Florisvaldo Mattos
Não leio o poema como o azul dos olhos
nem vejo as naves como a luz do ocaso
nada transformará lágrimas em frutos
nada redimirá as faces desbotadas.
Pássaro apenas
o bico inerte
as pernas rotas
os pés inchados
O silêncio perturba meu silêncio
nauta que se perdeu
imobilizado pêndulo
complexo sistema de horas
e sons estagnados.
Na gaveta do tempo
guardei os sapatos de outrora
o velho terno marrom
passeia em conúbio com as manhãs
sepultadas na poeira longínqua
Ficou a pele riscada de luto
o cimento categórico do presente
A vontade de rir envelheceu
Um dia alguém há de encontrar a fera
e penetrando sua crespa geografia
saberá que seus olhos ardem como brasas.
In A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior Fundação Casa de
Jorge Amado/Copene, Salvador, 1996
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