Discurso como Patrono dos Formandos 2004 do Curso de Direito da UNIFACS
Magnífico Prof. Manoel Joaquim de Barros, Reitor da Universidade Salvador – UNIFACS
Ilustríssimo Prof. Adroaldo Leão, Coordenador do Curso de Direito,
em nome de quem saúdo todas as demais autoridades presentes e representadas,
bem como os ilustres colegas professores do Curso de Direito.
Minhas senhoras e meus senhores.
Meus alunos, amigos e afilhados.
Há algum tempo, desde que fui comunicado que deveria fazer um rápido pronunciamento nesta colação de grau, venho pensando no que poderia transmitir como patrono da turma.
Isso porque a aula magna de despedida, como a efetiva e final manifestação do corpo docente do curso, somente pode ficar a cargo do paraninfo da turma, simbologia paterna que não posso e nem pretendo abandonar, ainda mais tendo em vista que esta homenagem da paraninfia, a mais importante glória acadêmica, foi outorgada a um dos mais brilhantes professores do curso, o Prof. Rômulo Moreira, cuja amizade foi um dos maiores presentes que a UNIFACS me proporcionou.
Então, o que falar?
Em outras oportunidades em que, pelo imenso carinho e companheirismo reciprocamente nutrido, outras turmas de formandos solicitaram-me um pronunciamento, tentei sempre fazer algo diferente do que convencionalmente se espera em uma formatura, ainda mais de um curso de Direito.
De fato, já cantei, recitei poemas, fiz cartas coletivas e individuais, enumerei características pessoais de diversos dos formandos, talvez até mesmo para me desincumbir do ônus da prova de nossa cumplicidade (o que vocês me permitiram fazer na aula da saudade, mas que, aqui, jamais seria possível pelo tempo proposto e imposto...), ou seja, busquei sempre derramar o meu coração na busca constante da coerência afetiva.
Deste caminho, não quero me desviar, ainda que soe estranho querer manter a tradição de não ser tradicional...
E isso, para mim, é algo muito especial, pois desenvolvi relacionamentos pessoais com diversos membros desta turma, que acompanhei em vários momentos de sua trajetória, momentos estes de crescimento intelectual, mas também de repensar sobre a vida, sobre o amor, sobre a alegria e sobre a dor...
Além disso, depois de quatro anos seguidos fazendo pronunciamentos em formaturas, esta pode ser a minha despedida da tribuna, uma vez que, dado o brilho dos membros do nosso corpo docente, encaro de forma bastante natural que, dificilmente, serei novamente convocado para tal mister, haja vista que esta é última turma que se forma em que terei ministrado aulas para todos os alunos.
E o que falar, portanto, neste momento de adeus?
Falar de amor, para mim, é sempre inevitável, mas não somente disso...
Falar de saudade também soa necessário nesta solenidade tão carregada de emoção.
Falar do passado, presente e futuro é a vontade que me atenta, visando a um recordar da experiência vivida, um cumprimentar pelo instante que se vive e um sonhar com o amanhã que se avizinha.
Diante de tudo isso, decidi falar do significado deste momento.
Todavia, não falar dele para vocês, pois este é um momento que vocês devem degustar pelo coração, e não pela razão, mas sim falar dele para todas as pessoas que decidiram sair de suas casas, em uma noite de sexta-feira, para compartilhar com vocês esta vitória.
Decidi falar, não para vocês, mas para seus amigos, colegas e parentes, mas, principalmente, para seus pais.
Sim, para seus pais! Aqueles que, talvez mais do que vocês, estejam lembrando de toda uma vida – as suas vidas! – em um breve lapso de tempo...
Sim, para seus pais! Aqueles que nos confiaram, como professores, o que têm de mais precioso em suas vidas: os seus filhos!
Sim, os seus pais! Aqueles que muitas vezes nós substituímos sem tomar-lhes o lugar, mas com quem dividimos uma paternidade coletiva, pelo menos no amor ao Direito e a cada um de vocês.
É uma mensagem, portanto, de um pai para outros pais:
Meus companheiros de paternidade compartilhada
Estou cansado de ouvir as pessoas falarem, não sem um pouco de razão, que uma solenidade de formatura é algo demorado e maçante.
Sinceramente, fora a possibilidade de algum insensível querer falar algo que não interesse aos presentes, acho que esta afirmação pode soar um pouco exagerada.
Com efeito, perdoados aqueles que têm de comparecer por estarem cumprindo ordens (funcionais ou por laços de parentesco), quem está aqui hoje, neste momento, é porque realmente tem estes formandos em seu coração. Quem somente vai aparecer para a festa não atura a “parte litúrgica” do evento e somente vai chegar daqui a pouco, procurando loucamente os novos bacharéis ou suas famílias para pegar o convite individual...
Então, na verdade, temos, aqui, reunida a maior torcida das suas vidas, uma torcida disposta a estar presente, por mais cansativa que seja a maratona, em uma fidelidade somente comparável à do torcida do glorioso Esporte Clube Bahia, se é que isso é possível...
E este “sacrifício” se dá pela certeza e felicidade que este momento simboliza a passagem para a vida adulta no Direito.
