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quinta-feira, 18 de novembro de 2010
De amigo para amigo (aula da saudade para os Formandos em Direito UNIFACS 2001)
De amigo para amigo (aula da saudade para os Formandos em Direito UNIFACS 2001)
Magnífico Dr. Manoel Joaquim Fernandes de Barros Sobrinho, Reitor da Universidade Salvador – UNIFACS,
Ilmo. Sr. Prof. Adroaldo Leão, Coordenador do Curso de Direito, em nome de quem saúdo todos os demais membros da mesa de trabalhos da solenidade,
Minhas senhoras e meus senhores,
Meus Amigos
Quando fui comunicado de que tinha sido eleito, por unanimidade, o professor amigo da turma, uma enorme alegria tomou conta do meu ser.
Percebi que a semente do carinho mútuo, lançada no alegre convívio em sala de aula, em tão pouco tempo já tinha se tornado uma frondosa árvore, frutificando um dos sentimentos mais nobres do ser humano: a amizade.
Todavia, quando fui “intimado” a proferir algumas breves palavras na solenidade de formatura, quebrando, inclusive, o ritual tradicional de tais eventos (em que a aula da saudade é somente destinada ao paraninfo e, excepcionalmente, ao patrono da turma), constatei que alcançamos um patamar diferenciado de confiança recíproca e – por que não dizer? – cumplicidade, que somente aqueles que se amam verdadeiramente podem atingir.
Ainda emocionado pela honra de tal distinção, prometo fazer uma exposição sucinta, sempre tendo em mente que o bom discurso é aquele que é claro o suficiente para ser entendido e curto o suficiente para – quem sabe? - ser aplaudido.
Falarei sobre o papel do educador na universidade e na vida.
Trabalhar com educação é uma tarefa das mais desafiadoras, pois o professor é, antes de tudo, um formador de mentes, um edificador de ideologias, um construtor de uma nova visão da realidade social.
Em um país, porém, cuja negação diuturna de valores morais assombra qualquer indivíduo com um mínimo de discernimento, o verdadeiro papel do educador acaba sendo não somente o de ministração de conhecimentos científicos, mas principalmente o de dar um testemunho vivo de uma conduta ética, cuja formação acaba se impondo por exclusão nesse grau de vida acadêmica, ante a omissão de governantes, docentes do nível básico e, às vezes, até mesmo, lamentavelmente, do meio familiar.
Quando não se tem o exemplo dentro de casa, a universidade acaba se tornando a última válvula de escape da esperança de conscientização de cidadania, não devendo ser encarada como uma mera disciplina de repetidores de fórmulas prontas.
Por isso, conhecendo pessoalmente a formação de muitos dos formandos, não deixo de ver com bons olhos o fato de escolherem como paraninfo um pai, o Dr. Gabino Kruschewsky, mesmo não sendo esta a forma mais ortodoxa nos cursos jurídicos. Talvez essa opção possa, metaforicamente, ter ainda um significado maior, pois todo verdadeiro educador é um pai, por adoção intelectual, e, assim, homenageando o seu paraninfo, homenageamos todos os pais dos formandos, presentes ou in memoriam, e todos os professores do curso, essencialmente co-partícipes da benção dessa noite.
Mas é do papel do professor na universidade e na vida que estou falando.
E desse tema não fugirei, embora me pareça que não há como destrinchá-lo, ainda que para efeito didático, tendo em vista que o professor que se limita à sala de aula não ensina nada, pois se ele não se envolver efetivamente com o processo de formação de seus discípulos, ele simplesmente estará jogando palavras ao vento, sem qualquer possibilidade de feedback, esvaindo-se como grãos de areia na grande ampulheta da vida.
O exemplo de cada professor é aquilo que fica, depois que se esquece a aula. É a postura, a retidão de caráter em cada manifestação, seja na Academia, no Tribunal, na Igreja ou na Vida.
Assim, quero passar por suas vidas como uma cicatriz ou uma tatuagem, que deixa marcas didáticas nos recônditos da lembrança, e não como uma maquiagem, que a água retira sem envolvimento, sonhos e esperanças...
Para isso, advirto-os que não esperem da humanidade a pronta compreensão de seus anseios. Não se deixem contaminar pelas inúmeras tentações que encontrarão no caminho, prometendo-lhe retorno fácil e rápido por um preço impagável, que é a venda de sua alma.
