Ilustríssimo Prof. Adroaldo Leão, Coordenador do Curso de Direito,
em nome de quem saúdo todas as demais autoridades presentes e representadas.
Meus colegas, alunos, amigos e parentes dos formandos.
Meus afilhados.
Quiseram vocês, hoje bacharéis em Direito pela UNIFACS, que eu, na condição de patrono – e, por isso, padrinho da turma! – fizesse um rápido pronunciamento nesta solenidade.
E tem de ser rápido mesmo, pois o Cerimonial estabeleceu o prazo de 5 (cinco) minutos para este discurso.
Mas é bom que seja rápido realmente, pois não há nada mais maçante em uma formatura do que um discurso “nas nuvens”, sem qualquer interação com a audiência, principalmente se for proferido por quem não é o efetivo legitimado para tal tarefa, uma vez que, tradicionalmente, é somente o paraninfo, homenagem mais importante de qualquer colação de grau, que deve pronunciar as derradeiras palavras da despedida.
E tenho certeza de que vocês terão uma excelente “aula final”, pela inteligência, brilho e simpatia do meu querido colega e amigo Prof. Antonio Carlos “Guga” Paula de Oliveira.
Com a consciência, portanto, de que devo ser a “entrada” para o “prato principal”, tentarei fazer um discurso que seja como um bom biquíni: que cubra o essencial, mas seja o curto o suficiente para manter o interesse...
E o interessante é notar que esta é uma oportunidade que se renova em minha vida.
Embora eu nunca tenha tido a honra de ser paraninfo, convocaram-me outras 06 (seis) vezes (quatro como patrono e duas como amigo da turma; quatro pela UNIFACS e duas pela UCSAL) para apresentar algumas palavras de despedida neste momento tão especial de suas vidas!
E, por isso, tentando honrar a convocação, sempre procurei fazer algo diferente neste momento.
Já recitei Neruda, já cantei, já fiz uma carta de amor e saudade para os formandos, já fiz uma conversa de comadres com os pais dos bacharelandos...
E fiquei pensando como ser original novamente, dentro do tempo, mas de forma abrangente para demonstrar a honra que é, para mim, proferir estas palavras.
Por isso, resolvi escrever um discurso, hoje de tarde, com o seguinte título: “Saudade do que se sentiu; nostalgia do que não se viveu”.
E por que este título?
Por que, em primeiro lugar, é um dever de coerência, para mim, homenagear e agradecer, sinceramente, aos formandos da Turma A matutina. Para qualquer professor, ser aceito como patrono por uma turma, para a qual não ministrou aulas, é uma agradável surpresa e felicidade. Como eu lamento o fato de que, por questões profissionais e de saúde, não posso pegar todas as turmas do curso, de forma a conhecê-los pessoalmente, um a um! Se, hoje, já sei algo de vocês, através das informações dos corredores, dos meus colegas ou mesmo de alguns poucos com que tenho contato pessoal (inclusive um discurso de Manoel que chegou às minhas mãos), isto é muito distante do enorme potencial de carinho que poderíamos construir com uma convivência mais diuturna...
Aliado a isso, forma-se hoje o pessoal da Turma B matutina. Um grupo muito especial para mim, do qual me tornei parte. Lembro-me de uma ida a um churrasco, logo no início do quarto ano, em que alguns de vocês atestaram a minha completa falta de perícia ao volante. Não me esqueço do nosso TRTour, em que, depois de conhecermos toda a estrutura judiciária de primeira instância, saímos para almoçar em uma churrascaria na Ladeira da Montanha... Ou as fantásticas apresentações das audiências simuladas, em que discutimos seriamente a existência de direitos trabalhistas nas relações da diarista Marinete e Figueirinha, Fred Flintstone e a Pedreira Bedrock, Homer Simpson e a Usina de Springfield e até mesmo João Grilo e a mulher do padeiro no Auto da Compadecida...
Ou mesmo o efetivo aprendizado nos estágios na primeira Vara do Trabalho de Salvador, nos famosos “artigos voluntários” ou mesmo na monografia, em que 10 membros desta turma foram meus orientandos diretos e outros tantos indiretos ou por mim avaliados...
