Jaci Bezerra
O amor, por vezes, causa dano
enquanto a noite acesa passa
deixando atrás o desengano
brisa que dorme e que se esgarça
ainda assim, dentro do inverno,
sempre abrasado amor eterno.
Na noite longa, quando passas,
é luminoso todo o inverno
e o coração que não se esgarça
mais do que luminoso, é terno.
Ramo de luz, meu desengano
foi te causar um dia dano.
É meu o luminoso inverno
e o passageiro desengano.
O teu rosto, dourado e terno,
acima paira desse dano,
pois tua mão serena esgarça
minha ternura quando passas.
Ao escutar meu desengano
deixas à margem, quando passas,
o lodo e o limo desse dano
que o vendaval do tempo esgarça
e traz, lavado pelo inverno,
um rastro de ternura eterno.
A tua voz doída esgarça
palavras no abrasado inverno,
doendo, inteira, quando passas
escondendo os teus olhos ternos.
Dói, meu amor, o desengano
que mágoa te causou, e dano.
Sinto que é longo e que é eterno
meu sofrimento quando passas
na correnteza desse inverno
que o vendaval do tempo esgarça,
por isso dói meu desengano
quando te causo mágoa e dano.
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