Cumprimos a nossa missão, pais e professores (pais que somos por adoção intelectual e afetiva).
E o que fazer agora?
Como pais, só nos resta continuar amando: amando da forma mais intensa que possamos expressar...
E um amor adulto (mesmo que sempre os vejamos como crianças) importa em vigiar, em orar, mas, principalmente, em respeitar a liberdade.
Há duas canções que gosto muito!
Uma, em inglês, tem um refrão que diz “If you love somebody, set them free” (se você ama alguém, liberte-o!). Outra, de um dos bardos da minha geração, Renato Russo, diz “E há tempos nem os santos têm ao certo / A medida da maldade / Há tempos são os jovens que adoecem / Há tempos o encanto está ausente / E há ferrugem nos sorrisos / E só o acaso estende os braços / A quem procura abrigo e proteção. / Meu amor, disciplina é liberdade / Compaixão é fortaleza / Ter bondade é ter coragem”
Eu repito: “disciplina é liberdade / Compaixão é fortaleza / Ter bondade é ter coragem”...
Uma das mais difíceis (e eu também sou pai e posso testemunhar isso!), mas mais plenas formas de amar é libertar...
Amor é liberdade, para aceitar as escolhas alheias, mesmo quando nos parecem erradas (ou certas as opções, porém pelos fundamentos equivocados), aceitando até mesmo quando somos rejeitados, desprestigiados, vetados...
Se as palavras machucam, não há palavras mais terríveis do que aquelas que vêm de quem se ama...
Para amá-los plenamente, precisamos libertá-los e libertar a nós mesmos, para nos encontrar e descobrir quem somos e quem são as pessoas que nós amamos!
É preciso dar ciência das opções e torcer...
Torcer para que surja a consciência do que pode e do que deve ser feito.
O que fazer, como pais, quando temos a convicção de que as opções feitas por nossos filhos parecem equivocadas?
O que fazer quando não temos mais o controle daquelas criancinhas de outrora, homens e mulheres que são, maiores do que nós, por vezes com mais conhecimento teórico do que nós?
Gritar, bradar, romper relações?
Vencer pelo grito é mais gritar do que vencer...
... porque não é convencer...
Talvez o caminho mais adequado, mas, por isso, mais lento e menos traumático, seja o de remar contra a maré...
...remar, remar, ... sem cessar, sem descansar...
Não há como cessar o fôlego, se não quisermos, na maré espiritual...
Esse caminho, nós já seguimos.
Nós fizemos isso quando, mesmo contra a vontade deles, fomos intransigentes, exigentes e rigorosos.
Não necessariamente sisudos ou, numa expressão que aprendi recentemente, com uma rudeza agri-doce (presente ou não, pouco importa!).
O mais importante de nossa missão, que hoje encerra um ciclo, é que fomos coerentes com o que acreditamos, não assassinando os sonhos de nossos filhos, mas, sim, dando um testemunho de que é possível ser diferente do que cotidianamente se vê e se pratica.
É preciso mostrar, como nós mostramos, que há liberdade para ser diferente; que é possível dizer não à canalhice; que ser honesto não é qualidade, mas sim premissa de todo aquele que lida com a coisa pública ou privada, própria ou de outrem...
É preciso mostrar, como nós mostramos, que há liberdade para não achar que se todos fazem, devemos fazer também; para não achar que se alguém paga bem, que mal tem; para não achar que se a estrutura é podre, nós não podemos fazer nada...
Podemos, sim!
No livro de Provérbios, 21, 21, consta que “O que segue a justiça e o amor, acha vida, prosperidade e honra”.
Não queremos recompensas pelo cumprimento de nossas obrigações.
Não queremos recompensas terrenas por fazermos a coisa certa!
Demos, cada um a seu modo, o nosso testemunho de que não somente é possível, mas também vale a pena combater o bom combate.
Combater o bom combate como o fez o Prof. Antonio Carlos de Oliveira, homenageado por esta turma com o seu nome e um dos homens mais probos e gentis que jamais conheci. Combater o bom combate como fizeram todos aqueles que amamos e que não estão mais entre nós...
Por que aprendemos a amá-los, aprendemos a dar-lhes a liberdade para serem o que quiserem.
E, por isso, voltando a me dirigir aos formandos, declaro: esta imensa torcida confia em vocês, mas lhes dá a liberdade porque os ama.
Amar tem mais de decisão do que de sentimento!
Amar é uma opção!
E nós optamos por amar vocês!
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Lindo demais, mas vindo de vc (e do seu coração) não poderia ser diferente. Agora, trate de começar a se inspirar porque minha formatura tá chegando!!!
ResponderExcluirLindo demais, mas vindo de vc (e do seu coração) não poderia ser diferente. Agora, trate de começar a se inspirar porque minha formatura tá chegando!!! [2]
ResponderExcluirTali tirou as palavras de minha boca.
LINDO, LINDO, LINDO!
Beijocas,
Didier.
Amadas filhas Talita e Ninha
ResponderExcluirVocês não sabem como fico feliz quando leio seus comentários por aqui...
Muitas saudades...
Beijocas do papai,
RPF