sábado, 16 de dezembro de 2023

Ambiciosa

 



Florbela Espanca


Para aqueles fantasmas que passaram,

Vagabundos a quem jurei amar,

Nunca os meus braços lânguidos traçaram

O voo dum gesto para os alcançar ...



Se as minhas mãos em garra se cravaram

Sobre um amor em sangue a palpitar ...

__Quantas panteras bárbaras mataram

Só pelo raro gosto de matar !



Minh’ alma é como a pedra funerária

Erguida na montanha solitária

Interrogando a vibração dos céus !



O amor dum homem ? __Terra tão pisada,

Gota de chuva ao vento baloiçada ...

Um homem ? __Quando eu sonho o amor de um Deus ! ...



Charneca em Flor (1930)


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