terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Árvores do Alentejo

 



Florbela Espanca


Horas mortas... curvadas aos pés do Monte

A planície é um brasido... e, torturadas,

As árvores sangrentas, revoltadas,

Gritam a Deus a bênção duma fonte!



E quando, manhã alta, o sol postonte

A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,

Esfíngicas, recortam desgrenhadas

Os trágicos perfis no horizonte!



Árvores! Corações, almas que choram,

Almas iguais à minha, almas que imploram

Em vão remédio para tanta mágoa!



Árvores! Não choreis! Olhai e vede:

-Também ando a gritar, morta de sede,

Pedindo a Deus a minha gota de água!



Nenhum comentário:

Postar um comentário