domingo, 10 de agosto de 2014

Confissões



Confissões

                        
William Douglas, 25.11.13, 10h.

Não se engane com meu jeito educado e
gentil.
Nem sempre fui assim.  Eu já
matei um homem.
Cristo morreu pelos meus pecados.
Aliás, pelos nossos. E eu não desperdicei
aquele sacrifício:
ao menos por mim, aquele sangue não foi em
vão.
Nunca entendi a maior parte das coisas sobre
Ele, mas sei que
sua vinda mudou minha história.
O cristianismo, por culpa minha, ainda não
fez de mim um bom cristão,
mas já me tornou muito menos ruim do que eu
seria sem ele.
Este homem disse que minha vida é mais do
que meus bens,
que qualquer flor se veste melhor do que com
Gucci ou Gabbana,
Versace ou Dior. Qualquer lírio do campo
está na moda, sempre.
E sussurou que não adianta ganhar o mundo
inteiro e perder a alma.
Este homem, que eu mesmo matei com meus
pecados, e diz que
amar me torna invencível; servir, grande;

ser fraco me torna forte; dizer “não”,
íntegro.
Esse homem que aceita adoração e lava os
pés dos outros me enlouquece:
ele diz que quando julgo, me julgo antes, que
ao perdoar também antes me perdoo,
me fala para oferecer a outra face a quem me
fere, e a andar a milha extra.
E me diz que está sempre à porta, batendo,
para me convidar para jantar.
Nunca vou entender esse Deus que se mata, ou,
como disse Calvino,
que “se tornou  filho dos
homens para os homens se tornarem filhos de
Deus”.
Eu nunca vou entender esse homem que diz para
eu me negar a mim mesmo e tomar uma cruz, justo ele, que em
um mundo de hipocrisias primeiro me tomou a minha.


Receio que nunca irei entender quase nada,
mas sei duas coisas:
sei que ele me amava antes de eu me tornar
visível para os outros, e que matei esse homem.



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