domingo, 24 de novembro de 2019

Sou monge perdido...






Bento Prado





Eu venho de longe,

não sei donde vim...

Sou monge perdido

das praias sem fim...



Não tenho sandálias,

perdi meu bordão...

Ao longo da estrada,

a quanto me apego,

apego-me em vão;

tropeço nas pedras

e caio no chão...

Sou monge perdido

das praias sem fim...



Não tenho sandálias,

perdi meu bordão...

De nada me lembro

do muito que vi...

Sou monge perdido

das praias sem fim...



Caminhos malditos

marcaram-me os pés,

as urzes da estrada

feriram-me as mãos...

Os pés sempre prontos,

embora a sangrar,

palmilham o chão;

as mãos sempre abertas,

afeitas a dar,

semeiam o perdão...



As novas que trago,

são novas do Rei...

Não digo mentiras,

só digo o que sei...

Está tudo escrito,

à guisa de lei,

no cerne, na carne,

no firme, no vivo

do meu coração...



As novas que trago,

mensagem de amor,

nascidas comigo,

eu sei-as de cor...



Sou monge perdido

das praias sem fim.

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