segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Busque Amor novas artes, novo engenho





Busque Amor novas artes, novo engenho


Pera matar-me, e novas esquivanças,


Que não pode tirar-me as esperanças,


Que mal me tirará o que eu não tenho.




Olhai de que esperanças me mantenho!


Vede que perigosas seguranças!


Que não temo contrastes nem mudanças,


Andando em bravo mar, perdido o lenho.




Mas, enquanto não pode haver desgosto


Onde esperança falta, lá me esconde


Amor um mal, que mata e não se vê,




Que dias há que na alma me tem posto


Um não sei quê, que nasce não sei onde,


Vem não sei como e dói não sei porquê.



Luís de Camões

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