sábado, 19 de novembro de 2022

Ônus da Prova

 




Rodolfo Pamplona Filho



O que se prova?

Tudo aquilo de que se quer

tirar uma efetiva consequência.

Quem tem de provar?

Todo aquele que pretende 

obter a resposta da providência

Para quem se prova?

Para aquele que pode decidir

o futuro da sua pretensão.

O que se prova?

O fato, o simples fato,

e não a sua convicção.

Como se prova?

Por todos os meios 

que a imaginação

e as regras do jogo

permitirem...

O que é a prova?

Pode ser a verdade

ou uma simples evidência,

desde que, por causa dela,

construa-se uma consciência.

Para o processo,

não existe diferença 

entre verdade e versão,

pressa e pressão,

surra ou sova.

Na loucura da decisão,

o que permite o juiz dormir 

não é a força do sonífero,

mas o desincumbir do ônus da prova.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Tântalos

 




Inácio Raposo


     Não pode ter de certo os olhos sempre enxutos


     Quem sofre qual, no Erebo, o Tântalo maldito:


     Sedento — vê debalde um córrego infinito;


     Faminto — vê debalde os floridos produtos!...



     Ante um castigo tal, que apiedava os brutos,


     Leve talvez pareça um bárbaro delito!...


     Foge sempre a torrente ao mísero precito


     E, se tenta comer, escapam-se-lhe os frutos!



     Há Tântalos também na vida transitória:


     Querem estes a lympha e os pomos do talento,


     E morrem no hospital para viver na história.



     Desditosos que são... no malogrado intento!...


     Longe de haverem ganho os loiros da vitória,


     Encontram no sepulcro o eterno esquecimento!

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Eu digo não!

 




Rodolfo Pamplona Filho


Eu digo não a quem faz corrupção

Eu digo não a quem aumenta o feijão

Eu digo não a quem faz parte do Centrão

Eu digo não a político ladrão

Eu digo não a quem faz nada no Senado

Eu digo não a seu nobre Deputado

Eu digo não ao governador do Estado

Eu digo não a quem põe povo de lado

Eu digo não à União Ruralista

Eu digo não ao Partido Comunista

Eu digo não ao homem do decreto-lei

Eu digo não ao presidente José Sarney


Eu digo não à perda da inocência

Eu digo não a viver em violência

Eu digo não ao rombo da previdência

Eu digo não a esta falta de decência

Eu digo não a quem só sabe mandar

Eu digo não a quem vive a torturar

Eu digo não a quem mata para calar

Eu digo não à ditadura militar


(1987)

Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Rodolfo Pamplona Filho, Cedric Romano e Jorge Pigeard


quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Tietê

 



Ieda Estergilda


No caldo grosso do rio

derramei lágrimas de tristeza e mágoa

pela águas urbanas, paulistanas, devastadas.

Ontem peixes e barcos, hoje leito fedido

na capital

esse rio vive além da lama

dos cadáveres encalhados

dos esgotos que desembocam nele

esse rio em que acredito

pois salvar é coisa dos homens

mesmo que tarde.


Um rio

é uma beleza, um ser

o Tietê é uma beleza ferida

uma ferida que brilha

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Pagar o Pato

 




Rodolfo Pamplona Filho

Pagar o pato 

é uma expressão popular 

na língua portuguesa, 

utilizada no sentido de

 "levar a culpa por algo" 

ou arcar com as consequências 

de determinada situação 

provocada por outra pessoa.



Ser o pato 

é outra expressão 

utilizada para dizer 

que uma pessoa é boba, 

ingênua ou sem coragem. 

Outro uso de "pato" 

é pra falar de alguém 

que seja muito fraca em algo, 

alguém que sempre perde.



Coitado do pato...

É preciso resgatar 

o pato do ostracismo

e promover a sua redenção...

Em épocas de negacionismos

ou de históricos revisionismos,

fica a singela sugestão...



Salvador, 07 de dezembro de 2020.
Política, Revolta, Sociedade






segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O sítio

 



André Carvalheira



Em cada canto da casa,


teu cheiro felino


Em tudo reluz


Nas folhas, teus cabelos embaraçam


No vento, teu som-só sopra prazeres


N'água, teu corpo escorre segredos


Nas pedras, teus pés nus-húmidos gozam


Em cada canto de mim, teu cheiro felino


Em tudo reluz

domingo, 13 de novembro de 2022

Caça às Bruxas

 



Rodolfo Pamplona Filho


Começam queimando livros 


para, depois, queimar pessoas...


Qualquer sinal de divergência 


é duramente repelido


como se a inteligência 


fosse um pecado a ser punido...


Na cabeça dos inquisidores,


é impossível a reflexão,


pois, no universo de seus humores,


não há espaço para a oposição.




Salvador, 01 de fevereiro de 2021.