domingo, 2 de fevereiro de 2025

Uma certa arte

 






Elizabeth Bishop


(tradução de Nelson Ascher)


A arte da perda é fácil de estudar:

a perda, a tantas coisas, é latente

que perdê-las nem chega a ser azar.


Perde algo a cada dia. Deixa estar:

percam-se a chave, o tempo inutilmente.

A arte da perda é fácil de abarcar.


Perde-se mais e melhor. Nome ou lugar,

destino que talvez tinhas em mente

para a viagem. Nem isto é mesmo azar.


Perdi o relógio de mamãe. E um lar

dos três que tive, o (quase) mais recente.

A arte da perda é fácil de apurar.


Duas cidades lindas. Mais: um par

de rios, uns reinos meus, um continente.

Perdi-os, mas não foi um grande azar.


Mesmo perder-te (a voz jocosa, um ar

que eu amo), isso tampouco me desmente.

A arte da perda é fácil, apesar

de parecer (Anota!) um grande azar.

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