O JORNALISTA E O
ELEITOR
Texto coletivo. Autores: Regina Giraldi,
Marco Mendes, Maura Krasucki Alencar, Maria Emília Tenório Arruda, Itamar
Rabelo.
Fonte:
www.Jornaletes.blogspot.com
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- Serve falar que
fui fechado num gargalo de avenida por um carro de propaganda política? Estou
quase detonando o candidato. Comentou o eleitor.
- É... política é
assim mesmo. Sem governo!!! Risco de colisão a todo instante. Afirmou o
jornalista.
- Desde que não
atinja terceiros, tudo bem.
- Não atingem
terceiros não... atingem primeiros, segundos, terceiros, quartos, quintos...
Ninguém escapa da direção perigosa.
- O pior é que é
verdade... Ninguém escapa de um barbeiro. Político é tudo igual. Fogo é escolher
em quem votar! Nenhum político é o ideal, esse é o problema. Como resolvê-lo?
Respondeu o eleitor indignado.
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- Há problemas na
vida que não tem solução! A solução é buscar uma nova maneira de viver. Mudança
de planos! Se tiver um problema a resolver não arrume outro, pois aí terá dois
problemas. A solução depende dos instrumentos de que dispomos. Faça o melhor que
puder, com os instrumentos de que dispõe. Aconselhou o
jornalista.
- Mas “vamo que
vamo”, um voto a menos na eleição. Disse o eleitor orgulhoso, sentindo o poder
do voto em suas mãos.
- Outro dia, um
desses políticos compareceu ao jornal. Pediu que publicassemos uma boa matéria a
seu respeito. Disse que valia publicar um parágrafo sobre “qualquer
sabedoria”... ainda que barata. Disse que no jornal transformamos pedregulho em
diamante!!! Dá prá acreditar? Um patife, que infelizmente ajuda sustentar o
jornal. Vivemos do lixo, da morte, da doença, da corrupção. O homem é mesmo o
lobo do homem.
- É amigo,
sabedoria não deve ser confundida com inteligência, esperteza, astúcia e
principalmente com aquele que, em nossa sociedade altamente desigual, foi
privilegiado pela oportunidade de adquirir conhecimentos, dedicando-se mais aos
estudos. Ponderou o eleitor.
- Muitas vezes nos
deparamos com pessoas iletradas que sabem contornar, enfrentar e superar as
vicissitudes que se apresentam, em virtude de experiências vividas e com base no
senso comum, com maior eficiência do que muitos "doutos". Isso nos leva num
primeiro momento, a considerar como forma de sapiência, o saber viver... No
entanto, outra pergunta se apresenta: o que é saber viver?
- Existem dois
tipos de sabedoria. A sabedoria inferior é dada pelo quanto a pessoa sabe e a
superior é dada pelo quanto ela tem de consciência de que nada
sabe.
- Hummm...
pensamento socrático...
- Há pessoas que
desejam saber só por saber - isso é curiosidade; outras, para alcançarem a
fama... isso é vaidade. Outras, para enriquecerem com a sua ciência... isso é
um negócio torpe. Outras, para serem edificadas... isso é prudência. Há também
quem a utilize para edificar os outros... isso é caridade, o que deveria ser o
centro das ações sociais.
- Utilizar o
conhecimento e a sabedoria para o bem do povo, isso sim é que é política! O
resto é direção perigosa mesmo! Arrematou com verborragia o
eleitor.
- Amigo, isso dá
uma ótima notícia, mas infelizmente os políticos sabem que não dá voto. Exclamou
o jornalista.
- Eu estou por aqui
com esses candidatos. Cheguei ao cume! Agora me sinto um caminhão sem breque,
montanha abaixo.
- A vaidade impera
na política. Construção de praças, jardins, campos de futebol. Nada de escola,
hospitais, saneamento básico. Precisamos de pessoas sábias no governo e não
vaidosos. Dizia o indignado eleitor.
- Diz o salmista:
"vaidade das vaidades, tudo é vaidade!" Será?
- As cidades
precisam de praças e jardins para que fiquem bonitas e agradáveis. Onde afinal
começa e termina a busca pela beleza e a busca pela vaidade? Perguntou o
jornalista.
- A beleza está no
ser...
- Agora estou aqui
“caraminholando” para buscar inspiração e dar minha contribuição, mas minha
"sabedoria" (ou seria o bom senso funcionando?) tem me censurado... Seria a
censura um tiquinho de sabedoria? O mais sábio seria, talvez, silenciar? Voto em
branco? Perguntou o eleitor.
