domingo, 27 de agosto de 2023

Morrer é Doce!






Rodolfo Pamplona Filho


Quando em meu peito, romper-se a corrente

Que a alma me prende à dor de viver

Não quero por mim, nem uma lágrima,

Nem um suspiro, nem um sofrer...

Não quero que uma nota de alegria

Se cale por meu passamento.

Não quero que um sorriso

Se apague pelo fim do meu triste tormento!


Viver foi peregrinar no deserto,

Procurando achar o que não estava escondido,

viver foi submergir no tédio,

Tentando encontrar o que já estava perdido

Quando se esgotar o meu suspiro,

Não desfolhe por mim sequer uma flor!

Não tornai outro ente matéria inútil.

Sozinho, da morte, deixai-me o torpor!


No meu epitáfio, escrevas:

Foi homem e, pela vida, passou

Como nas horas de um pesadelo

Que só, com a bela senhora, acordou


Descansem meu leito solitário

À sombra de um triste cipreste,

Numa floresta há muito esquecida

Onde não usurpem o que ainda me reste.

Este parece ser meu desejo final

Neste esperado momento de verdade nua.

Eis-me pronto para beijar a bela senhora

E ver como a morte é doce e crua!

(1989)

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