terça-feira, 31 de agosto de 2010

Morrer é Doce!

Morrer é Doce!
Rodolfo Pamplona Filho

Quando em meu peito, romper-se a corrente
Que a alma me prende à dor de viver
Não quero por mim, nem uma lágrima,
Nem um suspiro, nem um sofrer...
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu passamento.
Não quero que um sorriso
Se apague pelo fim do meu triste tormento!

Viver foi peregrinar no deserto,
Procurando achar o que não estava escondido,
viver foi submergir no tédio,
Tentando encontrar o que já estava perdido
Quando se esgotar o meu suspiro,
Não desfolhe por mim sequer uma flor!
Não tornai outro ente matéria inútil.
Sozinho, da morte, deixai-me o torpor!

No meu epitáfio, escrevas:
Foi homem e, pela vida, passou
Como nas horas de um pesadelo
Que só, com a bela senhora, acordou

Descansem meu leito solitário
À sombra de um triste cipreste,
Numa floresta há muito esquecida
Onde não usurpem o que ainda me reste.
Este parece ser meu desejo final
Neste esperado momento de verdade nua.
Eis-me pronto para beijar a bela senhora
E ver como a morte é doce e crua!
(1989)

6 comentários:

  1. Não gosto muito do tema "Morte", pois apesar de não temê-la, não me imagino lidando com a passagem de pessoas queridas, mas diante de tão lindo poema, impossível não elogiá-lo (mais uma vez) por essa sensibilidade e por fazer de um tema tão inóspito, algo lindo!
    Se assim como o senhor, eu tivesse a perspicácia de compor um lindo poema sobre a morte e ditar o meu epitáfio, gostaria que tivesse algo mais ou menos assim: "Aqui jaz uma menina que, apesar de simples, foi imensidão".
    Obrigada por nos encantar com a sua sensibilidade, amado! O seu blog é referência de leitura para todos! Te adoro!

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  2. Quantas figuras teus versos me inspiraram . Os contrapontos contidos neles . Posso versejar as idéias que se moveram em mim?

    Viver e partir
    abrir a grande e misteriosa porta
    e não poder voltar

    Morrer e partir
    abrir a grande e generosa porta
    e não poder voltar

    Estou só para considerar se a ponte entorta
    balança ou me suporta
    enquanto a alma me sorri absorta

    a olhar a vontade com desenvoltura
    criar uma trama de outra tessitura
    escoltada por puros desejos antigos
    adormecidos pelo trabalho da memória

    apta por andar nas pernas de outra estória

    Encontrar um ombro amigo,
    desejo
    no luto rouco de corações amados,
    eu vejo
    a cara conversa de velhos conhecidos

    Hei de constatar a chave de ter entendido
    que partimos o tempo todo
    porquanto somos números inteiros

    Tecemos rumos de janeiro a janeiro
    deciframos rotas e antevemos prumos
    por que não podemos voltar

    Nossas vontades terão frutos
    na medida em que sejamos amados
    se porventura continuarmos
    se houver perseverança e muito trabalho
    de cultivar fortes ligaduras
    mais que molduras
    mais que retratos surdos

    Seremos saudade na dor sepulcral
    se passarmos ao largo do que é real

    pois partimos o tempo todo
    e não podemos mais voltar

    assim como parte a tristeza
    na parte em que me conciliei com a dor
    amei seu ritmo, movimento e sua cor
    e entendi que partimos para não mais voltar
    a sofrer no mesmo lugar
    pois a vida para , mas não para o amor

    Leila Brasil

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  3. Queridas Cau e Leila

    Estes versus foram Escritos em 1989, quando eu tinha 16/17 anos e estava profundamente encantado com Alvares de Azevedo e a segunda fase do romantismo brasileiro...
    Cheguei a musica-lo, junto com meu colega Daniel Guedes, do Vieira, mas, infelizmente nunca gravamos...
    O tema é inesgotavel na poesia, por tudo que significa, nao e memo?
    Bus,
    RPF

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  4. Leila

    Lindo!
    Mande-me o poema na integra para rpamplonafilho@uol.com.br que publicarei de forma autonoma aqui no blog, ok?
    Bjs,
    RPF

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  5. Lindo poema, ainda mais vindo de um menino doce! "Morrer faz parte do viver"... "O que morre é o organismo, não a vida!

    Um abraço

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