terça-feira, 26 de novembro de 2019

Coração de pedra




Bento Prado Júnior





Não tem olhos de ver para a eterna beleza,

o sorriso de Deus que ilumina a existência;

não lhe fala à alma rude a suave pureza

que reponta e sorri nos lábios da inocência;



a flor não o interessa, ou surja na devesa,

onde acaso a plantou a mão da Providência,

ou soberba pompeie, onde o Belo se preza,

requinte de arte pura ou prodígio da ciência.



É que o vêzo do lucro, o seu deus verdadeiro,

lhe deu ao coração consistência de pedra

e aos olhos lhe roubou o poder da visão.



Só lhe sobe à alma torpe o ouro, a moeda, o dinheiro...

Templo erguido a Mamona, a piedade não medra

na profunda aridez do seu vil coração.

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