sábado, 10 de maio de 2014

Para minha mãe

Para minha mãe

Rodolfo Pamplona Filho
Hoje, fui ver minha mãe...
Há alguns dias, não a via...
Impedimentos não me faltavam
para justificar minha ausência:
viagens, trabalho, estudo,
projetos e compromissos mil...
Mas não podia deixar de ir
no dia que elegeram para
homenagear especificamente
aquelas que nos trazem à luz
(como se todos os dias em que
respiramos já não fossem
uma celebração da maternidade...).
Lá chegando, ela estava deitada,
como há tanto tempo está,
como se permanecer parada
fizesse recuperar o tempo
e a saúde que já se foram...
Encontro-a, beijo-a e a abraço,
como se eu não fizesse isso
sempre que a vejo...
Ela sorri... E me olha...
Mas não pode mais falar
com sua própria voz...
Mas seu olhar me diz tudo
que eu preciso saber,
sem necessidade
do menor balbuciar...
E no encontro dos olhares,
todos os sentimentos
são manifestados
como um turbilhão
que explode no silêncio...
Não resisto...
Sinto vontade de chorar...
Dou uma desculpa
de que vou cuidar da casa
e sigo para a cozinha,
ver o que estava faltando,
e para a sala,
ver e disparar mensagens
para ver se todos estão bem
e tudo está em ordem...
De repente, ela surge,
em pé, apoiada nas cuidadoras,
e vem em minha direção...
Abraçamo-nos,
finalmente na vertical,
e, de repente,
aquele abraço
vira uma dança...
uma valsa tocada
em uma harmonia sem notas,
uma melodia sem som
e um ritmo ditado
pelo bater dos nossos corações...
Giramos juntos,
lentamente,
como não houvesse dor,
tristeza ou doença,
como se o relógio parasse
e o mundo esperasse
o que fossemos fazer...
As cuidadoras parecem estranhar
aquela coreografia muda
e tentam discretamente
colocar uma musica
para acompanhar...
Pouco importa...
O que interessa é o momento,
o hoje e o sentimento...
E nossa dança termina
com ela sentando em meu colo
e, como fazia quando eu era criança,
cocando meu cabelo
e fazendo cafuné...
Não há roteiro,
não há script,
não há mais o que fazer...
senão amar incondicionavelmente...
Verdade...
Enquanto há vida,
há esperança, alegria
e sorrisos inexplicáveis...
Depois, a gente vê depois...
pois o depois é só saudade...


Salvador, 12 de maio de 2013, no dia das mães...

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