quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Desejos vãos




Florbela Espanca


Eu queria ser o Mar de altivo porte

Que ri e canta, a vastidão imensa!

Eu queria ser a Pedra que não pensa,

A pedra do caminho, rude e forte!



Eu queria ser o sol, a luz intensa

O bem do que é humilde e não tem sorte!

Eu queria ser a árvore tosca e densa

Que ri do mundo vão é ate da morte!



Mas o mar também chora de tristeza...

As árvores também, como quem reza,

Abrem, aos céus, os braços, como um crente!



E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,

Tem lágrimas de sangue na agonia!

E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...



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