Morrer é Doce!
Rodolfo Pamplona Filho
Quando em meu peito, romper-se a corrente
Que a alma me prende à dor de viver
Não quero por mim, nem uma lágrima,
Nem um suspiro, nem um sofrer...
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu passamento.
Não quero que um sorriso
Se apague pelo fim do meu triste tormento!
Viver foi peregrinar no deserto,
Procurando achar o que não estava escondido,
viver foi submergir no tédio,
Tentando encontrar o que já estava perdido
Quando se esgotar o meu suspiro,
Não desfolhe por mim sequer uma flor!
Não tornai outro ente matéria inútil.
Sozinho, da morte, deixai-me o torpor!
No meu epitáfio, escrevas:
Foi homem e, pela vida, passou
Como nas horas de um pesadelo
Que só, com a bela senhora, acordou
Descansem meu leito solitário
À sombra de um triste cipreste,
Numa floresta há muito esquecida
Onde não usurpem o que ainda me reste.
Este parece ser meu desejo final
Neste esperado momento de verdade nua.
Eis-me pronto para beijar a bela senhora
E ver como a morte é doce e crua!
(1989)
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Não gosto muito do tema "Morte", pois apesar de não temê-la, não me imagino lidando com a passagem de pessoas queridas, mas diante de tão lindo poema, impossível não elogiá-lo (mais uma vez) por essa sensibilidade e por fazer de um tema tão inóspito, algo lindo!
ResponderExcluirSe assim como o senhor, eu tivesse a perspicácia de compor um lindo poema sobre a morte e ditar o meu epitáfio, gostaria que tivesse algo mais ou menos assim: "Aqui jaz uma menina que, apesar de simples, foi imensidão".
Obrigada por nos encantar com a sua sensibilidade, amado! O seu blog é referência de leitura para todos! Te adoro!
Quantas figuras teus versos me inspiraram . Os contrapontos contidos neles . Posso versejar as idéias que se moveram em mim?
ResponderExcluirViver e partir
abrir a grande e misteriosa porta
e não poder voltar
Morrer e partir
abrir a grande e generosa porta
e não poder voltar
Estou só para considerar se a ponte entorta
balança ou me suporta
enquanto a alma me sorri absorta
a olhar a vontade com desenvoltura
criar uma trama de outra tessitura
escoltada por puros desejos antigos
adormecidos pelo trabalho da memória
apta por andar nas pernas de outra estória
Encontrar um ombro amigo,
desejo
no luto rouco de corações amados,
eu vejo
a cara conversa de velhos conhecidos
Hei de constatar a chave de ter entendido
que partimos o tempo todo
porquanto somos números inteiros
Tecemos rumos de janeiro a janeiro
deciframos rotas e antevemos prumos
por que não podemos voltar
Nossas vontades terão frutos
na medida em que sejamos amados
se porventura continuarmos
se houver perseverança e muito trabalho
de cultivar fortes ligaduras
mais que molduras
mais que retratos surdos
Seremos saudade na dor sepulcral
se passarmos ao largo do que é real
pois partimos o tempo todo
e não podemos mais voltar
assim como parte a tristeza
na parte em que me conciliei com a dor
amei seu ritmo, movimento e sua cor
e entendi que partimos para não mais voltar
a sofrer no mesmo lugar
pois a vida para , mas não para o amor
Leila Brasil
Queridas Cau e Leila
ResponderExcluirEstes versus foram Escritos em 1989, quando eu tinha 16/17 anos e estava profundamente encantado com Alvares de Azevedo e a segunda fase do romantismo brasileiro...
Cheguei a musica-lo, junto com meu colega Daniel Guedes, do Vieira, mas, infelizmente nunca gravamos...
O tema é inesgotavel na poesia, por tudo que significa, nao e memo?
Bus,
RPF
Leila
ResponderExcluirLindo!
Mande-me o poema na integra para rpamplonafilho@uol.com.br que publicarei de forma autonoma aqui no blog, ok?
Bjs,
RPF
Lindo poema, ainda mais vindo de um menino doce! "Morrer faz parte do viver"... "O que morre é o organismo, não a vida!
ResponderExcluirUm abraço
Valeu, querida amiga!
ExcluirAbraços saudosos,
RPF