valia como identificação
ao que vem e suporta seus tropeços.
Os companheiros de infância,
muito bem mortos, lá estão
esculpidos em ecos, regressando,
do afã diário aos búzios vesperais,
ignorando armadilhas do sol-posto,
tanto falam-me os gestos, os ruídos.
E como vêm falar do que não foram!
Agora é dezembro, e pouco vale
um coração cruzado de datas,
mesmo punhais de lâminas fecundas,
rebrilhando ao sol do meio-dia,
de flores, de frutos na campestre senda.
Humilho-me por não ser o que mais fui,
consciente mas expondo-me aos assédios
de ventos ruminosos, águas várias
— águas de aboio insopitado e lento.
Agora é dezembro: com seu penacho
de luz acende o caminho, incinerando
as fétidas lembranças, colorindo
ausências de sonora geometria.
Antes triste que perdido
ao sol que nos confunde,
à chuva que nos vence.
Agora é dezembro, um mês guerreiro,
que doma sombras ao calor de espadas.
Rodolfo Pamplona Filho
Muitos propósitos são mais
cruzes do que coroas,
fé do que certeza,
fardos do que glórias…
A missão dada
é missão cumprida…
mesmo que seja comprida…
A bússola mostra o Norte
e a Estrela indica o Sul,
mesmo que nunca se chegue nele…
O objetivo pensado
é traçado para ser o horizonte,
mesmo que nunca seja realizado
A coisa certa
é o correto a fazer,
mesmo que não se lucre com isso.
Salvador, 10 de novembro de 2023, assistindo Loki 2
Florisvaldo Mattos
Não leio o poema como o azul dos olhos
nem vejo as naves como a luz do ocaso
nada transformará lágrimas em frutos
nada redimirá as faces desbotadas.
Pássaro apenas
o bico inerte
as pernas rotas
os pés inchados
O silêncio perturba meu silêncio
nauta que se perdeu
imobilizado pêndulo
complexo sistema de horas
e sons estagnados.
Na gaveta do tempo
guardei os sapatos de outrora
o velho terno marrom
passeia em conúbio com as manhãs
sepultadas na poeira longínqua
Ficou a pele riscada de luto
o cimento categórico do presente
A vontade de rir envelheceu
Um dia alguém há de encontrar a fera
e penetrando sua crespa geografia
saberá que seus olhos ardem como brasas.
In A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior Fundação Casa de
Jorge Amado/Copene, Salvador, 1996
Rodolfo Pamplona Filho
A paixão é um delírio,
uma alucinação,
em que se vê o outro
como se quer que ele seja,
e não como ele é.
Salvador, 3 de novembro de 2023.