- Concordo que às
vezes silenciar é uma forma intrigante de sabedoria. Penso, no entanto, que há
formas e formas de silêncio bem como de manifestação. Um gesto de carinho vale
mais do que mil palavras. Um olhar, um sorriso, uma atenção são formas
explícitas de amor para com o povo. Amar é ter atitude!! Afirmou o
jornalista.
- Eu sou mesmo
pavio curto. Perdoe meu lado Gregório de Matos ou Boccage... Sou incorrigível!!
Quando menos espero já saiu besteira da minha boca... Eu deveria andar com uma
plaqueta no peito escrito: Atenção! Proibido para menores! Esbravejou o
eleitor.
- Você está certo.
Também acredito que se não partirmos do amor por nós mesmos, não saberemos nunca
amar ao próximo.
- A propósito, você
já recebeu a última edição do jornal?
- Não. Ainda não!
Você está parecendo político, promete mas não cumpre... hahahah. Ironizou o
eleitor.
- Vou trucidar o
Rabelo... Ele afirmou que já tinha etiquetado e enviado, lembra?...ele vai ver
só... heheheeheheeh... Respondeu o jornalista.
- Ora, ora. Vamos
dar um crédito ao Rabelo. É cansaço. Ele trabalha demais. Me disse várias
vezes: “minha terça-feira é complicada”. O cansaço o levou para o descanso no
colchão. O atraso está justificado. Amenizou o eleitor, amigo de
Rabelo.
- E essa população
que não consegue ver o que está acontecendo. Tem o poder nas mãos e sempre elege
os corruptos! Prosseguiu o eleitor indignado.
- O mais medonho
olhar é daquele que não quer ver. Estão de olhos bem abertos. O problema é que a
política nesse país é uma caixa preta. É como a noite! Corroborou o
jornalista.
- Desde quando
olhos abertos significam enxergar. Conheço coruja cega que vê muito melhor dos
que as que possuem visão noturna... Arre!! Há uma distância enorme entre olhar e
ver. Só vemos quando nos despimos de interferências,
pré-conceitos.
- Até pouco tempo
atrás eu pensei que eu estava vendo as coisas... mas descobri que só estou
olhando... ver é mais profundo, né?
- Bueno, eu penso
que sim. Aceito controvérsias... O essencial é invisível aos olhos. Proferiu o
jornalista.
- Isso é o mesmo
que as aparências enganam? Perguntou o eleitor.
- Mais ou menos...
as aparências só enganam aqueles que não procuram o essencial, que é invisível
aos olhos...
- Falar em ver o
essencial, o que os políticos mais temem num debate é não ter respostas. Disse o
eleitor.
- Pois é. O que o
medo nos faz! Faz-nos ver da vida um jogo, um duelo. Tememos não ter respostas e
é tão humano não ter respostas. O essencial é ser humano. Respondeu o sensato
jornalista.
- Eu pergunto
aquilo que não sei ou sobre aquilo que tenho dúvidas. Por isso você percebeu que
eu pergunto bastante. Nada sei e tenho dúvidas de tudo... hahaha. Eu não temo
não ter respostas... aliás, não dou muito bola para isso. O meu maior temor é
ficar um dia sem fazer perguntas. Brincou o eleitor.
- E para que fazer
perguntas se não dá bola para respostas? Perguntou o
jornalista.
- Eu disse que não
dou bola para o fato de não saber responder... Para as perguntas que faço para
buscar nortear meu caminho, dou bola para as diferentes respostas. Fico com
aquelas que apresentam as consequências da escolha inevitável,
entendeu?
- Com essa língua
preta, ainda vou arder no mármore do inferno... Tô ferrado mesmo! Quem sabe Deus
tenha compaixão desta pobre alma e resolva perder o livrinho Dele... assim
espero, amém. Só tenho um consolo, caso isso não aconteça... Encontrarei muitos
amigos no fogo eterno... hahahah. Prosseguiu o eleitor.
- Todos advogados
com certeza... hahahahhah!!!!!! Satirizou o jornalista.
- Meus amigos
advogados estarão no purgatório, negociando a passagem de alguns amigos
magistrados... hahahah Ironizou mais uma vez o eleitor.
- Cuidado com o
Juiz dos Juízes... Ele pode escutar!!!!
- Ele é pai... De
pai não tenho medo. Respeito o meu e o dos outros.
- Agora vou, mesmo.
“Basnoites”. To indo, mas continue perguntando, para que suas perguntas
encontraremos as respostas.
- Vou me
despedindo, também. Boa noite, adorei o papo, como sempre...
inté.
E se foram, cada um
para o seu lado. Um com as respostas, outro com as perguntas. Afinal, em meio à
política, perguntas e respostas nunca cruzam caminhos. Quando vem a pergunta,
foge a resposta. Quando a resposta é certeira... a pergunta já é
outra...
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