sábado, 30 de dezembro de 2023

Silêncio!...

 



Florbela Espanca




No fadário que é meu, neste penar,

Noite alta, noite escura, noite morta,

Sou o vento que geme e quer entrar,

Sou o vento que vai bater-te à porta...



Vivo longe de ti, mas que me importa?

Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear

Em roda à tua casa, a procurar

Beber-te a voz, apaixonada, absorta!



Estou junto de ti, e não me vês...

Quantas vezes no livro que tu lês

Meu olhar se pousou e se perdeu!



Trago-te como um filho nos meus braços!

E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...

Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...



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