Ou seja, vivo, nesta homenagem, sentimentos diversos, porém complementares: uma turma que aprendi a amar sinceramente e outra que gostaria muito de conhecer... É a saudade do que senti e a nostalgia do que não vivi...
Olhando o lindo e personalizado convite de formatura de vocês, deixei minha mente viajar com diversas imagens...
Quando estava rascunhando este discurso, pensei em fazer uma descrição de cada um de vocês. Para isso, pedi a pessoas amigas que me falassem um pouco de como foi a convivência nestes anos, bem como que me passassem características que eu pudesse expressar aqui em público.
Li o lindo discurso de Manoel na aula da saudade, conversei com professores e colegas da turma, pesquisei dados no curso, lembrei de passagens pessoais minhas com aqueles que não foram meus alunos em Direito Processual do Trabalho, mas sim em Direito Civil (no outro turno ou ano), ou mesmo avaliados por mim na monografia ou no contato via IEJ, DA, corredores da faculdade ou mesmo caronas eventuais...
Coletei, tal qual uma pesquisa de monografia, uma quantidade enorme de informações e comecei a colocar tudo no papel...
De repente, por volta das 16:30 de hoje, percebi que estava fazendo tudo errado...
De fato, ao construir o discurso, estava eu, olhando página por página do convite, escrevendo uma informação obtida de cada um e, de repente, percebi que eu não sabia qual era a diferença entre Diego “Canudo” e Dieguinho... Que o Bruno que eu conhecia era o irmão de Tarsis, mas tinha um que não estava se formando com solenidade... Que havia pessoas nas fotos da turma B que não tinha sido meus alunos...
Liguei para Manoel e não consegui falar. Ele me retornou a ligação minutos depois e eu disse que não estava ficando satisfeito com o que eu estava escrevendo...
E aí, eu cheguei à conclusão óbvia: se fizesse um discurso como eu estava pensando em fazer, eu faria algo artificial, com um mero propósito de provocá-los pela menção a seus nomes, mas sem, efetivamente, tocar verdadeiramente em seus corações...
Além de tudo isso, ele estava ficando enorme, já com doze páginas, pois é impossível falar de algumas dezenas de formandos em apenas cinco minutos...
Assim, para a alegria do pessoal do cerimonial, eu deletei imediatamente o discurso que estava redigindo, mantendo apenas a parte introdutória, que já li até este momento.
E o que eu resolvi fazer a partir de agora?
Se, hoje, eu já amo muitas pessoas da Turma B como filhos que vi crescer; e se, sinceramente, eu gostaria muito de me tornar amigo daqueles que ainda não conheço da Turma A, eu não tenho outra alternativa, senão ser eu mesmo.
Ser esta criatura diferente, que adora quebrar protocolo e que faz qualquer coisa para tentar captar a atenção de seus alunos.
E, por isso, neste derradeiro momento, eu vou tratar todos vocês, indistintamente, como meus alunos.
E como eu quero muito a atenção de vocês neste momento final, vou fazer mais uma de minhas irreverências como professor!
QUERO TODOS DE PÉ!
Eu quero deixar registrada a lição mais preciosa que um pai pode dar para um filho: o sentimento do amor.
Este amor ágape que a gente aprende a cultivar do filho para o pai, do amigo para o outro, do professor para o aluno e do discípulo para o mestre...
É o Amor que eu tinha por Calmon, que nos deixou recentemente...
É o Amor que eu tinha pelo nosso velho parceiro Joaquim Almeida, a primeira pessoa que me deu uma oportunidade no magistério e que, hoje, também já foi para outro plano...
É um Amor que não se perde pela distância, pelo tempo ou pela morte...
É um Amor que move a vida de quem ficou, mas que permanece, mesmo com o sentimento desolador quando o destinatário já se foi há muito ou há pouco tempo... (Dica... Nilton... vocês entendem o que estou dizendo, não? Viviane... Igor... Tiago... Vitor... Ludmila... Manoel... isso é para vocês também...)
