segunda-feira, 5 de maio de 2014

Helena Sacadura Cabral


NOVA LÍNGUA PORTUGUESA...IMPERDÍVEL,

> Por Helena Sacadura Cabral.utilizada frequentemente em "ciências de
> educação" ...
>
>
> Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos
> 'afro-americanos',com vista a acabar com as raças por via gramatical,
> isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a
> 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de
> 'auxiliares de apoio doméstico' .
> De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram
> todos a 'auxiliares da acção educativa' e agora são 'assistentes
> operacionais'.
> Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por
> 'delegados de informação médica'.
> E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em
> 'técnicos de vendas'.
> O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez'; Os
> gangs étnicos são 'grupos de jovens'
> Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores'; As fábricas,
> essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas da estranja
> são 'centros de decisão nacionais'.
> O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à
> 'iliteracia' galopante. Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª
> classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas
> hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria
> continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e
> 'Turística'.
> A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ;
> agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da
> pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo
> verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
> Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças
> irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um
> 'comportamento disfuncional hiperactivo' Do mesmo modo, e para
> felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas
> escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando
> muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.
> Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada
> desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O
> termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar
> inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se
> para as regras gramaticais...) As p.... passaram a ser 'senhoras de
> alterne'.
> Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça
> desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas
> fracturantes' e outros barbarismos da linguagem. E assim linguajamos o
> Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o
> novo-riquismo linguístico.
> Estamos "tramados" com este 'novo português'; não admira que o pessoal
> tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se
> pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.
>
>

> Helena Sacadura Cabral

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