sábado, 6 de janeiro de 2024

Incertezas



Rodolfo Pamplona Filho


Será que a nossa poesia algum dia cessará?

Será que o amor mais puro já vivido terminará?

Arrepio-me só de cogitar

a possibilidade disso se realizar...


Incertezas quanto ao futuro

Insegurança com o presente

Tristeza ao lembrar o passado

e quanto tempo perdemos

em caminhos que insistiam

em não se cruzar...


Meu maior medo não é

deixar de te amar,

pois isso jamais ocorrerá...

Minha ansiedade é perder

o desejo, o amasso,

o frio na barriga

pelo contato de um abraço...


Temo...

Tremo...

Choro...

Morro...


Mas sigo na esperança

de que o que é eterno

nunca se apaga...


San Francisco, 28 de setembro de 2010.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Amiga




 Florbela Espanca



Deixa-me ser a tua amiga, Amor,

A tua amiga só, já que não queres

Que pelo teu amor seja a melhor

A mais triste de todas as mulheres.



Que só, de ti, me venha magoa e dor

O que me importa a mim? O que quiseres

É sempre um sonho bom! Seja o que for,

Bendito sejas tu por mo dizeres!



Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...

Como se os dois nascessemos irmãos,

Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...



Beija-mas bem!... Que fantasia louca

Guardar assim, fechados, nestas mãos,

Os beijos que sonhei pra minha boca!...


quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Poliamorismo

 



Rodolfo Pamplona Filho




Por que não se pode

amar mais de uma pessoa

ao mesmo tempo?

Por que o ato de amar

exige uma exclusividade artificial,

como se o coração pudesse

ser controlado como

um bicho de estimação?


Para alguém ser completo,

é possível que haja mais de uma peça

para formar um todo,

que não é um quebra-cabeça,

mas, sim, um complexo prisma,

cujas faces são complementares,

não havendo verdade ou mentira,

pois tudo dependerá do ângulo que se mira...


Eu quero amar você eternamente,

mas não quero deixar de amar ninguém...

Eu quero ficar com você o resto da vida,

mas isso não significa viver só a dois...

Meu amor não é uma cabine simples,

com apenas dois lugares:

é um mar com vários ecossistemas,

uma galáxia com diversas estrelas...


Eu não quero a clandestinidade

de viver um amor marginal...

Quero uma relação de maturidade

em que haja entrega total,

sem a ilusão da única cara metade,

vivendo o múltiplo afeto da vida real.


San Francisco, 28 de setembro de 2010.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Desejos vãos




Florbela Espanca


Eu queria ser o Mar de altivo porte

Que ri e canta, a vastidão imensa!

Eu queria ser a Pedra que não pensa,

A pedra do caminho, rude e forte!



Eu queria ser o sol, a luz intensa

O bem do que é humilde e não tem sorte!

Eu queria ser a árvore tosca e densa

Que ri do mundo vão é ate da morte!



Mas o mar também chora de tristeza...

As árvores também, como quem reza,

Abrem, aos céus, os braços, como um crente!



E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,

Tem lágrimas de sangue na agonia!

E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...



terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Desejo...




Rodolfo Pamplona Filho



Quero sorrir!

Quero ver você vir!

Quero ter você e sentir!

Quero amar você e dormir...

...quero sumir?

...quero sumir...

...somente enquanto você não está aqui!


Salvador, 06 de dezembro de 2010

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

O meu impossível

 



Florbela Espanca


Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,

É um brasido enorme a crepitar!

Ânsia de procurar sem encontrar

A chama onde queimar uma incerteza!



Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa

É nada ser perfeito. É deslumbrar

A noite tormentosa até cegar,

E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...



Aos meus irmãos na dor já disse tudo

E não me compreenderam!... Vão e mudo

Foi tudo o que entendi e o que pressinto...



Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora

Contar, não a chorava como agora,

Irmãos, não a sentia como a sinto!...


domingo, 31 de dezembro de 2023

Pants dry, trees die




Rodolfo Pamplona Filho




People live without thinking

‘cause thinking isn’t a life’s condition.

Why do we have to live

as the world won’t survive

after we perish?


Why do we have to use

all the water that we have acess?

Why do we have to use

all the light that we produce?

Why do we have to use

paper that destroys a florest?


Pants dry, trees die...

Better fight for a clean Sky...

There’s no way to get out

when life wants to shout!


San Francisco, 29 de setembro de 2010.