sexta-feira, 2 de setembro de 2022

A louca




Augusto dos Anjos



Quando ela passa: - a veste desgrenhada,

O cabelo revolto em desalinho,

No seu olhar feroz eu adivinho

O mistério da dor que a traz penada.


Moça, tão moça e já desventurada;

Da desdita ferida pelo espinho,

Vai morta em vida assim pelo caminho,

No sudário de mágoa sepultada.


Eu sei a sua história. - Em seu passado

Houve um drama d’amor misterioso

- O segredo d’um peito torturado -


E hoje, para guardar a mágoa oculta,

Canta, soluça - coração saudoso,

Chora, gargalha, a desgraçada estulta.

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