sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Discurso como Patrono dos Formandos em Direito de 2002 da UNIFACS



Magnífico Prof. Manoel Joaquim Fernandes de Barros Sobrinho, Reitor da Universidade Salvador – UNIFACS,
Ilmo. Prof. Adroaldo Leão, Coordenador do Curso de Direito, em nome de quem saúdo todos os demais membros da mesa de trabalhos da solenidade,
Minhas senhoras e meus senhores,
Meus Amigos e Afilhados,

Como é que se deve começar um discurso?
Além das saudações protocolares, as regras – sempre as regras! – de cerimonial impõem que, após os cumprimentos aos membros da mesa alta, faça-se o registro da gratidão pela escolha do nome do interlocutor para o pronunciamento.
Não há a menor dúvida que ser instado a falar no momento mais importante da carreira acadêmica de jovens bacharéis é uma honra que sela, de forma definitiva, todo um processo de construção de uma amizade, discipulado e cumplicidade.
Todavia, muito mais do que agradecer esta imensa prova de carinho, preferi fazer um flash back de nosso salutar convívio para tentar compreender as raízes desta árvore que nos presenteia com sombra, flor e fruto.
Nunca acreditei que o professor deva se portar de forma distante dos alunos.
Acredito que o magistério é a vocação mais próxima do sentido da paternidade, em que a certeza de que o futuro dos seus pupilos está em suas mãos é a verdadeira motivação para o enfrentar de todas as dificuldades do dia-a-dia.
Dar a mão a quem está aprendendo a andar; acarinhar na hora do nervosismo e ninar na hora do descanso são muito mais do que metáforas para esta atividade, e sim condutas típicas deste múnus prazeroso.
Da mesma forma como puxar a orelha no momento da rebeldia e soltar os cachorros na hora da bagunça, como a disciplinar crianças, que ainda não perceberam que já eram adultas.
Adultas...
Meu Deus, vocês cresceram...
E acompanhar este crescimento é, novamente, sentir-se parte de uma orgulhosa paternidade que conhece, detalhadamente, cada um de vocês.
Como esquecer a doçura de Marina, Léa, Liege, Larissa e Laís? Como não se empolgar com a disposição para o Trabalho de Ana Clara, Sheila e Lilian? Com o talento para a advocacia de Vicente (apesar da letra!!!)? A inteligência pulsante – apesar da eventual ausência física - de Paula Sarno? A argumentação incisiva – quase agressiva - de João Bezerra e Eneida? A ponderação nos Argumentos de João – John - Sena? A curiosidade insaciável de Carol Seixas e de Heyde Maia? Ou o talento dramático de Daniela na minha audiência simulada?
Posso relatar, sem exagero, pelo menos uma característica marcante de cada um dos formandos, mas isso poderia soar cansativo em um discurso de formatura, que, pela emoção do momento, tem de ser claro o suficiente para ser entendido e curto o suficiente para não ser esquecido.
São as últimas palavras do professor, como professor, e isso embarga a voz, a mente e o coração pela saudade...
Saudade das sensações vividas diuturnamente, que não podem ser apagadas da memória pelo simples decurso do tempo, pois o amor a tudo sobrevive, até mesmo ao mais nefasto dos sentimentos, que não é o ódio, mas sim a indiferença...
Como ficar indiferente com a benção do casamento, como viveram Verena, e até Avelina e Verônica, que não estão formando com a turma?
Como não ficar feliz com os olhos de Marjorie, no seu novo e definitivo amor?
Como não ficar solidário na recuperação de Ju Lima no hospital, na busca de Ju Mello por um estágio ou na tristeza e lembrança – no que estou aqui irmanado – do pai de Fabinho?
E a benção da paternidade para Luciano? E o tricô, com Nara, sobre as peripécias de nossas filhas? E há coisa mais linda do que o casal Zeca e Annelise?
E meus orientandos, formais ou indiretos, estressados - sem motivo! com a expectativa da defesa oral da monografia? E minhas irmãzinhas em Cristo, todas dando sempre um testemunho vivo da diferença que é ter Jesus no coração...
E até mesmo aqueles que foram reprovados em minha matéria, por puro vacilo, também se revelaram bons estudantes no ano seguinte e queridos amigos...
Nessa intimidade, passei a compreender, inclusive, a existência de uma linguagem própria, quase um dialeto, no nosso convívio.
Cheguei a pensar até mesmo em começar este discurso com a saudação que mais vejo nos e-mail’s de um dos meus xodós desta turma: colé, galera! Achei, porém, que isso poderia ficar pouco compreensível e adequado para a platéia.
Como o são, por exemplo, expressões como a aula do McDonald’s, da turma da manhã, ou a gloriosa Galera da Cozinha, marco na história desta faculdade...
Aprendi até a cantar a música do Samir – e ainda bem que Ângelo e Saulito, donos de um grande talento musical, não trouxeram um violão, pois, senão, teríamos que ouvi-la aqui.
E os apelidos? Somente quem partilha da nossa proximidade pode saber quem raios são Crazy, Grapirua, Pipoquinha, “filho de Bonelli”, Piu-piu, Abelha, Papai Smurf, Coelho, Gema, Borbosa, Felzer, Zova e Deda...
Isso sem falar na terrível, insuperável, insofismável “lista negra do Pamplona” que, mais uma vez, acabou tendo de admitir habilitações aos quarenta e oito minutos do segundo tempo, em gol de mão, em impedimento...
Realmente, nós podemos dizer que nos conhecemos...

