quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Agora, ó José

 





Adélia Prado


É teu destino, ó José,


a esta hora da tarde,

se encostar na parede,

as mãos para trás.

Teu paletó abotoado

de outro frio te guarda,

enfeita com três botões

tua paciência dura.

A mulher que tens, tão histérica,

tão histórica, desanima.

Mas, ó José, o que fazes?

Passeias no quarteirão

o teu passeio maneiro

e olhas assim e pensas,

o modo de olhar tão pálido.

Por improvável não conta

O que tu sentes, José?

O que te salva da vida

é a vida mesma, ó José,

e o que sobre ela está escrito

a rogo de tua fé:

“No meio do caminho tinha uma pedra”

“Tu és pedra e sobre esta pedra”.

A pedra, ó José, a pedra.

Resiste, ó José. Deita, José,

Dorme com tua mulher,

gira a aldraba de ferro pesadíssima.

O reino do céu é semelhante a um homem

como você, José.


Nenhum comentário:

Postar um comentário