Em qualquer atividade profissional que desejem seguir (advocacia, magistratura, ministério público, entre tantas outras), nunca se rendam ao arbítrio e à anestesia da capacidade de se indignar. De tanto vermos o lado ruim das coisas, é comum começarmos a achar isso normal... Isso não pode se tornar uma verdade absoluta. Recusem-se a tratar o indivíduo que comparece à sua mesa de audiência ou a seu gabinete particular como um número, e não como um cidadão.
Convivemos um bom tempo juntos, em momentos de alegria e de tristeza, de saúde e de doença. Até mesmo o nascimento de Marina vocês testemunharam, alguns até indo em minha casa para conhecer a pequerrucha, o que reforçou ainda mais o meu sentimento paternal em relação a vocês.
Nesse convívio saudável, em que tivemos um pacto de sempre falar a verdade, compartilhamos dores (físicas e morais) e, conseqüentemente, sentimentos de revolta, mágoa e profunda tristeza com a injustiça dos homens. Nessas oportunidades, confesso que cheguei a vituperar que estava perdendo a fé na humanidade. Todavia, aprendi, na escola da vida (e, nas palavras de Guimarães Rosa, "mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende") que esse é um discurso inaceitável, pois, no dia em que acreditarmos que a humanidade não tem mais jeito, estaremos fazendo ou uma confissão de prepotência (pois seríamos os únicos remanescentes de uma humanidade sadia) ou de auto-falência (pois nós, como parte da humanidade, também não teríamos mais jeito).
Não, definitivamente não!
É na luta diuturna e incansável pela depuração do sistema que se combate a mediocridade. Não se muda um mundo da noite para o dia, pois é um trabalho de "formiguinha" para muitas gerações. Hoje, vivemos as conseqüências do que se fez no passado e Marina (e todos os nossos botões de rosa que ainda vão nascer e crescer) receberão um mundo melhor ou pior de acordo com o que fizermos.
É preciso ver sempre o lado bom das coisas, não com uma ingenuidade infantil e imatura, mas sim com o incentivo à utopia e à boa fé, para que nunca sejamos acusados de ser assassinos de sonhos.
Há uma velha história, muitas vezes contada com bom humor, que é muito ilustrativa dessa situação:
Era uma vez uma indústria de calçados aqui no Brasil que desenvolveu um projeto de exportação de sapatos para a Índia. Em seguida, mandou dois de seus consultores a pontos diferentes do país para fazer as primeiras observações do potencial daquele futuro mercado.
Depois de alguns dias de pesquisa, um dos consultores enviou o seguinte fax para a direção da indústria:
"Senhores, cancelem o projeto de exportação de sapatos para a Índia. Aqui ninguém usa sapatos."
Sem saber desse fax, alguns dias depois o segundo consultor mandou o seu:
"Senhores, tripliquem o projeto da exportação de sapatos para a Índia. Aqui ninguém usa sapatos, ainda."
MORAL DA HISTÓRIA: a mesma situação era um tremendo obstáculo para um dos consultores e uma fantástica oportunidade para outro.
Da mesma forma, tudo na vida pode ser visto com enfoques e maneiras diferentes. A sabedoria popular traduz essa situação na seguinte frase: "OS TRISTES ACHAM QUE O VENTO GEME; OS ALEGRES ACHAM QUE ELE CANTA".
O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. A maneira como você encara a vida faz TODA a diferença. Toda a diferença entre VIVER A VIDA ou ESPERAR A MORTE CHEGAR.
A vida sem poesia não tem graça, nem sentido. Por isso, encerro essa participação com palavras atribuídas a Pablo Neruda:
“Na vida
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não arrisca vestir uma cor nova e não fala com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o escuro ao invés do claro e os pingos nos "is" a um redemoinho de emoções, exatamente a que resgata o brilho nos olhos, o sorriso nos lábios e coração ao tropeços.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto, para ir atrás de um sonho.
Morre lentamente quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, ouvir conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte, ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, ou nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em suaves porções, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples ar que respiramos.
Somente com infinita paciência conseguiremos a verdadeira felicidade.”
De amigo para amigos...
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