sábado, 10 de dezembro de 2022

Ah destino!

 



Aíla Sampaio




enquanto te debulhas em marcar

o meu próximo passo,

um pássaro me oferta suas asas

e o sol arrefece seus raios

para me ver alçar vôo.


E quando penso que enfim driblei

a tua fúria, tu, agasalhado na

imponderável sina, não respeitas

o meu desejo de rasgar as distâncias.

Ris da minha pretensão de querer

arrebentar as amarras

e astuciosamente planejas a minha queda.


E tão bruscamente me fazes enxergar

que era de crepom o pássaro e inconsistentes

as asas, que esqueço de te condenar

e me censuro por sonhar tão alto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Hitler, meu filho!

 




Rodolfo Pamplona Filho


Se eu pudesse

Voltar atrás

E tentasse alterar

O meu passado,

Meu espírito teria paz

E meu destino seria mudado?

Se eu tivesse abortado meu filho,

Minha agonia teria fim?

Que seria do meu próprio íntimo,

Se eu matasse um pedaço de mim?


Gerei em meu útero

Um anjo louco

E nas minhas veias,

Eu me dei para ele,

Mas todo o sangue foi pouco

Para matar sua sede!

O meu corpo era árvore da vida,

Mas meu fruto semente da dor!

Como dói essa minha ferida

De não ter ensinado o amor!


Quantos inocentes

Sofreram por sua mão?

Quantas crianças

Por sua causa, morreram em vão?

Quantas crianças,

Pelo seu ódio, morreram em vão?


Amor materno

Com repúdio!

Sanidade mesclada

Com distúrbio!

Será que eu devia

Ter dito Não?

Será que eu devia

Ter dito Não?

Não!

Não!

Pois até os carrascos têm uma mãe!

... até os carrascos têm uma mãe!


(1991)

Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Jorge Pigeard

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

O Tempo

 




Patricia Tenório


A grande verdade descortina em azul

E a cor dos teus olhos esvaece

No horizonte perdido dos meus dias

Sozinhos.


Na áurea da juventude esquecida

Nos poucos rubros que escondo

No rosto exposto que vejo

Na flor que murcha e se esquece.


E tudo o que fui me aparece

A tela pintada se agita

Vendo a distância construída

Na efêmera fumaça perdida.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Pedido

 



Rodolfo Pamplona Filho


Deixa eu ser seu professor

e ensinar tudo de valor

que a vida pode proporcionar

para quem não teme tentar...


Deixa eu ser seu companheiro

e construir uma história por inteiro,

vivendo de Janeiro a Janeiro,

sem medo de fugir do cativeiro.


Deixa eu ser seu parceiro

e buscar seu sucesso primeiro,

na certeza do seu imenso talento

que alcançará qualquer intento!


Deixa eu ser seu homem

e ver que os medos somem,

quando se descobre alguém

que vai cuidar de você também...


Deixa eu ser seu amor

para viver eternamente seu calor

e nunca mais chorar sozinho

ou perder o meu caminho...


Praia do Forte, 18 de agosto de 2011.


terça-feira, 6 de dezembro de 2022

A tesoura de Toledo

 




Murilo Mendes


Com seus elementos de Europa e África,

Seu corte, inscrição e esmalte,

A tesoura de Toledo

Alude às duas Espanhas.

Duas folhas que se encaixam,

Se abrem, se desajustam,

Medem as garras afiadas:

Finura e rudeza de Espanha,

Rigor atento ao real,

Silêncio espreitante, feroz,

Silêncio de metal agindo,

Aguda obstinação

Em situar o concreto,

Em abrir e fechar o espaço,

Talhando simultaneamente

Europa e África,

Vida e morte.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Priscas Eras

 



Rodolfo Pamplona Filho


Datilografia na época do PC

Lado B na época do CD

Limpar cabeçote em DVD


Comprar na Mesbla ou Sandiz

Ouvir compacto ou LP

Trocar o tubo da TV


Trocar agulha de radiola

Rodar a fita cassete

Gravar o arquivo em disquete


Andar de Fusca ou Fiat 147

Limpar carburador

Usar estilete como apontador


Ergométrica em vez de spinning

Telex para quem tem fax

Bip em vez de Torpedo


Passar creme rinse

Usar relógio-calculadora,

Jogar Odyssey ou Atari


Viajar de Vasp ou Transbrasil

Embalar saco de “Paes Mendonça”

Cair a ficha do orelhão...


Ver Zico jogando no Maraca

Regra de nove, taboada

DNA – data de nascimento avançada


Salvador, 04 de fevereiro de 2010

domingo, 4 de dezembro de 2022

Pranto Para Comover Jonathan

 



Adélia Prado



    Os diamantes são indestrutíveis?

    Mais é meu amor.

    O mar é imenso?

    Meu amor é maior,

    mais belo sem ornamentos

    do que um campo de flores.

    Mais triste do que a morte,

    mais desesperançado

    do que a onda batendo no rochedo,

    mais tenaz que o rochedo.

    Ama e nem sabe mais o que ama.