Dois em um
Muito se falou sobre Cisne Negro, o filme que não venceu o Oscar mas que foi, de longe, o mais perturbador e perturbação é vital para o pensamento. Houve quem tenha prestado atenção na questão da esquizofrenia, outros ficaram atraídos pela angustiante busca da perfeição artística e outros viram ali apenas mais um filme de terror. Há outro aspecto ainda, que é o que mais me seduziu: a dificuldade de conviver com a dualidade que existe em nós.
Há na sociedade uma tendência de encaixotar as pessoas e selar uma etiqueta para defini-las. Se você é uma pessoa de cabeça aberta, não lhe perdoarão ser contra o aborto. Se é uma natureba, jamais deverá ser vista tomando uma coca-cola. Se é respeitada nos meios intelectuais como uma grande pensadora, nem se cogita ouvir de sua boca uma resposta parecida com “não sei”. Tem que saber. É obrigatório confirmar o que o seu rótulo induz a pensarem sobre você.
Ainda que tenhamos, todos, um estado de espírito predominante e um estilo de vida que dá pistas sobre o que nos é caro, a verdade é que nada nos define integralmente. Um homem pode ser conservador em suas aplicações financeiras e ao mesmo tempo um aventureiro que se arrisca em esportes radicais.
Uma mulher pode tomar seus pileques de vez em quando e ser extremamente responsável na educação dos filhos. Para a comissão julgadora, isso sugere leviandade: ou você é uma coisa, ou outra. Senão, como garantir a estabilidade que nos estrutura?
Podemos ser uma coisa, e outra, e mais outra, inclusive coisas que se contradizem (te amo, mas preciso ficar sozinho) e não há nada de frívolo nisso. Ao contrário, as pessoas verdadeiramente maduras são as que não se sentem inseguras com suas contradições e conseguem extrair delas uma sabedoria que lhes sustenta. A comissão julgadora fica meio perdida. Que nota essa criatura dual merece? Sugiro: zero em harmonia, 10 em evolução.
No filme, a dualidade se manifesta através do lado claro e escuro da bailarina que precisa interpretar dois personagens antagônicos num mesmo ballet. Ser virginal e erótica ao mesmo tempo lhe esgota e amedronta: como sobreviver a tamanha contradição?
Há muitas possibilidades de desfrutar de antagonismos sem que percamos nossa integridade, basta que a gente tenha um mínimo de bom senso para saber até onde o anjo e o demônio em nós pode se manifestar sem causar danos aos demais. Há espaço para ambos existirem, sem comprometer a nossa singularidade – ao contrário, é na ambivalência que nosso “eu” se firma e encontra a plenitude.
Se isso tudo não passar de conversa pra boi dormir, ao menos serve como argumento para justificar as inquietantes dúvidas que nunca nos abandonam.
Há na sociedade uma tendência de encaixotar as pessoas e selar uma etiqueta para defini-las. Se você é uma pessoa de cabeça aberta, não lhe perdoarão ser contra o aborto. Se é uma natureba, jamais deverá ser vista tomando uma coca-cola. Se é respeitada nos meios intelectuais como uma grande pensadora, nem se cogita ouvir de sua boca uma resposta parecida com “não sei”. Tem que saber. É obrigatório confirmar o que o seu rótulo induz a pensarem sobre você.
Ainda que tenhamos, todos, um estado de espírito predominante e um estilo de vida que dá pistas sobre o que nos é caro, a verdade é que nada nos define integralmente. Um homem pode ser conservador em suas aplicações financeiras e ao mesmo tempo um aventureiro que se arrisca em esportes radicais.
Uma mulher pode tomar seus pileques de vez em quando e ser extremamente responsável na educação dos filhos. Para a comissão julgadora, isso sugere leviandade: ou você é uma coisa, ou outra. Senão, como garantir a estabilidade que nos estrutura?
Podemos ser uma coisa, e outra, e mais outra, inclusive coisas que se contradizem (te amo, mas preciso ficar sozinho) e não há nada de frívolo nisso. Ao contrário, as pessoas verdadeiramente maduras são as que não se sentem inseguras com suas contradições e conseguem extrair delas uma sabedoria que lhes sustenta. A comissão julgadora fica meio perdida. Que nota essa criatura dual merece? Sugiro: zero em harmonia, 10 em evolução.
No filme, a dualidade se manifesta através do lado claro e escuro da bailarina que precisa interpretar dois personagens antagônicos num mesmo ballet. Ser virginal e erótica ao mesmo tempo lhe esgota e amedronta: como sobreviver a tamanha contradição?
Há muitas possibilidades de desfrutar de antagonismos sem que percamos nossa integridade, basta que a gente tenha um mínimo de bom senso para saber até onde o anjo e o demônio em nós pode se manifestar sem causar danos aos demais. Há espaço para ambos existirem, sem comprometer a nossa singularidade – ao contrário, é na ambivalência que nosso “eu” se firma e encontra a plenitude.
Se isso tudo não passar de conversa pra boi dormir, ao menos serve como argumento para justificar as inquietantes dúvidas que nunca nos abandonam.
Ótimo texto o da Marta.
ResponderExcluirEu mesmo tento conciliar coisas como ser gerente de indústria, shmupper e apreciador de rock'n'roll, tudo com a mesma intensidade.
Por falar nisso, Pamplona, vai no FNM em Novembro lá em Paulínia? Tô vendo aqui se vou poder ir!
Oi, Edward
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado deste texto lido no blog!
É um pouco o que cada um de nós faz, não é mesmo?
Confesso que não estava sabendo que o FNM ia tocar no SWU, mas vou tentar ir.
Se vc for, avise-me para que marquemos de nos reencontrar, ok?
Abs,
RPF