E justamente por conhecê-los – e o professor é também um pastor - a proximidade nos permite fazer algumas admoestações...
Hoje, estamos comemorando o encerramento da missão original que a Universidade se comprometeu a cumprir com vocês.
Ei-los prontos, Bacharéis em Direito, nossos colegas, que, depois dos festejos, farão concursos ou o Exame da OAB – e passarão! – assumindo as várias carreiras especializadas que o conhecimento jurídico proporciona.
Se não há uma receita de bolo para a vitória, pois o toque pessoal e o perfil de cada um mostrarão o caminho a ser trilhado, ouso trazer alguns ingredientes que nos parecem essenciais para qualquer êxito legítimo: Determinação, Estudo, Fé e Esperança.
Como escrevi neste belíssimo convite de formatura de vocês (há muito tempo não vejo fotografias tão bonitas em uma mensagem jurídica!):
“DETERMINAÇÃO é a filha mais querida da fé com o esforço;
é a irmã da esperança; mãe da realização;
é DETERMINAR a AÇÃO que se tem em mente
para construir o resultado almejado,
ainda que todas as portas queiram se fechar;
é simplesmente desconhecer (ou desprezar)
o significado da palavra “impossível”
e acreditar que todo sonho é apenas o início da realidade...

Todo esforço vale a pena.
Se de tanto andar, começa-se a blasfemar contra o horizonte, por este nunca ser alcançado, é preciso continuar no esforço, mas repensar a atuação, pois talvez a função do horizonte não seja ser alcançado, mas sim fazer andar.
E nesta caminhada, não há melhor caminho, estreito e reto que leva à salvação, do que o ESTUDO.
Trata-se do melhor diferencial ético que pode existir na nossa atividade.
Se é fato que os ímpios prosperam, que os sepulcros caiados e parasitas do Direito às vezes alcançam altas instâncias, nada é mais certo de que, com o estudo constante, também é possível triunfar na área jurídica.
É preciso ler, escrever, aprender e pensar a nossa realidade, para transformá-la em algo melhor e mais digno.
Não dá para viver carregando um verdadeiro manual de instruções dentro de um código... Quem tem vergonha não envergonha os outros. Enganar-se é pior do que enganar a comunidade...
Isso porque não há julgamento pior do que o julgamento de nossa consciência...
E aí é que a FÉ nos dá novo impulso.
É preciso ter fé não somente na nossa relação com o divino, mas sim, calcado nela, consigo mesmo, com as instituições, com o Direito e com a Justiça.
Por mais heterodoxa que seja a crença de cada um, não vale a pena adorar um Deus que se alegre com a iniquidade, que patrocine a injustiça, que estimule a guerra, a violência e a morte.
E acreditando em um DEUS JUSTO – palavra tão importante para nós – é preciso ter ESPERANÇA para combater o bom combate, cumprir a carreira e guardar a fé.
Mesmo que seja necessário morrer por isso...
E isso, lamentavelmente, não é mera retórica...
Enquanto se mata um Juiz em Presidente Prudente, um Presidente Imprudente lança o mundo em uma guerra insana, talvez numa concepção freudiana de realizar aquilo que seu pai não conseguiu.
Na busca por Petróleo, quer nos transformar em fósseis...
E na estupidez de seu discurso hipócrita, defende que bombardear é um ato de luta por liberdade... Custe o que custar, até mesmo rasgar todos os tratados internacionais sobre a matéria, contestam a autoridade de todos os países que participam da ONU, que deveria se transformar numa reunião de comadres ou de vaquinhas de um presépio no Texas...
Como li outro dia, na internet, se perguntar não ofende: “De quanto tempo o mundo precisou para concluir que Adolf Hitler era um psicopata?"

Em que pese tudo isso, não é porque se vê um mundo de podridão que devemos acreditar que tudo deva ser sempre assim.
Não, definitivamente não.
As rosas nascem na lama... E o Lótus sobrevive dela...
Os sonhos sobrevivem aos bombardeios...
A boca fala do que o coração está cheio
E o meu está cheio de amor e esperança.
Mesmo tendo sentido, no fundo da alma, a tristeza do filho que não vê o último suspiro do pai e a tristeza do pai que perde seu filho sem conhecer seu rosto.
Pedindo perdão pelo bordão, realmente, enquanto há vida, há esperança...
Como sempre gosto de repetir, se há um direito verdadeiramente inalienável é o de ter esperança!

“And you may say I’m a dreamer, but I’m not the only one
I hope someday you’ll join us and the world will be as one”

E você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único
Eu espero que, um dia, você nos acompanhe e o mundo será como um só.

Meus afilhados, ao sair para o mundo do Direito, sejamos como um só.
Parabéns pela formatura! Jesus os abençoe!

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