quarta-feira, 15 de maio de 2024

A CHEGADA

 





 






Georgina  Albuquerque


A estrada pertence ao homem que a ilumina


e busca dar certeza


aos passos que exercita afoito.


É também da mulher que aguarda dar à luz,


suor brotando meio ao sangue,


o seio pesado e entumescido


premiando a vitória do parir.



Cordões rompidos preservam resquícios,


rastros de passado na terra úmida;


frutos cobiçados, maturação alcançada,


choro irrompendo uma membrana fina.


Ainda que os mortos-vivos se levantem,


e cantem pela manhã os pássaros indiferentes,


o mundo é dos obstinados que se entregam,


e pensam que carregam o necessário dentro de si.


A chegada, porém, pertence ao homem corajoso,


aquele que despreza o tempo no afago à sua amada;


à mãe que sorri, indolente, noite enluarada,


e conta sempre ao filho coisas engraçadas.


Não precisa dormir, nem dar à luz, nem nada,


tampouco encenar uma vida agitada.


O final da rota é apenas o início,


um útero macio que comporta, aquecido,


a calma experiência de um viver fugaz.



Nenhum comentário:

Postar um comentário