sábado, 27 de julho de 2019

Clareza



Rodolfo Pamplona Filho

Clareza é sempre um “posterius”:
nunca um “prius” na interpretação
Todos carregamos pré-compreensões,
algumas controláveis; outras não.

Salvador, 20 de outubro de 2018.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Se o meu pai fosse meu filho...





Adriano Deiró


Quando vejo tudo nos trilhos, me pergunto como teria sido, se o meu pai fosse meu filho...

Como partido, ele haveria tido um avô amoroso e bem estabelecido...

Uma avó cheia de alegria, que dá cambalhota e faz estripulia...

Uma mamãe 'molinha', que sorri, acaricia e conta historinha...

Isso tudo me faz pensar, amar e entendê-lo, sem condicionar...

Como teria sido a sua história? Guardo em memoria, gratidão à sua improvável vitória.
 
Não teria apanhado...e talvez tivesse jogado em muitos outros gramados...

Teria sido criança, teria feito lambança, sem ter tido de si roubada a infância...

Não teria passado fome, andado desconfiado, ou tido algum dia, seu samba discriminado...

Tido seu próprio sapato, não seria jamais emprestado, sobretudo calçado apertado.

Questioná-lo, ficou no passado!

Por este calo, todo o meu apreço, recompensa que nunca me esqueço...
A que me permite ser pai de um guri, tal qual o meu nunca teve pra si.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Toda dor passa




Rodolfo Pamplona Filho

Toda dor passa
A única coisa que fica na vida
são as lembranças de bons momentos
Então tente ter
mais momentos bons
do que ruins

Salvador, 18 de julho de 2018.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

A Arte Grita



Adriano Deiró

A arte grita em tempos sombrios
E o que fazer, senão ser garganta...
que gritando se agiganta,
e causa até arrepios,
contra seres tão vazios,
contra o mal que se levanta?

Me junto ao povo que grita,
à menina que anda aflita
por ser apenas quem é.
Já que a mais ninguém interessa,
se ela é Maria ou se é José.

A cada esquina um extinto
e templos cheios demais.
Fossem cristãos, só um quinto,
sem máscaras teatrais,
não haveria um faminto.
Viveríamos em paz

São missionários de índio,
só vivem em busca de mais.
Marginalizam o cachimbo
e o constrangem desde o início
a negar os seus ancestrais.

Vendem caro o perdão
E só lhe têm compaixão
Ou só lhe entregam o pão
da divina comunhão
se houver a confissão:
O seu deus é mais!!

Mas a arte é audaz
Resgata até capataz
e nem sempre passeata é capaz
Sigo garganta e levanto o cartaz...
Preconceito, jamais!

terça-feira, 23 de julho de 2019

Medo de Viver



Rodolfo Pamplona Filho

A vida pode estar te esperando
em algum beco no caminho
e o sofrimento sempre fará parte
em qualquer trilha que decida seguir:
ou você se junta a ele e se acomoda
ou luta para sobreviver,
pois, maior do que qualquer dor,
é o medo paralisante de viver!
Lembre-se:
A vida pode estar te esperando

Salvador, 29 de julho de 2018.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

O teu riso



Pablo Neruda

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

domingo, 21 de julho de 2019

Complacente



Rodolfo Pamplona Filho

Nem tudo que parece é
Nem toda afirmação
é uma resposta
a uma pergunta.
O mundo é muito mais complexo
do que se busca o nexo
de posturas que se espera.
Por vezes, tudo não passa
de uma estranha pirraça
de nossos próprios corpos.
Afinal, o que se busca
não é o renovar de cada dia?
Então, solução melhor não haveria
do que o prazer recorrente
de um hímen complacente.

Salvador, 27 de julho de 2018.