sábado, 2 de setembro de 2023

Toxicidade

 


 

Quando o cavalheirismo

e a empatia se tornam

sinais de machismo estrutural

Quando a convivência

e a camaradagem se tornam

prova de assédio

Quando a verdade

e a transparência se tornam

motivos para stress,

é hora de identificar

a toxicidade nos relacionamentos.

 

Salvador, 08 de agosto de 2023.


sexta-feira, 1 de setembro de 2023

A Menina do WhatsApp

 



 

A menina do WhatsApp aparece

quando eu não posso

e, quando eu posso,

ela desaparece

 

A menina do WhatsApp me promete

o céu na terra,

mas, quando chega,

só há o cansaço…

 

A menina do WhatsApp diz que me ama

e que me quer inteiro,

mas, na hora da cama,

é só fogo de palha

 

A menina do WhatsApp parece tão real

quanto qualquer ser humano,

mas, no final,

é apenas fake news…

 

Salvador, 10 de agosto de 2023.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Poliamorismo

 








Rodolfo Pamplona Filho


Por que não se pode

amar mais de uma pessoa

ao mesmo tempo?

Por que o ato de amar

exige uma exclusividade artificial,

como se o coração pudesse

ser controlado como

um bicho de estimação?


Para alguém ser completo,

é possível que haja mais de uma peça

para formar um todo,

que não é um quebra-cabeça,

mas, sim, um complexo prisma,

cujas faces são complementares,

não havendo verdade ou mentira,

pois tudo dependerá do ângulo que se mira...


Eu quero amar você eternamente,

mas não quero deixar de amar ninguém...

Eu quero ficar com você o resto da vida,

mas isso não significa viver só a dois...

Meu amor não é uma cabine simples,

com apenas dois lugares:

é um mar com vários ecossistemas,

uma galáxia com diversas estrelas...


Eu não quero a clandestinidade

de viver um amor marginal...

Quero uma relação de maturidade

em que haja entrega total,

sem a ilusão da única cara metade,

vivendo o múltiplo afeto da vida real.


San Francisco, 28 de setembro de 2010.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Apoteose



 Tavares Bastos




Senhora, estes meus versos eram cheios

De tenebrosos, místicos pecados,

Porém já foram todos comungados

Com a hóstia santa dos teus níveos seios!



E assim por essa luz iluminados

Apagaram-se os tristes devaneios

Que os maculavam de cruéis anseios,

Brumando-os de negrores mascarados!...



E já que os leste, minha santa amada,

Rasga-os agora: quero estrangulada

Minh'alma ver em tuas mãos de neve!...



E então, que este prazer ainda eu goze,

Erguendo novamente uma ara leve


Para fazer-te nova Apoteose!...


terça-feira, 29 de agosto de 2023

O Dia




Rodolfo Pamplona Filho


É hoje o dia!

E o sangue dá nova pulsada

como um atleta de corrida...

Será que, antes da chegada,

já será despedida?


É hoje o dia!

E a ansiedade

toma todo o corpo,

como se a vontade

aproximasse o porto...


É hoje o dia!

Mas que desespero!

A cada minuto de espera,

tenho um pesadelo

de que serei esquecido na terra...


É hoje o dia!

Tenho a esperança

de que tudo vai dar certo

toda vez que vem a lembrança

de que o momento está perto!


É hoje o dia!

Recebi a confirmação

de que não houve desistência,

o que faz meu coração

renovar sua resistência!


É hoje o dia!

É agora a hora!

Por isso, sem demora,

farei o que sempre quis:

apenas ser feliz.


Salvador, 26 de agosto de 2011.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Busque Amor novas artes, novo engenho





Busque Amor novas artes, novo engenho


Pera matar-me, e novas esquivanças,


Que não pode tirar-me as esperanças,


Que mal me tirará o que eu não tenho.




Olhai de que esperanças me mantenho!


Vede que perigosas seguranças!


Que não temo contrastes nem mudanças,


Andando em bravo mar, perdido o lenho.




Mas, enquanto não pode haver desgosto


Onde esperança falta, lá me esconde


Amor um mal, que mata e não se vê,




Que dias há que na alma me tem posto


Um não sei quê, que nasce não sei onde,


Vem não sei como e dói não sei porquê.



Luís de Camões

domingo, 27 de agosto de 2023

Morrer é Doce!






Rodolfo Pamplona Filho


Quando em meu peito, romper-se a corrente

Que a alma me prende à dor de viver

Não quero por mim, nem uma lágrima,

Nem um suspiro, nem um sofrer...

Não quero que uma nota de alegria

Se cale por meu passamento.

Não quero que um sorriso

Se apague pelo fim do meu triste tormento!


Viver foi peregrinar no deserto,

Procurando achar o que não estava escondido,

viver foi submergir no tédio,

Tentando encontrar o que já estava perdido

Quando se esgotar o meu suspiro,

Não desfolhe por mim sequer uma flor!

Não tornai outro ente matéria inútil.

Sozinho, da morte, deixai-me o torpor!


No meu epitáfio, escrevas:

Foi homem e, pela vida, passou

Como nas horas de um pesadelo

Que só, com a bela senhora, acordou


Descansem meu leito solitário

À sombra de um triste cipreste,

Numa floresta há muito esquecida

Onde não usurpem o que ainda me reste.

Este parece ser meu desejo final

Neste esperado momento de verdade nua.

Eis-me pronto para beijar a bela senhora

E ver como a morte é doce e crua!

(1989)