Para que eu coloquei vocês de pé?
Para uma “dinâmica pamplônica” final!
Eu estou provocando-os a refletir sobre o amor que vocês têm!
Mas, agora, eu encerro com o amor de que vocês são o alvo.
Sentados, vocês não iam conseguir fazer isso. Por isso, de pé, eu peço: olhem para as pessoas que estão ali embaixo, ansiosas para abraçá-los novamente, talvez mais felizes do que vocês mesmos pela sua vitória.
Tentem entender o que essas pessoas passaram para que vocês estivessem hoje, aqui, lindos, crescidos e formados.
E pensando nelas, ouçam o singelo poema que escrevi para meu filho, quando a saudade apertava demais:
Amor de Pai
Quando eu soube que você viria,
sensação diferente foi a minha:
alegria de receber alguém que não conhecia,
mas que conheceria como ninguém mais poderia
As primeiras noites mal-dormidas...
Cólicas, febres e recusa à comida...
Fraldas, chupetas e mamadeira...
Cuidar disso não foi brincadeira...
Confesso que senti ciúme do seio
Pois queria estar naquele meio
Trocar sentimentos sem sequer falar...
Tocar o coração sem mais nada precisar...
Ler histórias para dormir no maior breu...
Colocar nos ombros para ver “como cresceu”
Ver um sorriso que ilumina o ambiente
E uma risada que alegra toda a gente
Assistir o mesmo filme 50 vezes...
Explicar a mesma coisa por meses...
Cantar a mesma canção para acalmar...
Replay’s de cenas no aprendizado de amar...
Ver aquele pingo de gente crescer
Descobrir novo ser, sem do antigo esquecer...
(R)Encontrar alguém que o conhece desde que nasceu...
E que não mais aceita todo conselho seu...
- não faço isso por mal, mas para poupar
que sofra da mesma forma que eu, ao sonhar...
Esqueço que filhos também têm o direito de tentar
cometer novos erros ou os mesmos, para meu frustrar...
Mas, mesmo assim, quando a saudade aperta,
Ainda que a volta ao lar seja realmente incerta
Quero dizer que os pais nunca ficam sós,
Se for possível ouvir, de longe, a sua voz...
A minha torcida pela sua vitória
A construção conjunta de uma história...
A minha alegria pela sua felicidade
Amor de pai não tem idade...
Descubram e sejam felizes...
Ao ler novamente o discurso proferido pelo senhor na minha colação de grau, um filme passou em minha cabeça, uma mistura de emoções e lembranças(saudade, carinho, cumplicidade, etc) veio a tona, o que me fez chorar, por saber que estes momentos vividos não voltam mais, mas, também fiquei feliz, por saber que tive a oportunidade de conviver e aprender com pessoas especiais.
ResponderExcluirLendo aqui o seu discurso percebi o motivo pelo qual só consegui ver o vídeo do seu discurso uma única vez...rsrsrsrsr...meu coração não aguenta.
lembro-me que enquanto o senhor discursava um mar de lágrimas surgia entre os formandos, eram meninas que já não se importavam com a maquilagem, homens em pranto, pais que se emocionavam e começavam a entender o motivo de seus filhos amarem tanto o senhor, momento inesquecível salvo em vídeo e para sempre em nossos corações!
Lindo poema... Só quem é pai (ou mãe) para entender a profundidade desse registro!
ResponderExcluirAgradeço pela oportunidade de ter sido sua aluna!
Um beijo,
Tatiana Chaves
Querida Leila
ResponderExcluirEste discurso, proferido em sua formatura, foi, por diversos motivos, um dos que eu mais gostei de fazer...
Gostaria muito de ver este vídeo um dia...
Beijos,
RPF
Querida Tati
ResponderExcluirO prazer e a honra de ter sido seu professor em Direito do Trabalho I, no já distante primeiro semestre do ano de 1999, foram todos meus...
Beijocas saudosas,
RPF
Quando for em Salvador, levo uma cópia para o senhor!
ResponderExcluirCombinado!
ResponderExcluirBjs,
RPF