O discurso era o
mesmo:
é preciso mudar
para modernizar!
E o rolo
compressor
demonstrou o seu
valor:
deixar de ser gente
para ser
intermitente...
mas, se ganhar
mais,
ser hipersuficiente,
ou também
estar
gestante ou
lactante
trabalhando sem
restrição
em local insalubre
pela liberdade de
um tostão
a mais na conta
corrente...
O discurso era
sedutor:
é preciso combater
a má fé!
E o direito de ação
encontrou sua
limitação:
afinal, só pode ser
abuso
querer procurar
direitos de graça,
porque é caro
demais
postular para ficar
devendo:
a audácia de buscar
lã,
para voltar
tosquiado...
Agora tudo pode ser
negociado,
desde que seja para
perder
o pouco que sobrou:
prometeram nenhum
direito a menos,
mas deram apenas
menos direitos...
Vire autônomo
exclusivo
ou descubra que
vale quanto ganha
quando pleitear
reparação
por danos
extrapatrimoniais...
Terceirize sua
atividade,
resolva-se com
arbitragem
ou ganhe
gratificação
em vez de
salário...
Descubra-se em uma
encruzilhada,
em que terá de
escolher
entre ter direitos
sem nenhum emprego
e um emprego sem
direito a ter direitos
Seja tratado como
coisa,
pois seu preço é a
culpa da crise
Assim, é melhor
chamar de
abono, prêmio ou
participação,
mesmo que não
deixe
de ser seu único
ganha-pão
Os fins justificam
os meios
A ordem agora
é
flexibilizar tudo:
empresas sem
empregados,
pessoas sem
coração,
terceirizam até a
Justiça,
se houver acordo
com o patrão
O tempo passa,
só não passa a
sensação
de ser passado para
trás
Direitos mudam ou
desaparecem
e só não some o
único direito
verdadeiramente
inalienável
e presente desde
criança:
o de chorar sozinho
por ainda manter a
esperança...
Salvador, 09 de
novembro de 2018.
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